Gulbenkian acolhe exposição rara de Maria Antónia Siza

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Um núcleo de 36 obras da artista Maria Antónia Siza (1940-1973), que expôs uma única vez em vida, vai estar patente até outubro na exposição permanente da Coleção Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Artista desconhecida e prematuramente desaparecida, Maria Antónia Siza deixou um legado de mais de 3.000 obras em desenho, guache, e bordados, e só expôs uma única vez em vida, na Cooperativa Árvore, no Porto, em 1970.

Desses trabalhos, na posse do marido, o arquiteto Álvaro Siza, foram doadas recentemente 141 peças à Fundação Calouste Gulbenkian, que selecionou um núcleo para uma galeria da exposição permanente da sua Coleção Moderna.

Contactada pela agência Lusa, Patrícia Rosas, curadora do museu responsável pela apresentação deste núcleo, sublinhou que a artista “produziu muito, num curto período de tempo”, vindo a falecer subitamente aos 32 anos.

Durante a década de 1960, Maria Antónia Siza produziu ativamente numerosas obras sobre papel, bem como uma série de bordados. Alguns destes trabalhos são agora exibidos, pela primeira vez, na Fundação Calouste Gulbenkian.

“Mostramos desenhos em carvão, tinta-da-china, guache, bordados e estudos para bordados, em dois universos muito distintos. O trabalho em desenho a carvão é muito figurativo, e alguns também apresentam traços surrealistas. Os trabalhos a guache são mais expressionistas”, descreveu a curadora.

Patrícia Rosas salientou que Maria Antónia Siza “tinha um traço muito particular, e manteve-se no estilo figurativo, quando a maior parte dos artistas com quem conviveu, como Ângelo de Sousa, Jorge Pinheiro, Armando Alves, entre outros, estavam na abstração”.

Oriunda de uma família conservadora com uma educação religiosa muito forte, a artista inscreveu-se no curso de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto aos dezassete anos, o que lhe proporcionou uma mudança de costumes, sobretudo pelo contacto com aqueles artistas.

O então o diretor da Escola, arquiteto Carlos Ramos, felicitou-a pela qualidade do seu desenho, logo no primeiro ano do curso.

“Ele disse-lhe que ela tinha um traço muito especial e acreditava que ela se tornaria uma artista. Incentivou-a logo de início”, recordou a curadora.

Os trabalhos expostos na Gulbenkian “representam figuras grotescas, provocadoras, perturbantes, contorcidas na cama ou no chão, deitadas, estorcidas, viradas do avesso”.

“São seres de palco, coreografados em grupo, percorrendo, amontoados, a página de papel. Por vezes, erguem-se isolados nos seus pensamentos, perdidos na folha em branco. De um traço único, de um movimento particular, cada personagem representa um encontro com a artista”, descreveu.

A Cooperativa Árvore voltou a exibir obras de Siza em 2002, mas posteriormente só foram apresentadas pontualmente pelo arquiteto Álvaro Siza em Madrid, em Zagreb e, atualmente, até maio, há peças numa mostra em Berlim, na Fundação Tchoban.

 

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