Harvey Weinstein “foi o meu monstro”, revela Salma Hayek

Harvey Weinstein é um cinéfilo apaixonado, um aventureiro, um patrono do talento nos filmes, um pai dedicado e um monstro. Durante anos, ele foi o meu monstro”.

É com esta frase que a atriz Salma Hayek, de 51 anos, inicia o texto em que acusa o produtor de assédio e agressão sexual. Uma carta aberta publicada na quarta-feira, 13 de dezembro, no jornal The New York Times e que posiciona a atriz ao lado de quase uma centena de mulheres que denunciaram casos de assédio por parte do produtor de Hollywood e que tiveram lugar nas últimas décadas. Entre elas estão galardoadas atrizes Angelina Jolie, Asia Argento, Rosanna Arquette, Kate Beckinsale, Cara Delevigne Heather Graham, Eva Green, Ashley Judd, Lupita Nyong’o, Gwyneth Paltrow e, entre muitas mais, Mira Sorvino.

Na galeria acima releia alguns das passagens mais duras do relato deixado por Salma Hayek e que o produtor de Hollywood já veio negar.

A atriz conta agora que ponderou bastante a decisão de trazer a público detalhes de histórias sórdidas e que quis esconder. Mas a insistência de jornalistas e de amigas atrizes como Ashley Judd – também ela vítima do produtor – fez com que Hayek integrasse a onda de denúncias que têm chegado a público ao abrigo da #metoo.

O produtor Harvey Wienstein [Fotografia: DR]

Inspirada pelas muitas mulheres que têm trazido à luz histórias negras de abuso de poder e do corpo, Salma Hayek disse ter tido agora a coragem para falar. A atriz evoca mesmo as quase duas dezenas de mulheres que estão a acusar o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, de assédio e a reação do governante a estas histórias (que pode ler em detalhe aqui).

“Fui inspirada por aquelas que tiveram a coragem de falar, especialmente numa sociedade que elegeu um presidente que tem vindo a ser acusado de assédio e agressão sexual” e “de quem ouvimos uma declaração sobre como um homem com poder pode fazer o que quiser com as mulheres. Bem, isso acabou”, justificou a atriz.

Banhos, massagens, sexo oral e prostitutas

Agora, na carta aberta, Salma Hayek conta: “Não a abrir-lhe [a Weinstein] a porta a qualquer hora de noite, hotel atrás de hotel, local de gravação atrás de local de gravação, onde ele aparecia de forma inesperada, incluindo num local onde eu estava a fazer um filme no qual ele nem sequer estava envolvido”.

Mas não fica por aqui: “Não a deixá-lo fazer-me uma massagem. Não a deixar um amigo dele nu fazer-me uma massagem. Não a deixá-lo fazer-me sexo oral. Não a ficar nua ao lado de outra mulher. Não, não, não, não, não…”.

Na mesma carta, Salma Hayek revela que terão sido o realizador Robert Rodriguez, a produtora Elizabeth Avellan, o cinesta Quentin Tarantino e o ator George Clooney a ajudá-la a “talvez ter sido salva de ser violada”.

Uma história que começou em 2002

Tudo começou durante a rodagem do filme sobre a vida e obra da pintora mexicana Frida Khalo, pelicula de 2002, produzida e protagonizada por Hayek. A porta que o produtor agora acusado abriu para que a atriz cumprisse um sonho – a de contar a vida de uma mulher que a inspirava – foi também a passagem para uma história negra que agora revela.

Salma Hayek em ‘Frida’, filme de 2002 [Fotografia: DR]

“O acordo que tínhamos inicialmente é que Harvey iria pagar os direitos do trabalho que eu já tinha empreendido. Como atriz, seria paga pela escala mínima da Screen Actors Guild mais 10 %. Como produtora, receberia um crédito que não estaria ainda definido, mas não um pagamento, o que não era raro para uma mulher produtora nos anos 90. Ele também exigiu um acordo assinado para fazer outros filmes com a Miramax”, escreveu Salma Hayek no texto.

Na altura, relata ainda: “Não quis saber do dinheiro. Estava tão entusiasmada por trabalhar com ele e com a empresa. Na minha inocência, senti que o meu sonho tinha sido tornado realidade. Ele tinha validado os últimos 14 anos da minha vida.

Harvey nega as acusações

Um dia depois de a carta ter sido publicada, o produtor e o seu advogado fizeram chegar uma declaração de repúdio das acusações de Salma Hayek, começando por lhe elogiar o talento e o trabalho. Segundo a USA Today, “o Sr. Weinstein não se lembra de ter pressionado Salma a fazer uma cena sexual gratuita com uma mulher e ele não estava nessa filmagem. No entanto, isso faz parte da história uma vez que Frida Khalo era bissexual, e a cena mais significativa no filme foi coreografada pela Sra. Hayek e por Geoffrey Rush”.

Imagem de destaque: Carlo Allegri/Reuters