Humanização excessiva dos animais “pode ser considerada maus tratos”, diz professora

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[Fotografia: Anna Shvets/Pexels]

Pintar as unhas dos animais de estimação, vestir roupas, tratar os companheiros de quatro patas como seres humanos começa a ser uma constante, pois os “cãopanheiros” são encarados como membros de família e não como um simples animal de estimação.

Mas será que esta humanização excessiva dos animais é saudável? Justina Prada Oliveira, professora doutorada em Ciências Veterinárias e vice-diretora do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douto (HVUTAD), descarta vantagens. “Esta tendência não traz nenhum benefício para o animal. Os animais não são pessoas pequenas, e tentar atribuir-lhes emoções e comportamentos humanos atenta diretamente contra o seu bem-estar”, explica.

E há até contexto jurídico a respaldar esta leitura. “Uma das cinco liberdades fundamentais dos animais é a ‘liberdade de expressar o seu comportamento natural’, que não inclui roupinhas, águas de colonia, verniz, extensões de pestanas, bolos de aniversário, tintas de cabelo entre outros”, refere a professora.

Estas situações, levadas ao limite, podem ser consideradas maus tratos, como alimentar o animal com chocolate, ou com fast food, levando a obesidade e desequilíbrios nutricionais graves.descrições de animais com reações alérgicas graves causadas pelo uso de tintas para pintar o pelo“, frisou a professora.

Contudo, alertou ainda para algumas exceções: “Há situações muito específicas em que esta parafernália pode ser útil, como por exemplo o vestuário protetor em cães militares a trabalhar em climas adversos, mas são muito limitadas“.

Questionada sobre os perigos de pintar as unhas a cães ou gatos a profissional garantiu que não é uma prática correta e que nem existem produtos no mercado indicados para tal. “O projetar de standarts de beleza humana nos animais é nefasto de todos os pontos de vista. Particularmente o verniz que pode ter constituintes tóxicos na sua composição“, começou por explicar.

“Houve um estudo nos anos 2000, nos Estados Unidos da América que demonstrou a presença de dibutil ftalato (DnBP), usado como preservante de cor, e que demonstrou ter efeitos tóxicos na reprodução animal. O uso da acetona na sua remoção pode causar irritação na pele e nas mucosas. É um contrassenso ter-se investido tanto tempo e recursos na proibição de testes cosméticos em animais e agora usar, sem qualquer controle, produtos cosméticos em animais de companhia”, afirmou.

A vice-diretora do HVUTAD abordou ainda a questão das capas usadas para tapar as unhas dos animais e referiu que “podem ter benefício em situações especificas, devendo ser usadas apenas se o animal não aparentar desconforto na sua aplicação e uso“.

“Inclui-se aqui a proteção do animal, em situações de prurido grave, em que se auto mutila, ou em casos de agressividade. Do ponto de vista do tutor, podem ser uteis em pessoas diabéticas ou hipocoaguladas, que têm animais de companhia, principalmente gatos, e que não podem correr o risco de ser arranhadas. É preferível usar capinhas de silicone do que desfazer-se do seu animal“, disse.

Tentamos ainda contactar a Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia e a associação SOS Animal, porém, não obtivemos resposta até ao momento da publicação deste artigo.