Gonçalo Peixoto leva “vulgaridade sem ser vulgar” à ModaLisboa

Moda Lisboa 2023
Coleção outono-inverno 2022/23 de Gonçalo Peixoto, na ModaLisboa [Fotografia: Rita Chantre / Global Imagens]

Peças marcadas por muita transparência – ou mesmo total -, rendas, veludos, brilhos, correntes, laços que alternavam entre tons mais escuros como vermelho e preto e cores mais garridas como rosa e lilás. Também blazers e puffer jackets oversized contrastaram com vestidos e saias justas, que evidenciavam a silhueta do corpo feminino. Como acessório principal foram escolhidos óculos de sol.

Após o desfile da coleção para o próximo tempo quente, o designer falou ao Delas.pt dos detalhes da nova coleção, dos estados de espírito que o inspiraram a construi-la e do caminho inovador, transgressor e livre que procura traçar na moda.

Gonçalo Peixoto [Fotografia: EPA/ANTONIO PEDRO SANTOS]
Gonçalo Peixoto [Fotografia: EPA/ANTONIO PEDRO SANTOS]
O que quis trazer com esta coleção?

A coleção, que se chama Sometimes I Just Wanna Kiss Girls, é o mote das minhas próximas coleções, ou seja, uma continuação de uma exploração daquilo que é esta frase para mim, que é muito importante na minha marca, que está presente há muitos anos e estampada em todas as minhas T-shirts e logotipos. Esta construção é uma evolução daquilo que sou enquanto criador. Cada coleção é um espelho e, por isso, a que apresentei foi o espelho dos meus últimos seis meses de trabalho, em que hoje chego ao escritório estou mais dark [negro], noutro dia estou mais feliz e, por isso, exponho-me a esta construção de “ok, vou refletir o meu mood”.

E qual foi o seu estado de espírito, nos últimos seis meses, que inspirou esta coleção?

Tenho peças compostas por uma parte de cima das calças de ganga e uma parte de baixo que são feitas em macramé, uma fita com muitos brilhantes e feita à mão… Cheguei ao ateliê e disse: “precisamos de brilho. Falta Gonçalo Peixoto, falta felicidade, falta transparências, falta sexyness.” E comecei a fazer tudo à mão. Pus-me no busto com alguns atilhos em corda com brilhantes cravados e comecei a fazer as peças.

Desfile Gonçalo Peixoto para outono/inverno 22/23 [Fotografia: Rita Chantre / Global Imagens]
Desfile Gonçalo Peixoto para outono/inverno 22/23 [Fotografia: Rita Chantre / Global Imagens]
Desfile Gonçalo Peixoto para outono/inverno 22/23 [Fotografia: Rita Chantre / Global Imagens]
Desfile Gonçalo Peixoto para outono/inverno 22/23 [Fotografia: Rita Chantre / Global Imagens]
A sua inspiração foi, portanto, transparências e brilho?

Sim, é isso mesmo. É transmitir aquilo que sou enquanto criador e pessoa. O brilho, as rendas, a transparência, o sexyness. Trata-se desta vulgaridade sem ser vulgar, desta construção do que é ou não excessivo, desta dualidade. É uma linha ténue que pode ser muita nua ou muito vestida, muito sexy ou pouco sexy, é encontrar um caminho no meio que transmita o que é a história da marca.

Voltando um pouco atrás, referiu que a frase Sometimes I Just Wanna Kiss Girls era o mote das suas coleções e, de facto, afirmou em entrevista recente que a ideia surgiu depois de uma amiga comentar consigo que às vezes desejava gostar de raparigas por estar farta de rapazes.

É verdade, é essa mesma construção. É um mood àquilo que é um mundo hipotético de as mulheres não precisarem de homens, e acho mesmo que não precisam.

Aliás, a frase não é feita no sentido literal e remete para um ambiente transgressor, como também referiu na entrevista.

É uma desconstrução e, por isso, é que costumo dizer que consigo fazer 50 coleções inspiradas no “sometimes i just wanna kiss girls”, porque há muitos caminhos que posso explorar.

Voltando a essa dualidade que fala de haver variedade de peças para todos os gostos, quais são, por exemplo, as três tendências de moda que acha que mais empoderam as mulheres?

Para já, devo dizer que cada um deve ser muito feliz a usar aquilo que gosta. Para a mulher Gonçalo Peixoto se calhar lantejoulas, transparências e minissaias.

Recentemente, voltou a ser comentado um eventual plágio do vestido de verão 2022 que fez para Cristina Ferreira e que replicava, em prateado e com amplas semelhanças, a proposta rosa do designer Peter Dunas e usado por Heidi Klum. Qual foi a sua intenção quando construiu esse vestido e como reage?

Sobre esse assunto não tenho muito mais a acrescentar ao que tinha dito na altura. Foi um pedido especial para uma pessoa muito especial.