A primeira passadeira vermelha do ano já foi desenrolada e já há vencedores escolhidos. Numa noite muito dominada pela surpresa na escolha das mulheres vencedoras – com a brasileira Fernanda Torres à cabeça desta eleição dos Globos de Ouro -, os olhares concentraram-se também em Karla Sofia Gascón e Demi Moore.
A primeira perdeu a categoria de melhor atriz em filme musical ou comédia para a segunda, mas está muito longe de ser um segundo lugar sombrio. Pelo contrário! A atriz transgénero Karla Sofia Gáscon, que já tinha vencido em Cannes, vê a sua prestação ser elogiada no filme Emília Perez, um dos grandes vencedores da noite de domingo, 5 de janeiro, em Los Angeles. A película francesa arrecadou, aliás, quatro galardões: Melhor Filme Musical ou Comédia, Melhor Filme em Língua Estrangeira, Melhor Atriz Secundária em filme para Zoe Saldaña e Melhor Canção Original, El Mal.
“Podem prender-nos, bater-nos, mas nunca podem roubar a nossa alma, a nossa existência, a nossa identidade”, afirmou Karla Sofia Gascón
Na estatueta final, Jacques Godiard deu o palco a Karla Sofía Gáscon, que aproveitou o momento para deixar uma mensagem ao mundo sobre a comunidade transgénero. “A luz ganha sempre à escuridão. Podem prender-nos, bater-nos, mas nunca podem roubar a nossa alma, a nossa existência, a nossa identidade”, afirmou a atriz. “Levantem as vossas vozes e digam: sou o que sou, não o que tu queres”, acrescentou.
A atriz Demi Moore, vencedora na categoria de melhor atriz em filme musical ou comédia fez um dos discursos mais longos e emotivos da noite. “Estou em choque”, disse a veterana. “Faço isto há 45 anos e esta é a primeira vez que recebo alguma coisa como atriz”, sublinhou.
Moore interpreta Elisabeth Sparkle em A Substância, que tem um dos argumentos considerados mais inesperados do ano. A atriz, com 62 anos, aceitou este papel numa altura em que estava praticamente a desistir da carreira. “Há 30 anos, um produtor disse-me que eu era uma atriz de pipocas (…) Percebi isso como significando que isto era algo que eu não podia ter, que podia fazer filmes de sucesso e muito dinheiro mas não ter reconhecimento”, afirmou Moore, revelando que viveu esta ideia perniciosa ao longo de décadas de trabalho.
“Faço isto há 45 anos e esta é a primeira vez que recebo alguma coisa como atriz”, revelou Demi Moore no discurso de aceitação do Globo de Ouro
Daí a aceitar dar vida e corpo ao argumento de A Substância não foi preciso muito: “Foi quando estava em baixo que este argumento ousado, corajoso, fora da caixa, absolutamente doido me apareceu. O universo disse-me que eu ainda não estava acabada”, revelou Moore.
A noite dos Globos de Ouro distinguiu ainda o filme O Brutalista, de Brady Corbet como melhor filme dramático, deu a Brady Corbet o globo de Melhor Realização e atribuiu ao protagonista Adrien Brody o prémio de Melhor Ator na categoria de drama. “No centro de O Brutalista está uma história sobre a capacidade humana para a criação”, afirmou Brody, que interpreta o arquiteto húngaro László Tóth na sua fuga para os Estados Unidos após a II Guerra Mundial.
Ele próprio filho de uma húngara que fugiu da Europa pós-guerra, Brody mostrou-se muito emocionado pela vitória, dizendo que deve muito à mãe e aos avós pelo sacrifício que fizeram. “Espero que este trabalho possa elevar-vos e dar-vos uma voz”, afirmou.
O realizador Brady Corbet, que subiu duas vezes ao palco do Beverly Hilton, onde os prémios foram entregues, disse que ganhar tinha muito significado para um filme que até há poucos meses tinha tudo contra ele.
O Brutalista demorou mais de sete anos a ser feito e foi com a A24 e Warner Bros. que se tornou um dos títulos mais cotados do ano. “Obrigado a todos os que apostaram neste filme quando estava a desmoronar-se”, agradeceu Corbet.
Kieran Culkin venceu Melhor Ator Secundário em filme, por A Verdadeira Dor e, na categoria de Melhor Ator em filme musical ou comédia, o galardão foi para Sebastian Stan, por Um Homem Diferente.
Veja a lista de vencedores da noite:
Melhor Realização: Brady Corbet, O Brutalista (A24)
Melhor Argumento: Peter Straughan, Conclave“(Focus Features)
Melhor Filme Dramático: O Brutalista“(A24)
Melhor Atriz em Filme Dramático: Fernanda Torres, Ainda Estou Aqui (Sony Pictures Classics)
Melhor Ator em Filme Dramático: Adrien Brody, O Brutalista (A24)
Melhor Atriz Secundária em Filme: Zoe Saldaña, Emilia Pérez (Netflix)
Melhor Ator Secundário em Filme: Kieran Culkin, A Verdadeira Dor (Searchlight Pictures)
Melhor Filme Musical ou Comédia: Emilia Pérez (Netflix)
Melhor Atriz em Filme musical ou comédia: Demi Moore, A Substância (Universal Pictures)
Melhor Ator em Filme musical ou comédia: Sebastian Stan, A Different Man (A24)
Melhor Filme de Animação: Flow, Gints Zilbalodis (Dream Well Studio)
Melhor Filme em Língua Estrangeira: Emilia Pérez, França (Netflix)
Melhor Canção Original: El Mal, interpretada por Zoe Saldaña, Emilia Pérez (Netflix)
Melhor Banda Sonora: Trent Reznor e Atticus Ross, Challengers (Amazon MGM Studios)
Conquista cinemática e de bilheteira: Wicked (Universal Pictures)
com Lusa