“Sinto-me muito melhor na minha pele do que me sentia há uns anos”

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Lisboa, 30/11/2016 - A atriz Helena Isabel, fotografada esta tarde na sua agencia. Helena Isabel (Gerardo Santos / Global Imagens)

Aos 64 anos, Helena Isabel é uma das embaixadoras da Anjelif, protagonizando a campanha da marca de dermocosmética. O tema beleza deu o mote à nossa conversa com a atriz, que nos fala dos cuidados diários que tem com a sua pele e de como a liberdade, a independência, a autoconfiança e a felicidade são decisivas para se sentir bonita e gostar da imagem que vê refletida no espelho.

Em tempos disse: “Aprendi a confiar em mim, a acreditar que sou capaz e a conhecer melhor as minhas limitações.” Como se faz isso?

Acho que é com a experiência de vida e com a idade. Quando disse isso estava a referir-me à parte profissional. Quando comecei a trabalhar era muito insegura, achava que tudo o que fazia estava mal; um pouco como as pessoas que pela primeira vez ouvem a sua voz gravada e não se reconhecem. Isso acontecia-me muito e não gostava nada de me ver nem de me ouvir. Entretanto, ao fim de quarenta e tal anos de profissão confio mais em mim, sei melhor o que faço bem, o que faço menos bem, até onde posso ir… E isso é resultado do percurso que fiz até agora.

Será certo que a idade nos traz a confiança?

Bem, há pessoas que são confiantes por natureza e outras que apesar da idade nunca chegam a confiar em si próprias. Eu continuo um bocadinho insegura, mas já não é o que era antigamente. A confiança em mim foi das poucas coisas que ganhei com a idade.

E como lida com a insegurança que ainda vai sentindo? A forma como a aceita e gere mudou?

Não, não mudou. Acho que a minha defesa para a minha insegurança foi sempre atirar-me para a frente. Porque se eu fosse dar confiança à minha insegurança eu nunca faria nada na vida. E isso continua a ser assim. Sinto-me insegura, tenho medo, mas arranco, vou em frente.

A sua peça de estreia chamava-se Os Direitos da Mulher. Na altura a Helena tinha 17 anos. O que é que, para si, à época, representava este tema?

Esse título, da peça, dizia-me tudo. Era muito consciente já, com 17 anos, dos direitos que as mulheres deveriam ter e não tinham. Tive uma educação muito tradicionalista, mas como normalmente os filhos estão um bocadinho em oposição aos pais nunca fui conservadora. Achava que a mulher devia ter os mesmos direitos e oportunidades do que o homem; uma coisa que me custava, era ver as mulheres da geração da minha mãe estarem dependentes financeiramente dos maridos, eu nunca quis isso para mim.

Lisboa, 30/11/2016 - A atriz Helena Isabel, fotografada esta tarde na sua agencia. Helena Isabel (Gerardo Santos / Global Imagens)
(Gerardo Santos / Global Imagens)

47 anos depois, na sua opinião de que é que as mulheres não devem, em circunstância alguma, abdicar?

Da sua liberdade. Para mim é fundamental. Por outro lado, nunca devem depender de nenhum homem nem de ninguém.

Que figuras femininas lhe foram servindo de exemplo ao longo da vida?

Uma grande referência da minha juventude foram as Três Marias (Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa), sem dúvida. Foram a pedrada no charco. Conheço pessoalmente a Maria Teresa Horta, houve uma altura em que lidei muito com ela, e para foi um exemplo da luta das mulheres.

Alguma vez sentiu curiosidade em viver uma vida ‘normal’, com um trabalho das 9h às 17h?

Sim, penso nisso muitas vezes apesar de esta minha profissão ter sido escolhida por amor. Adoro aquilo que faço, mas há fases em que vamos um bocadinho a baixo porque não temos uma segurança económica e nessas alturas penso: ‘mas porque é que não escolhi um emprego normal, com direito a subsídio de férias e décimo terceiro mês e subsídio de desemprego’. Para além disso, um emprego dito normal dar-me ia o anonimato. Às vezes imagino-me ser uma cidadã perfeitamente anónima.

