Protesto feminista hoje contra os homicídios de Barcelos

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O caso do recente homicídio de três idosos e uma mulher grávida, ocorrido em Barcelos, no dia 23 de março, chocou o país. Alegadamente, o homicida matou as quatro pessoas para ser vingar do facto de não terem testemunhado a seu favor, por violência doméstica.

É para que este crime não caia no esquecimento, e para que o medo não impeça a denúncia de agressões, que se realiza esta quarta-feira, 29 de março, às 18h30, na Praça da Figueira, em Lisboa, a concentração “Não à violência contra as mulheres”.

“Quando as pessoas sabem [de casos de violência], há o medo de denunciar e este caso de Barcelos não ajuda nada. Se já têm medo, mais medo vão ter de denunciar”, diz ao Delas.pt Patrícia Vassallo e Silva, ativista do ‘Por Todas Nós’, responsável pela iniciativa.

Este movimento feminista tem menos de um ano de existência e surgiu na sequência do evento de protesto de dia 1 de junho de 2016, pela jovem brasileira que foi violada por 30 homens. “Achámos que devíamos fazer alguma coisa também em Portugal. Fizemos essa concentração e o nosso foco tem sido sempre as ações de rua”, explica a ativista e eletricista de profissão.

Desde então, o movimento tem vindo a realizar concentrações sempre que há situações de violência que despertam a atenção do grande público.

“O que tentamos fazer é cada vez que há um caso mediático e que tocou as pessoas, ir logo para a rua, para juntar forças e lutar para que as coisas mudem”, explica Patrícia Vassallo e Silva.

A ação com a seleção nacional feminina de futebol, como forma de se associarem ao protesto da plataforma Ni Una Menos pela morte da argentina Lucía Pérez, que morreu na sequência de abusos sexuais, foi uma das iniciativas levadas a cabo pelo movimento que quer “sensibilizar as pessoas” e “não deixar passar este tipo de situações” em branco.

Mais de 9 mil vítimas apoiadas pela APAV em 2016
Às notícias recentes de crimes como o de Barcelos, juntam-se os dados de 2016 da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), divulgados esta semana.

Todos os dias, em média, 14 mulheres, três idosos, duas crianças e dois homens são vítimas de crime, aponta a organização, que registou um aumento de 8,1% no número de atendimentos.

No último ano, a APAV apoiou 9.347 vítimas de crimes e de outras formas de violência. Entre elas, 5.226 são mulheres, o que corresponde a uma média de 100 atendidas por semana na associação. Seguem-se os mais velhos, com 1.009 pessoas idosas a receberem ajuda da organização, e depois 826 crianças e jovens e 826 homens.

Das vítimas que indicaram o seu estado civil, 28,6% eram casadas e 21,1% eram solteiras. Os dados apontam que mais de um terço pertença a uma família nuclear com filhos e 11,5% a famílias monoparentais.

Já no que respeita à relação da vítima com o agressor ou autor de crime, continuam a prevalecer – sendo 59% do dos casos – as relações de cônjuge, companheiro, ex-cônjuge, ex-companheiro, ex-namorado e namorado/a.

O movimento a que Patrícia Vassallo e Silva pertence não tem o âmbito de ação da APAV e de outras organizações, por isso o seu foco é a sensibilização da população para as que estão por detrás desses números.

“Acho que o importante é explicar ao mundo, ao país, que isto é uma realidade, uma realidade que ninguém vê, que acontece na casa ao nosso lado, com as pessoas por quem passamos na rua. E [depois] há o medo”.

Chamar a atenção é parte da ação da Por Toda Nós para concretizar um objetivo maior: combater o medo de denunciar. “Tem de se lutar muito é contra o medo”, conclui a ativista.