
Era um dos maiores mistérios da pintura: a identidade da mulher que serviu de modelo para o famoso quadro “A origem do mundo”, de Gustave Courbet (1819-1877). Ao fim de 150 anos, é finalmente revelado o rosto da pintura. Trata-se de Constance Quéniaux, uma antiga bailarina da Ópera de Paris, segundo a revelação feita no livro “L’origine du monde, vie du modele” (“A origem do mundo, a vida do modelo”, numa tradução livre), do escritor e investigador Claude Schopp, Prémio Goncourt de Biografia em 2017, que vai ser lançado no início de outubro, em França, noticia esta terça-feira, a agência France Presse (AFP).
Exposto no Museu d’Orsay, em Paris, o quadro, mundialmente famoso, é conhecido não só por retratar com grande destaque a zona púbica da mulher, mas por ser alvo de polémica e atos de censura até hoje. A curiosidade em torno da modelo que teria emprestado o seu corpo à arte de Gustave Courbet também deu origem, ao longo da história, várias teorias e diferentes nomeas chegaram a ser avançados.
Ao estudar a correspondência trocada entre Georges Sand (1804-1876) e Alexandre Dumas filho (1824-1895), Claude Schopp surpreendeu-se com uma transcrição de uma carta de Dumas a Sand, datada de junho de 1871, na qual o escritor, hostil à Comuna, faz um discurso retórico sobre Courbet, afirmando: “Não pintamos com o seu pincel mais delicado e mais sonoro a entrevista da menina Queniault (sic) da Ópera”, escreveu Dumas.
Para Schopp, a palavra “entrevista”, na transcrição não fazia sentido. “Entrevista? Isso não significa nada!”, explicou o investigador em entrevista à AFP. Por isso decidiu confrontar esta transcrição com o manuscrito original que se encontra na Biblioteca Nacional de França (BnF). O que o autor escrevia era “interior” e não “entrevista”.
“Foi como uma iluminação”, sublinhou Claude Schopp, responsável pela descoberta juntamente com Sylvie Aubenas, diretora do departamento de imagens e fotografias da BnF.
Este testemunho de época descoberto por Claude Schopp “leva a dizer, com 99% de certeza, que o modelo de Courbet foi, de facto, Constance Quéniaux”, frisou Sylvie Aubenas à AFP.
O cabelo negro de Constance tal como as suas “lindas sobrancelhas negras”, elogiadas pela crítica quando dançava na Ópera, estão mais em consonância com a penugem exuberante da modelo retratada no quadro, explicou Sylvie Aubenas.

O departamento de imagens e fotografias da BnF conserva muitas fotos de Constance Quéniaux, uma das quais de Nadar. Sobre o facto de o nome da modelo não aparecer mais cedo, Sylvie Aubenas argumenta que era um “segredo cohecido de todos”, e se Dumas revela o nome, é por uma questão de ressentimento contra Courbet.
Além disso, com o passar do tempo, Constance Quéniaux tornou-se uma mulher respeitada e dedicada a obras filantrópicas, sublinhou.
AT com Lusa
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