Nunca sentiu falta de ter uma rotina?

Não. Eu sou uma pessoa muito pouco rotineira, mesmo na minha vida pessoal. No teatro nunca nada é igual, porque os públicos são sempre diferentes e nós próprios representamos de maneira diferente. Nunca é igual. Também não gostaria de fazer só teatro ou só televisão… Gosto de ir variando e esta profissão permite-me isso.

O que mais a fascina no seu trabalho?

O poder ser várias pessoas, sair de mim e viver várias personagens.

Alguma vez pensou que gostaria de trocar de papel com alguma personagem que já interpretou? Ou seja, alguma vez quis ser a personagem e não a Helena?

Não. Sempre gostei muito de mim e de ser quem sou. E gosto dessa hipótese de ser outra personagem durante uns meses para depois voltar a ser eu. É isso que me apaixona.

Ao longos destes quase 50 anos de carreira já se sentiu pressionada a ter de escolher entre a vida pessoal e profissional?

Nunca passei por isso. Foi uma questão que nunca sequer se colocou. Porque é isto que gosto de fazer, é isto que escolhi fazer e porque, por outro lado, a profissão que escolhi representa a minha independência.

Nem nunca se questionou?

Isso sim, todos os dias. Mas eu sou uma pessoa muito inquieta, questiono-me sobre tudo (risos).

A sua personagem na novela da TVI, A Impostora, é uma mulher de negócios, dedicada à família, que se apaixona por um homem mais novo. Este cenário amoroso, seria possível na sua vida real?

Não tenho preconceito de espécie nenhuma. Portanto seria um cenário possível, sobretudo porque não se trata de um rapaz de 20 anos…

Lisboa, 30/11/2016 - A atriz Helena Isabel, fotografada esta tarde na sua agencia. Helena Isabel (Gerardo Santos / Global Imagens)
(Gerardo Santos / Global Imagens)

Na vida real o homem poderia ser mais novo, mas não poderia ter 20 anos?

Não. Os homens muito mais novos do que eu não me atraem minimamente.

Quando se olha ao espelho, gosta do que vê?

Tem dias. Mas de uma maneira geral não me posso queixar muito.

E sempre foi assim?

Não. Sou muito mais confiante hoje em dia do que quando era novinha. Quando tinha 20 anos achava-me sempre gorda, via-me com olheiras… via coisas que não existiam. Estou muito mais em paz comigo e sinto-me muito melhor na minha pele do que me sentia há uns anos.

E por falar em pele, foi convidada para ser uma das embaixadoras de uma marca de beleza, a Anjelif. Como recebeu esse convite?

Fiquei muito contente por vários motivos, sobretudo pela marca se lembrar de uma mulher que já não está nos padrões normais, em termos de idade, das mulheres que fazem publicidade a produtos de beleza. Hoje em dia valoriza-se muito a juventude e começou agora a surgir uma tendência em recorrer a mulheres mais velhas para fazer publicidade. E isto prende-se com várias razões. Uma delas é que as marcas estão a perceber que, do ponto de vista comercial, as mulheres mais velhas têm mais poder de compra. Depois, porque as mulheres da minha idade têm necessidades específicas e cada vez mais as marcas têm gamas para diferentes faixas etárias.

Qual o seu papel enquanto embaixadora de uma marca de dermocosméticos?

O meu papel é sobretudo divulgar a marca e eu tento fazê-lo porque gosto dos produtos, uso-os no meu dia-a-dia e recomendo-os vivamente. Por muito bem que me pagassem, nunca daria a cara por uma marca em que não acredito.

Saber aceitar o envelhecimento passa por aceitar as rugas que vão chegando ao longo dos anos?

Eu acho que ninguém gosta de envelhecer, mesmo aquelas pessoas que dizem que cada ruga conta uma história de vida! Ninguém gosta de se olhar ao espelho e ver que o rosto a que nos habituámos ver refletido de repente começa a modificar e a modificar para pior. Não é agradável, mas é inevitável e temos de aceitar. Primeiro vem a fase da revolta (risos).

