Graça Freitas: “Temos de nos condicionar para não fazermos coisas que fazíamos antes”

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[Fotografia: Gerardo Santos/Global Imagens]

A diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, 62 anos, esteve esta segunda-feira, 20 de abril, n’ O Programa da Cristina, na SIC. As críticas, o dia-a-dia, as origens, o gosto pela agricultura e pela arquitetura e até um momento final de emoção foram temas abordados durante a entrevista, bem como a sua escolha pela medicina, “muito por influência das amigas”.

Sobre o regresso à normalidade após o confinamento devido à pandemia do novo Coronavírus – o terceiro Estado de Emergência termina a 2 de maio – Graça Freitas reconheceu a Cristina Ferreira que teme que se cometam erros por falta dos devidos cuidados para evitar a propagação do vírus. “Tenho receio. Tal como é preciso reaprender tudo depois de se partir uma perna, o que demora meses, temos de ter disciplina durante um período das nossas vidas, temos de nos condicionar para não fazermos coisas que fazíamos antes. Temos de manter uma distância segura entre as pessoas, para lá das medidas de higiene (…) É por amor que não nos estamos a abraçar”, pede e responsável.

Já sobre eventuais datas para uma possível normalidade, a diretora recusa antecipar datas: “Não sabemos. Há mais tipos de coronavírus e sabemos que chegam mais no outono e no inverno, sobre este não sabemos ainda nada, é impossível prever como se vai comportar nos tempos mais quentes”, alerta.

As declarações contrárias em épocas distintas do processo e que abordavam a possibilidade de o vírus não chegar a Portugal ou ainda a polémica questão do não uso generalizado de máscaras, medida que tem sido contrariada em múltiplas regiões do Mundo, Graça Freitas reitera: “Teremos de as usar em algumas circunstâncias”, repetindo a necessidade por parte de quem esteja contaminado ou “em locais fechados e onde não seja possível manter o dito distanciamento social”.

A diretora da DGS diz que “é tempo de treinar novas formas de lidar com a realidade tal como quando se parte uma perna e é preciso reaprender tudo durante meses” e pede que o que se mudou com as regras de higienização e de etiqueta social venha para ficar. Pede, também, que “quem tiver oportunidade – mesmo em tempos de confinamento – desça dos seus apartamentos e venha à rua numa hora em que não ande toda a gente na rua”. Aliás, Graça Freitas diz mesmo ser isso que cumpre com a sua mãe. ”Também aí temos de aprender. A minha mãe vai fazer 90 anos. Vou vê-la menos tempo, não a abraço. As pessoas podem fazer isto dentro de casa, ou seja, podemos ver-nos com regras”, vinca.

Numa entrevista de vida, em que a médica abordou as origens em África, o percurso e os seus primeiros anos de profissional de Saúde Pública em Ponto de Sôr, Graça Freitas explicou como tem reagido às críticas: “Como qualquer pessoa exposta está sujeita a isso, tento relativizar. Uns dia reajo melhor, noutros não reajo tão bem, mas de modo geral creio que consigo algum equilíbrio. São críticas que não são fáceis de ouvir, mas também tem havido aspetos positivos. Muita gente, que sem achar que sou perfeita, também acham o mesmo que eu: que estou a tentar fazer um trabalho honesto, um trabalho feito com verdade. Não sou nada dotada para a mentira”,afirmou.

Recorde-se que nesta segunda-feira, 20 de abril, há um registo de 735 óbitos no total, mais 21 vítimas mortais face às últimas 24 horas. Há também registo de 657 novos casos face a domingo, 19 de abril, sendo já 20.863. Quanto aos recuperados, o Relatório da Direção Geral da Saúde indica 610 casos.