Há ouro e joias no Beato

A Iconic começa esta sexta-feira. A feira de joalharia nacional vai reunir no Convento do Beato, alta joalharia, novos designers e associações do setor num total de 63 expositores. Aos que trabalham o ouro, a prata, as pedras preciosas e as semipreciosas vão juntar-se criadores de moda, artistas e pensadores para um certame que, além de mostrar uma panóplia alargada de joias portuguesas, servirá para dar a conhecer novos conceitos de produção, alargando-se também à moda e ao lifestyle.

Esta primeira edição da Iconic, uma iniciativa da Exponor que sai de Santa Maria da Feira e se estabelece na capital até dia 9 de abril, é subordinada ao tema ‘Girl Power’. Amélia Monteiro, a diretora da feira, explica ao Delas.pt:

“A joalharia é um setor que não pode estar afastada das questões da atualidade. Queremos fazer uma reflexão sobre o papel das mulheres nos negócios, numa atividade onde ainda há uma certa cultura machista”.

De facto, da lista de expositores no evento sobressaem mais nomes masculinos do que femininos. Mas há ventos de mudança no setor. Na Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal (AORP), por exemplo – que estará presente com um espaço expositivo e numa das palestras que terão lugar – a secretaria-geral está entregue a uma mulher e toda a equipa executiva é do género feminino, mesmo se a composição dos órgãos sociais seja maioritariamente masculina.

Amélia Monteiro, diretora da Iconic e da Porto Joia
Amélia Monteiro, diretora da Iconic e da Porto Joia

Na palestra em que Fátima Santos, a secretária-geral a AORP, participará, com a atriz Joana Barrio e a jornalista Catarina Rito, um dos assuntos a problematizar será o papel da mulher não como musa da criação, mas como sujeito de criatividade, agente de negócios e compradora ativa.

Mais compradores para menores valores

A alteração do comportamento do consumidor de joias, em que a mulher-compradora é um aspeto importante, é uma das razões para a realização da Iconic a sul. Amélia Monteiro, que a norte dirige a Porto Joia, refere que há um leque muito alargado de concorrência quando se compara a atualidade com o passado:

“O joalheiro já não compete só com o joalheiro ao lado, com o colega. A concorrência à joalharia é também o setor das viagens, os gadgets. Antigamente dava-se uma joia ou um relógio para agradar. Agora há muito mais escolhas.”

A par desta alteração verifica-se também uma mudança na expectativa de compra. “Antes era um investimento. Uma joia valia o seu valor inerente. Hoje não. O consumidor privilegia o design e os valores da marca.” E embora a diretora da Iconic afirme que a alta-joalharia está de boa saúde, com compradores clássicos que continuam a apostar em peças com mais de 100 gramas de ouro de 18 quilates (o que equivale a 3800 euros) há mais mercado para os que trabalham materiais menos nobres como a prata e as pedras semi-preciosas. E é aqui que o design se torna mais relevante.

Cartaz Iconic2

Um setor em expansão e renovação

Desde que foi criada em 2008, a AORP registou um crescimento de 500% no setor. A mudança dos mercados-alvo das produções foi a chave para o aumento do volume dos negócios do setor. Agora a ourivesaria e a joalharia portuguesa são distribuídas maioritariamente no estrangeiro.

O tecido empresarial da joalharia está a mudar, fator que facilita o processo de internacionalização. Amélia Monteiro refere que se verifica um regresso do interesse pela atividade.

“O setor está a renovar-se. Temos jovens designers, formados por excelentes escolas portuguesas, que entram no mercado de trabalho nas empresas já estabelecidas e outros que formam as suas próprias marcas”.

A inovação que estes jovens designers trazem às produções não esquece, no entanto, o trabalho do ouro especificamente português: “Temos a filigrana que é feita manualmente e que é incorporada nas novas peças. Verificamos que temos designers e fabricantes com conhecimento desta técnica específica e que a incorporam em pequenas abordagens em peças de excelente qualidade”.

Com a Porto Joia a realizar-se logo depois do verão, falta saber por que razão a Exponor quis criar uma feira aparentemente concorrente em Lisboa. Amélia Monteiro afirma:

“A feira quase não tinha visitantes do centro e do sul. Queríamos abrir a um público mais alargado. A intenção é fazer negócios com todo o país”.

Com dois dias só para profissionais do setor (sexta e sábado) e aberto ao público no domingo, a Iconic foi desenhada nas palavras da diretora do evento “com um formato mais apelativo, que se assumisse como um farol de tendências de estilo de vida. As joias não vivem sem moda e fazem parte de um estilo de vida. Foi por isso que quisemos juntar tudo”.