“Esta será a única profissão em que as raparigas ganham mais dinheiro do que os rapazes”

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A 33ª final mundial do Elite Model Look aconteceu esta quarta-feira às 20h00 no Campo Pequeno, em Lisboa, onde é estendido o tapete vermelho para receber as centenas de ilustres, e menos ilustres, do universo da moda a nível nacional e internacional. É a primeira vez que o evento tem lugar na capital portuguesa, escolhida pela organização por ser cosmopolita e, neste momento, a mais trendy da Europa.

Os 62 finalistas, de 36 países incluindo Portugal, participaram no bootcamp, no Páteo da Galé, durante seis dias, tendo como mentores e modelos Elite, Erika Oliveira e Ruben Rua. Mais logo serão escolhidos apenas dois.

E porque moda é o assunto do dia, estivemos à conversa com Vick Mihaci, Presidente da Elite Management Worldwide (na fotografia à esquerda).

Gisele Bündchen, entre outros nomes grandes da indústria da moda, participou no Elite Model Look 1994 (Brasil). Desde essa altura, os standards de beleza mudaram?

Acho que os standards de beleza não mudaram, sobretudo se tivermos a falar da beleza clássica. Mas o Elite Model Look é sobre moda e a moda, enquanto elemento representativo da sociedade, é por definição, mudança.

Quais são as características físicas, e de personalidade, do vencedor internacional do Elite Model Look 2016?

Eu estou interessado em longevidade e numa beleza que seja reconhecida por todos. Para que uma carreira de modelo tenha longevidade, a pessoa precisa de ter mais do que um bom look e do que a altura certa. Precisa de personalidade. O resto pode ser desenvolvido e é isso que a Agência ajuda a fazer.

Os dois vencedores desta noite vão receber contratos de 150 mil euros, ela; e de 50 mil euros, ele. Porque a discrepância de valores?

Esta será a única profissão em que as raparigas ganham mais dinheiro do que os rapazes. Mas isso acontece porque o negócio gerado pelo e para o público feminino é substancialmente maior do que para o masculino. Há mais marcas femininas do que masculinas, as mulheres consomem mais moda do que os homens. O mercado feminino, nesta indústria, é mais lucrativo. É uma questão de estatística económica.

É cada vez maior o número de modelos plus-size. Acha possível, dentro de alguns anos, termos uma modelo plus-size no Elite Model Look World Final?

Não, não acho. Esse não é o nosso standard. Não tenho nada contra, mas ‘ser grande’ não é a norma.

No entanto, há cada vez mais pessoas com excesso de peso, inclusive na Europa.

Sim, mas a obesidade por definição é um problema. Deveremos olhar para isto como sendo a ‘normalidade’? Não me parece.

E como olhar para o ‘demasiado magro’?

O ‘demasiado magro’ é também um problema.

Disse que o Elite Models Look dá ferramentas aos participantes, para que possam gerir melhor este processo de chegada à indústria. A que ‘ferramentas’ se refere?

Passa por serem confrontados com pessoas totalmente diferentes umas das outras, de diferentes origens, de diferentes contextos culturais e socioeconómicos, para que aprendam a estar com todas as pessoas sem as julgar. O moto da Elite é valorizar as diferenças. É importante termos e promovermos a mistura de culturas; o aceitar as diferenças e ver as qualidades que cada pessoa tem, independentemente do seu background.

E como fazem isso com os adolescentes?

No bootcamp, por exemplo, eles estão sozinhos, sem as suas famílias ou amigos, então vivem intensamente, 24 horas, uns com os outros, servindo de suporte uns aos outros. Há circunstâncias ou pessoas com que não se identificam, mas com as quais têm de conviver, por isso terão de ajustar a sua própria personalidade a esta realidade. Claro que o bootcamp integra uma série de tópicos que têm a ver com a moda, os cabelos, a maquilhagem, a roupa, as sessões fotográficas, etc. Mas é sobretudo a experiência humana que mais importa ali e que tem tudo a ver com a autodescoberta e a aceitação de si mesmo. No final das contas, isto é um concurso, por isso ensina também a lidar com o fracasso e a aceitá-lo. Na vida, todos temos de o fazer. Aceitar os nossos fracassos e seguir em frente. É um bocado disto tudo que tentamos ensinar, de variadas formas.

Estes adolescentes têm algum tipo de aconselhamento convosco?

Claro que sim. A Elite funciona como uma família. Na verdade, pode às vezes ser mais próxima do que a própria família até porque conhece o teu melhor período, quando estás feliz, e o teu pior momento, quando estás mais depressivo.

Aos meios de comunicação social, a top model Isabeli Fontana, que fará parte do júri, dizia que aos 13 anos, quando começou, queria ‘ser alguém’. É mais difícil ser-se alguém hoje em dia no mundo da moda, do que há 20 anos atrás?

Naquela altura, quando a Isabeli começou, havia menos modelos. Por outro lado, o aspeto económico tinha menos importância do que tem agora. A criatividade ‘falava’ primeiro e depois eram consideradas as vendas. E aqui está a grande diferença. Por outro lado, quando ela começou, os modelos dependiam de um grupo de pessoas ligados à moda, ou seja, os fashion people detinham todo o poder de decisão. Hoje não é assim.

Quem toma hoje as decisões?

A audiência. Quando tens uma conta no Instagram com 60 ou 70 milhões de seguidores, a indústria não te pode excluir. Ou seja, hoje em dia não é necessariamente mais difícil ou mais fácil ser-se modelo: é mais complexo.

Alguma vez considerou mudar os critérios de admissão ao concurso, no que toca à idade? Apenas aceitar jovens adultos e não jovens adolescentes?

Não, porque não precisamos de um concurso para adultos. Aos 20 anos já se tem uma personalidade formada, claro que ainda está em work in progress, mas está mais definida do que quando se é adolescente. Junto com os modelos, a Elite constrói carreiras sólidas. E isso demora tempo. Por isso começa-se na adolescência a trabalhar nesta indústria. Eles não são modelos, ainda. Serão um dia.

E qual seria o seu melhor conselho a quem está a começar?

Ser paciente. Mais: tão importante quanto ter objetivos e vontade de os alcançar, é não ficar demasiado fechado e constrangido por esses objetivos. Ser flexível. Distanciar-se do que se faz, para se conseguir ver em perspetiva.

Qual é a melhor parte do seu trabalho?

Ver a evolução das e dos modelos. É quando sinto orgulho no meu trabalho.