Há cada vez mais pessoas com cancro em Portugal. Segundo o relatório sobre a Incidência, Sobrevivência e Mortalidade, realizado pelo Registo Oncológico Regional do Sul, só nos distritos de Beja, Évora, Faro, Leiria, Lisboa, Portalegre, Santarém, Setúbal e Região Autónoma da Madeira, que reúnem quase metade da população portuguesa, a incidência desta doença aumentou, em média, 17% entre 2001 e 2011.
Ana Miranda, diretora do Registo Oncológico Regional do Sul (ROR–SUL), afirmou que este aumento se deve, sobretudo, à má alimentação. Comem-se mais alimentos processados e fast-food, deixando-se de lado os componentes da dieta mediterrânica, a fruta e os vegetais.
“Agora estamos a sofrer o impacto da alimentação dos anos 80 e 90. Enquanto melhorámos em alguns aspetos, nomeadamente no consumo de alimentos conservados pelo fumeiro, que já não fazem parte da alimentação diária, por outro lado abandonámos toda a parte dos alimentos da alimentação mediterrânica, o consumo da sopa, dos vegetais, das frutas, dos legumes, do feijão, do grão, desse tipo de alimentos que são, de facto, muito bons para o nosso organismo”, explicou a responsável pela maior base de dados de estatísticas oncológicas em Portugal à TSF.
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Os cancros mais comuns em território nacional continuam a ser o da mama, próstata, cólon, traqueia, brônquios, pulmão, estômago e reto.
Número de doentes com cancro vai aumentar ainda mais
Em relação ao relatório, a diretora do ROR-SUL sublinhou a necessidade dos serviços estarem preparados para o aumento do número de tumores. “Dentro de uma ou duas décadas, os casos de tumores vão ser ainda maiores”, afirmou.
Os dados do ROR-Sul indicam que, em 2010, e por 100 mil habitantes, o cancro da tranqueia, brônquios e pulmões matou 1.839 pessoas, o do cólon 1.369 e o do estômago 921.
Em 2011, os tumores da traqueia, brônquios e pulmões foram responsáveis por 1.797 mortos por 100 mil habitantes, o do cólon por 1.335 e o do estômago por 1.008.
Sobrevivência ao cancro da mama, cólon e reto melhorou
Nem tudo são más notícias: há cada vez mais portugueses a sobreviverem ao cancro da mama, do cólon e do reto. Algo que Ana Miranda atribui ao aumento do número de rastreios e aos melhores diagnósticos médicos. No caso concreto do cancro da mama, por exemplo, três anos depois de a doença ser detetada a percentagem de sobrevivência chega hoje aos 87%. Ana Miranda considera que será “muito difícil” melhorar estes valores. “Passámos de 84% para 87% aos três anos”, disse.
Por outro lado, a sobrevivência ao cancro do pulmão é ainda muito baixa, de apenas 14%. Os dados de uma década não apontam para grandes diferenças em relação à sobrevivência, que “é muito pobre”, tendo apenas passado dos 12% para os 14% aos três anos.
Contudo, Ana Miranda está confiante que, “nos próximos anos, com a saída das novas moléculas”, a sobrevivência vá melhorar. Para tal deverão igualmente contribuir as medidas legislativas contra o tabaco.
Segundo Ana Miranda, existem hoje muito menos fumadores passivos, o que deverá seguramente melhorar a taxa de sobrevivência a este cancro.
Na opinião da diretora do ROR–Sul, a sobrevivência ao cancro é “o indicador global da atuação dos serviços de saúde”. Na comparação dessa década, e em relação ao tumor do cólon, cuja sobrevivência é baixa (ronda os 50%), foi registada uma melhoria da sobrevivência aos três anos que, nos mais novos, aumentou de 68% para 79%.
Para Ana Miranda, esta melhoria – que se esbate a partir dos 75 anos – deve-se à sua identificação em estadios mais precoces e também à melhoria da terapêutica. O cancro do cólon passou, em 2010 e 2011, a ser o terceiro com maior incidência na zona sul do país.
No tumor do reto, as melhorias globais foram “substanciais”, passando dos 54% para os 61% aos três anos. “A diferença ainda é melhor nos grupos mais jovens, passando dos 64% para os 78%”, adiantou.