Guerra ao açúcar em abril. Ao sal e gordura chega depois

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(Foto: Shutterstock)

A Direção-Geral de Saúde (DGS) e a indústria da alimentação vão assinar, a 7 de abril, o protocolo que vai fazer encolher os pacotes de açúcar da restauração. “Pretende-se reduzir a quantidade para 5 a 6 gramas, no máximo, tornando obrigatória a redução da oferta nos locais de consumo”, afirmou o secretário de Estado Adjunto da Saúde, Fernando Araújo, no dia da apresentação do relatório ‘Portugal – Alimentação Saudável em Números 2015″.

O documento pretende levar a indústria e, em sequência, a restauração a cortar para metade a gramagem de açúcar nos pacotinhos que acompanham o café, a reformular os alimentos em parceria com a indústria alimentar. Em abril, deverão, então, ficar especificadas fases e datas para a aplicação destas medidas.

Nas mulheres, a má alimentação é responsável pela perda de 11,96% do total de anos de vida perdidos de forma prematura. Nos homens, o valor sobe para os 15,27%. Resultados que têm por base estudos internacionais

De acordo com os dados apresentados no relatório “Portugal – Alimentação Saudável em Números 2015′, na quinta-feira, 17 de março, os mais novos estão a consumir cada vez menos fruta e hortícolas. De entre os resultados apresentados, Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável destacou, como surpresas, “a incapacidade dos portugueses aumentarem o consumo de leguminosas como grão e feijão, que está no 1, 9 quilos, de estarem a consumir, em média, 25 quilos de açúcar por ano”. A esta realidade junta-se ainda um “decréscimo de leite e derivados na ordem dos 2,6%”.

Responsáveis querem, no máximo, refeições com 2 gramas de sal

Para lá do açúcar, o diretor do Programa Nacional para a Promoção de Alimentação Saudável quer concentrar esforços na redução de sal na alimentação dos portugueses. Pedro Graça revela que foi criado “um grupo de acompanhamento para a reformulação da oferta de sal nos alimentos e queremos trabalhar em dois níveis – indústria e restauração – e identificar quais são os principais fornecedores de sal”, sustenta Pedro Graça.

E o objetivo está delineado e os primeiros resultados devem começar a chegar até ao final deste ano: “A nossa população está a consumir, por dia, per capita, 10,9 gramas de sal, estamos no dobro das recomendação feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Por refeição, queremos estipular valores limite, variáveis em função do prato e dos acompanhamentos, que apontem tendencialmente para um valor abaixo dos 2 gramas”, sustenta Pedro Graça.

O responsável antecipa uma maior dificuldade de intervenção ao nível da restauração, tendo em conta a quantidade de estabelecimentos disponíveis, mas o plano passa por “pedir às associações que representam o setor e os seus associados para, por um lado, promoverem a sensibilização e, por outro, tenham disponíveis aparelhos medidores de sal para que possam fazer o autocontrolo”.

Gorduras trans legisladas e rotuladas

Presente nos alimentos geralmente oriundos da transformação industrial e, por isso, mais baratos, as gorduras trans aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Mas em que alimentos podem ser encontrados estes ácidos gordos? Em bolachas com cobertura, em bolos de pastelaria e também em batatas fritas. “Muitas vezes, a pequena indústria utiliza aquela gordura por ser mais barata. Por isso, é preciso identificar nichos onde ela está mais presente”, alerta Pedro Graça.

O diretor crê que, para diminuir esse consumo, é preciso tomar decisões “educando as pessoas ou legislando, restringindo a oferta a nível público, e até aplicando uma coima”. O secretário de Estado Adjunto não discorda. “É preciso estudar melhor a forma de regular a oferta das gorduras trans“, afirmou no encontro de apresentação dos resultados do relatório. Uma área onde os produtos comercializados em regime de vending (máquinas com comida em troca de moedas) deverá também ser alvo de trabalho em parceria com a indústria alimentar.

Indústria e legisladores ‘abrandam’ semáforos nutricionais
Em dia de apresentação do estudo em torno da Alimentação Saudável, as novas tabelas nutricionais por cores voltaram a estar na ordem do dia. “A DGS já fez uma proposta sobre semáforos nutricionais. Alguma indústria tem colocado alguma oposição, mas acreditamos que, existindo um determinado semáforo, ele vá beneficiar a indústria que cumpre”, justifica Pedro Graça, que diz também esperar, neste processo, por quem faz e aprova leis: “não sou legislador, e este é um processo legislativo que depende dele”.

Para breve, o diretor do Programa Nacional espera que seja “votada em breve”, em sede de especialidade, “a proibição ao marketing de alimentos com grandes quantidades de sal, gorduras e açúcar, limitando a publicitação junto do público infantil”.