Helena Coelho, ex-Doce: “A mulher bate mais o pé, mas ainda há um mundo por fazer”

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Fotografia: Instagram TVI

Surpreenderam e chocaram o país na década de 80 e Portugal nunca mais foi o mesmo depois das Doce. Com o filme Bem Bom a chegar perto dos 30 mil telespetadores, Helena Coelho, uma das cantoras da primeira “girls band” portuguesa, refere, em entrevista ao Delas, que o empoderamento feminino começou há 40 anos, mas que ainda há muito por fazer.

A cantora e produtora lembra os loucos anos 80, altura em que a banda chegou a ser comparada “às mulheres do Cais do Sodré”, tal a atitude ousada em palco, roupas curtas e atitude desafiante. “Estamos a falar de uma era patriarcal, do machismo: se quiséssemos sair do país tínhamos de pedir autorização do marido, nem usar batom vermelho podíamos, assim como decotes. As Doce vieram dar esse grito do Ipiranga às mulheres, elas revoltaram-se e adotaram outra postura na vida”, refere Helena Coelho, em entrevista ao Delas.

Mas, segundo a artista, o empoderamento feminino ainda tem muitos passos para dar. “Hoje ainda se sente mais essa luta e é preciso que apareçam mulheres, porque há uma grande discrepância com os homens. Trabalhamos tanto ou mais, olhando para nós enquanto mães e donas de casa. A mulher ficou mais ousada, respondona, bate mais o pé, mas de resto ainda há um mundo por fazer!”.

Foi no palco que quase nasceu e é no mundo artístico que quer continuar a apostar, apesar de não adiantar, para já, o nome do projeto. Helena Coelho, que integrou a banda ao lado de Laura Diogo, Fátima Padinha e Teresa Miguel, chegou a produzir a banda “Docemania”, teve um grupo musical chamado “Sucesso” e tem “um novo projeto” artístico, numa altura em que a banda voltou a estar na moda, com a estreia do filme Bem Bom.

“Sempre adorei o teatro, os meus pais eram artistas e eu ia caindo no fosso da orquestra do Teatro Variedades quando rebentaram as águas à minha mãe“, lembra Helena Coelho, para justificar o amor pelo meio. “De resto, sou mãe, dona de casa, tenho animais, um jardim e ninguém a chatear-me”, garante.

Sobre as antigas colegas Laura, Fá e Teresa, o contacto é menos frequente. “Raramente mantenho contacto com a banda, a Laura está na América, a Fá mudou-se para o Norte, a Teresa, infelizmente, está doente e à espera de ser operada. Espero que recupere! Mas que fique claro que não há crises entre nós!”.

E, por falar em crises, Ágata mostrou-se revoltada por, apesar de ter integrado a banda, não ser retratada. “Você lembra-se das quatro Doce não se lembra?”, desafia Helena Coelho o Delas. Perante a resposta “Helena Coelho, Fá, Laura e Teresa”, Helena volta ao tema: “Pronto você já deu a resposta à sua pergunta!”.

Antes de concluir a entrevista, apenas um lamento. “Isto não é um regresso das Doce, nós continuámos a pairar no mundo musical, só que parece que as pessoas se esqueceram, assim como as editoras, as televisões, principalmente a RTP, que foi a nossa casa mãe e a Polygram, hoje Universal”.

As palavras finais vão para a realizadora de Bem Bom: “Finalmente apareceu a grande Patrícia Sequeira e tinha de ser uma mulher a prestar-nos uma derradeira homenagem justa. Como não houve nenhuma mulher com ‘eles no sítio’ como a Patrícia, só aconteceu agora”, refere Helena Coelho, à despedida.