Um elenco só de mulheres garante o desempenho de Hamlet (a), a tragédia de Shakespeare que se estreia a 7 de fevereiro, no palco despojado da Comuna, em Lisboa, numa abordagem que o encenador Hugo Franco quis de “transgressão”.
Maria Ana Filipe (Hamlet), Margarida Cardeal (Cláudio), Diana Costa e Silva (Polónio), Mónica Garnel (Horácio), Tânia Alves (Alertes), Lia Carvalho (Gertrudes) e Custódia Galego (Ofélia) são as mulheres que vão dar corpo à peça Hamlet, que vai estar em cena até 10 de março, com espetáculos de quarta-feira a sábado, às 21:00, e aos domingos às 16:00.
A escolha desta interpretação para a tragédia de Shakespeare surge porque, segundo Hugo Franco, “é um clássico” e porque o encenador “sempre teve a ideia de o fazer desta forma, interpretado só por mulheres”. Franco quer mostrar os sentimentos de “ódio, vingança, amor e paixão”, numa obra em que toda a expressão é “quase em exclusivo dos homens”.
Num cenário despojado de qualquer elemento figurativo, marcado apenas pelo negro que envolve o palco e onde a luminosidade provém apenas do jogo de luzes, Hugo Franco construiu uma tragédia onde não sente faltar qualquer elemento de cenografia. “Temos o necessário para fazer teatro. Temos um palco, as atrizes a representarem bem, a dizerem um texto maravilhoso que tem atravessado estes séculos todos. Por isso, está bem. Chega”, frisou.
Para o elenco, o encenador não se limitou a escolher uma mulher para protagonizar a peça – até porque isso já foi feito muitas vezes -, optando por um elenco todo feminino, também porque tinha curiosidade em ver como as mulheres podiam interpretar “o género”.
“Gostava muito de fazer o Hamlet só com mulheres. (…) É um texto que retrata e relata muito bem a natureza humana”, mas em que os sentimentos, tanto negativos como positivos, são sempre transmitidos por homens, argumentou.
Questionado sobre se as mulheres acabam por interpretar esses sentimentos de forma diferente, Hugo Franco é perentório: “É”. “É bastante diferente, mas eu pensava que ia ser mais”, observou, sublinhando que esses sentimentos “acabam por ser todos iguais, tanto em homens como mulheres”.
“Não têm género. Têm só uma forma, uma forma de serem passados. De resto, acho que a essência é a mesma”, disse. Um Romeu e Julieta protagonizado por seniores, com mais de 60 ou 65 anos, é algo que Hugo Franco confessou que gostava de fazer. “Para ver como se comportam os seniores a viver amores tão adolescentes”, invocou.
Hugo Franco usa a tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen, o mesmo texto que o Teatro da Cornucópia estreou no Festival de Almada, em 2015. “Raras vezes um texto de teatro em tradução terá como este, e como matéria de trabalho para os atores, os valores estilísticos que nos habituámos a só reconhecer na poesia”, disse então o encenador Luís Miguel Cintra.
CB com Lusa
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