É mais ou menos em que altura, essa fase?

Depende. Comigo foi por volta dos 50 anos. Depois vem a fase da aceitação, que é onde eu estou neste momento.

E aceitar significa o quê?

Aceitar é tratarmos de nós e tentarmos estar bem até o mais tarde possível. É o que eu chamo de envelhecer graciosamente. Ou seja, para mim a aceitação implica ação. Sempre me cuidei, mas nunca fui de extremos.

Em que idade começou a integrar os cuidados com a pele na rotina diária?

Desde muito cedo, pelos 20. Porque me maquilhava (e maquilho) todos os dias, muito por causa da minha profissão. Naquela altura, os produtos de maquilhagem eram bem mais agressivos do que são hoje, eram espessos, tapavam os poros e isso obrigava-me a dar mais atenção à pele.

O que é que a faz sentir-se bonita?

Dormir (risos). Sentir-me feliz. A nossa cara revela tudo o que vai cá dentro e se uma pessoa não é feliz não pode estar radiosa. Também estas pequenas rotinas que tenho e que passam por aplicar os cremes ou colocar um perfume que me faz sentir especial…

Qual é a sua grande fraqueza?

Os afetos. Sou um touro – porque levo tudo para a frente – sinto-me uma pessoa forte, mas quando me falam ao coração dão-me a volta completamente.

Projetos profissionais para o futuro?

Vou voltar ao teatro, mas ainda não posso avançar mais informação. Apetece-me muito voltar a fazer teatro, tenho muitas saudades.

Quando e em que palco a vamos ver?

No Teatro Armando Cortez, lá para fevereiro.

O que lhe dá o teatro que a televisão não dá?

Dá-me o tempo, a oportunidade de aprofundar e estudar a personagem.

Hoje tem mais tempo livre do que tinha antes?

A minha vida é muito incerta. Tenho sempre muito que fazer, mesmo quando não estou a trabalhar. A falta de tempo livre é a mesma que tinha aqui há muitos anos. Não me sinto mais aliviada.

Se tivesse esse tempo livre faria o quê?

Viajava. Há tantos lugares que me falta conhecer. Gostava de ir ao Peru, à Bolívia, ao Chile. Adorava conhecer a Índia. Ainda tenho aí muito por descobrir.

Lisboa, 30/11/2016 - A atriz Helena Isabel, fotografada esta tarde na sua agencia. Helena Isabel (Gerardo Santos / Global Imagens)
(Gerardo Santos / Global Imagens)

Dicas e confissões sobre a beleza, a alimentação e o corpo

Como lida com os momentos de preguiça, daqueles que nos fazem não ir ao ginásio ou não limpar a pele do rosto ou mesmo dormir com a maquilhagem…

Dormir com maquilhagem nunca aconteceu. Agora, a preguiça de ir ao ginásio acontece-me muitas vezes. Como dou a volta? Não dou, aqui há uns tempos tentava dar a volta mas agora se não me apetece ir não vou (risos). É tão simples quanto isso.

Tem algum guilty pleasure que a faça desviar da sua rotina de alimentação saudável?

Não sou viciada em chocolate como grande parte das pessoas que conheço e ainda bem; é menos uma preocupação. Mas sou completamente adita a frutos secos e biscoitos de manteiga. São a minha perdição.

Quais são os alimentos diários indispensáveis ao seu bem-estar?

Não como muita fruta, porque não gosto particularmente, mas vingo-me nos vegetais. Não concebo uma refeição sem ter vegetais a acompanhar.

Que cuidados básicos diários tem com a pele do rosto?

Limpo todos os dias muito bem a pele, de manhã e à noite. Uso um bom creme de hidratação de manhã e outro nutritivo, à noite, para além do leite de limpeza, do tónico, dos séruns e do creme de olhos e lábios. Lavo sempre a cara com água fria, porque sinto que apele fica mais ‘esticadinha’. No verão tenho muito cuidado com o sol, ponho sempre protetor solar.

Petra Alves