Grávidas e crianças forçadas a atravessar o Saara sem água

Migrants
Fotografia: Dani Cardona/Reuters

Grávidas e crianças estão entre os mais de 13.000 migrantes, obrigados pela Argélia, a atravessar o deserto do Saara, sem alimentos e sem água, nos últimos 14 meses.

Segundo a Associated Press, os migrantes foram forçados a percorrer a pé 15 quilómetro até ao Níger e até ao Mali, enquanto outros deambulam pelo deserto até serem encontrados por equipas de resgate das Nações Unidas.

Um grande número de pessoas não sobrevive às caminhadas forçadas, segundo relatos de mais de 24 sobreviventes à agência AP.

Janet Kamara, uma das migrantes que sobreviveu para contar a sua história, relatou à agência que, na altura em quem fez a travessia, estava grávida, mas perdeu a criança e que outra mulher que viajava consigo também tinha perdido o filho, depois de entrar em trabalho de parto durante a caminhada.

Muitas pessoas não resistiram ao caminho. “Mulheres estavam mortas, homens… Outros desapareceram no deserto porque não sabiam o caminho”, contou a migrante, natural da Libéria.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), o número de pessoas que chegou ao Níger a pé aumentou, desde maio de 2017, quando 135 pessoas foram abandonadas no deserto, para 2.888 pessoas em abril deste ano. A OIM estima que um total de 11.276 homens, mulheres e crianças sobreviveram à caminhada desde 2017 e que 30.000 morreram no deserto desde 2014.

Segundo os relatos fornecidos à Associated Press, os migrantes foram metidos em camiões que os levaram, em longas viagens, até a um local conhecido como Ponto Zero, meio do deserto. Aí são obrigados a caminhar no sentido do Níger, algumas vezes sob ameaça de armas.

As expulsões em massa da Argélia aumentaram desde outubro do ano passado, depois de a União Europeia (UE) ter aumentado a pressão aos países norte-africanos para desviarem os migrantes que se dirigiam à Europa.

A União Europeia esteve sempre consciente das ações da Argélia, afirmou uma porta-voz da UE, mas sublinhou que a expulsão de migrantes é permitida desde que seja feita de acordo com a lei internacional.

 

com Lusa

Imagem de destaque: Dani Cardona/Reuters

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