Greve aos trabalhos de casa

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A Espanha é um dos países em que os professores mais passam trabalhos de casa, ocupando aos alunos uma média de 6,5 horas por semana, faca à média de 4,9 horas. Os dados são da Organização para a cooperação e Desenvolvimento (OCDE). Por isso, os pais de crianças que frequentam a escola pública espanhola iniciaram esta semana uma greve de um mês aos trabalhos de casa passados aos filhos, numa iniciativa inédita no país vizinho.
A Confederação Espanhola de Associações de Pais e Mães de Alunos (Ceapa), que representa cerca de 12 mil associações, instou as famílias das várias comunidades autonómicas espanholas a não fazerem os deveres durante os fins-de-semana de novembro.
A Ceapa apresenta vários argumentos para justificar a greve: os trabalhos de casa “invadem o tempo das famílias” e “violam o direito ao recreio, à brincadeira e a participar nas atividades artísticas e culturais”, tal como vem descrito no artigo 31º da Convenção Universal dos Direitos da Criança.


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A confederação distribuiu pelos pais cartas que estes devem entregar nas escolas: na primeira pede-se ao diretor da escola que ordene aos professores que não passe trabalhos de casa em novembro, a segunda é o mesmo pedido, mas feito diretamente ao diretor de turma. A terceira é uma carta dirigida ao professor a explicar-lhe que o aluno não fez os trabalhos devido ao “direito constitucional que as famílias têm de tomar as decisões que considerem oportunas no âmbito familiar, que tem caráter privado, e que a escola não pode invadir”.

“Em virtude dos direitos que me assistem, dei prioridade às atividades familiares, como não podia deixar de ser, e, portanto, os trabalhos de casa não foram feitos”, pode ler-se ainda na carta.

O presidente da Ceapa, José Luís Pazos, declarou ao El Mundo que os pais querem “recuperar o tempo familiar dos fins-de-semana”. “Também queremos que o modelo mude e que se dê um salto qualitativo no sistema educativo. Escolas de outros países funcionam sem trabalhos de casa, sem livros de texto e sem exames e obtêm resultados magníficos”, realçou.


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Vários estudos científicos demonstram que fazer mais trabalhos de casa não melhora, necessariamente, o rendimento escolar. A OCDE alerta, por outro lado, que os trabalhos de casa “reforçam a disparidade socio-económica entre os estudantes” e “aumentam o intervalo entre os ricos e os pobres”.