Hugo Costa: “Quero trabalhar do meu país para o mundo todo.”

Hugo Costa apresentou hoje, na semana de moda masculina de Paris, no âmbito do Portugal Fashion, as suas propostas para o inverno de 2017/18.

O evento teve lugar no mais antigo ginásio da cidade-luz, o Gymnase Trévise, e não assistimos a um desfile clássico mas sim a uma performance repetida por três vezes. Um total de três horas de apresentação que teve como principal objetivo poder ser vista pelo maior número de pessoas possível.

Os trinta coordenados desfilaram mas não regressaram aos bastidores de imediato sendo mantidos em palco, para que o público os pudesse ver melhor. Os modelos mantiveram-se de pé em cima de uns cubos enrolados em papel branco e corda. Por cima das suas cabeças uma chuva de plástico triturado, a imitar neve, caia suavemente, pintando os cabelos brancos. Um cenário criado pela Dsection Creative e que, como um dos fundadores, Paulo Meixedo, nos contou, pretendia recriar o imaginário em que se inspirou a coleção. As colunas do antigo campo de basquete embrulharam-se, à semelhança dos cubos, em papel e corda fazendo lembrar os embrulhos de pele que os exploradores do início do século XX carregavam pelo meio de uma paisagem gelada.

A roupa revelou as referências ao explorador norueguês Roald Engelbregt Graving Amundsen- o homem que liderou a primeira expedição ao polo sul em 1911- através de elementos de vestuário de abrigo como os fechos, as faixas, os elásticos e os bolsos grandes.

Dos modelos saltaram à vista os macacões muito masculinos e repletos de detalhes. As cores começaram pelo preto e acabaram no branco fazendo brilhar pelo meio um azul esverdeado vibrante, um azul água, que por coincidência tinha o mesmo tom que a tinta usada no varandim que rodeava a sala, e um cinzento claro sofisticado.

As silhuetas mantiveram-se fieis às coleções anteriores do designer, mantendo o seu caminho de desconstrução dos clássicos, como nos explicou o próprio nos explicou: “Na base da marca Hugo Costa sempre estiveram os valores do vestuário clássico mas adaptados ao meu imaginário adolescente do streetstyle e da arte urbana. Quando era miúdo, não era skater mas vivia muito nesse mundo do skate do grafitti. Entretanto com o crescimento percebi que tinha de transformar o vestuário de streetwear em algo muito mais maduro e intenso, mais complexo intelectualmente. Quando misturas o clássico e o streetwear tens de o fazer em todas as criações, tem de haver um equilíbrio entre as duas coisas.”

A identidade do designer não se revê apenas nas linhas das suas peças mas também na mão que as camisolas têm estampada, como nos revelou Hugo Costa depois do desfile: “Aquela é a minha mão direita. Há um tempo desenhei uma coleção chamada individual, que se baseava no individuo. Nessa atrás o elemento gráfico que criamos foi a mão. Sentimos que este era um elemento que deveria incorporar a marca. Não o usamos como um logótipo mas será uma característica da marca. No fundo tem a ver com a transmissão do individuo nas peças, cada mão destas é decalcada diretamente na peça, uma a uma.”

Uma característica que pretende ser um elemento marcante de uma marca que cresceu com o Portugal Fashion, tendo começado por desfilar no Bloom, plataforma de novos designers inserida na semana de moda do Porto, e só depois ter passado à passerelle principal, marcando agora presença em Paris pela segunda vez.

Hugo Costa revelou-nos ainda que não quer apenas marcar a sua presença internacional através de desfiles, afirmando: “não vim a Paris para passar só, vim para estar e ficar. Temos os nossos objetivos muito bem definidos. Gosto muito do meu país, até sou muito regional, mas quero trabalhar do meu país para o mundo todo.”

Imagem de destaque e fotogaleria: Ugo Camera