“I Will Survive”: 40 anos a levar com os pés e a levantar a cabeça

O desfecho é incerto mas toda a gente sabe como a história começa: “No princípio, eu estava com medo “. Pois estava, e ainda por cima 1978 dava razões de sobra a Gloria Gaynor para acusar todo o pavor do mundo. Usemos, sem rodeios, a palavra “petrificada”.

Há 40 anos, “Never Can Say Goodbye”, o primeiro hit da cantora que se estreara na música numa banda de jazz e R&B, não fervera especialmente nas pistas de dança e a Polydor não relevava grande vontade em renovar-lhe o contrato. Como se não bastasse, Gloria Fowles, o nome de batismo da natural de New Jersey, acabara de passar pela mesa de operações e de perder a mãe. Até que a editora fundada em 1924 contratou um novo presidente, oriundo de Inglaterra, solo de boa popularidade para a norte-americana, e o refrão mudou.

Foi rápido o regresso aos estúdios, para gravar uma encomenda, o tema “Substitute”. Faltava apenas uma canção para rechear o lado B do disco, uma sugestão “forte, capaz de tocar os corações das pessoas”, as preferidas de Gaynor, contava ela. Em resposta, os produtores ofereceram-lhe um título que Freddie Perren e Dino Fekaris haviam escrito dois anos antes: “I Will Survive”.

Gloria foi rápida a perceber o potencial da letra e da música da oferta. Mais rápida que o tempo que um coração demora a partir-se. Muito, muito mais veloz que o processo de convalescença de uma alma perdida. E quase tão supersónica como o cavalheiro arrependido que reaparece à porta de ex-amada. Mas os produtores desaconselharam grandes expectativas sobre um tema relegado para segundo plano na rodela de vinil.

Só que “I Will Survive”, como qualquer mulher que tem “toda a sua vida para viver”, só precisava de arejar. Gaynor fê-la chegar às mãos dos Djs no famoso Studio 54, em Nova Iorque, e o hino circulou de mão em mão, de ouvido em ouvido, de clube em clube, de pista de dança em pista de dança, de mulher para mulher, num contágio a anos luz de efeitos virais nas redes.

Gloria cumpre esta sexta-feira, 7 de setembro, 69 anos. “I Will Survive”, o tal que transcendeu a efemeridade dos tops da pop continua a rodar por aí. Recupere-a no jovem YouTube e continue, sem vergonha de maior, a vasculhar a caixa de Pandora do Disco Sound que provavelmente acabou de abrir. Não nos diga nada, já vamos em Donna Summer e ainda vamos a meio da tarde.

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