Gracias a la vida, Violeta Parra!

Há cem anos nascia em São Carlos na província de Nuble uma flor. Não uma qualquer flor, mas Violeta. A sua vida e obra são (mais) um desmentido categórico de associações infelizes entre a fragilidade das flores e o percurso das mulheres.

Violeta, filha de uma camponesa e de um professor de música, uma entre oito irmãos, viveu na sua infância em várias localidades da região de Chillán no sul do Chile. Desde muito cedo experienciou a música, com 9 anos tocava violão e aos 12 compôs as suas primeiras canções, cantou e tocou com os irmãos em circos e bares. Após a morte do pai partiu para Santiago onde conheceu o pai dos seus três filhos Isabel, Ángel e Luísa, com quem se casaria duas vezes e cuja separação a marcaria profundamente, e por arrasto a sua obra.

Na década de 50 iniciou a pioneira pesquisa às raízes do folclore chileno, registando ritmos, danças e canções populares chilenas, através de uma recolha impressionante, porta a porta, onde chegou a catalogar mais de 3 mil canções tradicionais. Recolha ainda mais impressionante por ter sido há mais de 65 anos num país com a geografia e a história do Chile. Violeta veio a publicar algumas dessas canções no livro “Cantos folclóricos chilenos” e no disco “Cantos campesinos”. Na Rádio Chilena produziu vários programas sobre folclore e manifestações artísticas populares, empenhou-se na criação de um museu de arte popular na Universidade de Concepción. Viajou muito divulgando a cultura chilena, viveu na Argentina e em Paris, tendo sido a primeira artista latino-americana a ter uma exposição individual no Louvre, em 1964.

“Poeta, cantora e compositora, tecelã, compiladora e artista plástica” foi assim apresentada em muitos palcos e ecrãs, porque Violeta Parra é muito mais que a mãe da canção dos oprimidos e explorados, e ter sido “só” isso já não era coisa pouca. Cantou a injustiça social, e com isso e com tantos outros (como Patrício Manns, Rolando Alarcón e Victor Jara), cantou o Chile, a identidade de um povo e a vida nas suas alegrias e agruras. Porque no fim de tudo o que canta um povo senão a vida?

A semana passada, no CCB, sua filha e sua neta (Tita e Isabel), prestaram-lhe homenagem continuando assim o seu trabalho de divulgação da cultura popular chilena. E diz quem viu e ouviu (sei de fonte segura) que foi memorável. No próximo dia 4 de outubro, os El Sur prestarão tributo a Violeta Parra e à sua incrível obra, a partir das 21h30 na Voz do Operário, não percam e agradeçam à vida.

NOTA: A partir do livro de Ángel Parra, Andrés Wood realizou o filme “Violeta se fue a los cielos” de 2011. Vale a pena ver.