Hepatite A baixou na Europa em 2021 e há cinco razões possíveis para o decréscimo

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[Fotografia: Pexels /Koolshooters]

A Europa registou em 2021 o menor número de casos de hepatite A desde que a vigilância da doença começou a ser feita em 2007, revelou o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC).

A informação consta do seu Relatório Epidemiológico Anual, sobre 2021, do qual foram divulgados, esta quarta-feira, 21 de dezembro, seis capítulos, cinco dos quais relativos a doenças que causam o maior número de infeções transmitidas por alimentos e água na UE/EEE (Espaço Económico Europeu, que inclui também a Islândia, Liechtenstein e Noruega), indicou o organismo da União Europeia num comunicado.

Em relação às infeções causadas pelas outras cinco doenças, além da hepatite A – campilobacteriose, salmonelose, listeriose, Escherichia coli shigatoxigénica e Yersiniose -, o relatório refere que os casos estão a subir para “níveis pré-pandémicos”.

“Na UE/EEE, a taxa de notificação de hepatite A foi excecionalmente baixa em 2021, com 0,92 casos por 100.000 habitantes, em comparação com 2,2 em 2019”, segundo o comunicado, que adianta que a situação “pode ser atribuída principalmente à pandemia da covid-19 e a restrições, incluindo as reduzidas viagens internacionais”.

O ano passado, 30 países da UE/EEE reportaram 3.864 casos de hepatite A, o que representou uma diminuição de 67,5% em relação a 2.019 e de 12,3% comparando com 2020. Em Portugal, registaram-se 13 casos.

O relatório assinala, no entanto, que “um declínio acentuado na tendência de casos de hepatite A também foi evidente na UE/EEE nos últimos cinco anos”.

Para tal poderão ter contribuído o aumento da consciencialização sobre a transmissão da doença, das medidas preventivas e da vacinação entre os grupos de risco. “O aumento da imunidade natural em grupos de risco após um grande surto em vários países ocorrido em 2017 e 2018 também pode ser importante”, adianta.

Em relação à campilobacteriose e à salmonelose, as duas infeções gastrointestinais mais registadas na UE/EEE também “diminuíram notavelmente” em 2020 devido à pandemia.

Contudo e ao contrário da hepatite A, os casos destas “parecem aumentar em 2021”, embora o seu nível ainda esteja “bem abaixo dos anos pré-pandémicos”.

O relatório admite que a situação possa ser “em parte um efeito da redução de viagens, dado que as infeções relacionadas com viagens foram as que registaram um nível mais baixo em 2021”.

Nesse ano, foram reportados 129.960 casos de campilobacteriose por 30 países da referida zona, 973 dos quais ocorreram em Portugal.

No caso da salmonelose, os dados mais recentes são de 2020, quando foram reportados no total 53.169 casos, incluindo 262 por parte de Portugal.

Já os casos de listeriose, das infeções por Escherichia coli shigatoxigénica e de yersiniose “diminuíram menos notavelmente em 2020 e o número (…) voltou aos níveis pré-pandémicos em 2021”.

Em Portugal registaram-se nesse ano 57 casos de listeriose (2 268 num total de 30 Estados membros da UE/EEE), dois de infeções por Escherichia coli shigatoxigénica (entre um total de 6.534) e 34 de yersiniose (de um total de 6.876 reportados por 28 países da zona em causa).

A diminuição menos expressiva pode dever-se, segundo o estudo, ao facto de sobretudo as duas primeiras infeções causarem sintomas mais graves, com maior probabilidade de serem diagnosticados e registados, além de muitos dos casos serem adquiridos na UE/EEE, pelo que “os números não são tão afetados por restrições de viagens internacionais”.

Por outro lado, a redução das medidas de restrição para evitar a propagação do SARS-CoV-2 (que causa a covid-19) no ano passado e o consequente retorno a uma vida quotidiana normal — com consultas médicas presenciais, viagens e uma maior socialização nos locais de trabalho, escolas, restaurantes e bares – “pode explicar o aumento de casos das cinco doenças transmitidas por alimentos e água”, acrescenta o ECDC.

 

Lusa