Ignae: Cosmética made in Açores

Água termal, mel, óleo de camélias e o primeiro leite de vacas dos Açores são alguns dos componentes de uma nova marca de cosmética açoriana. Foi em Bruxelas que Miguel Pombo se apercebeu das potencialidades dos recursos naturais do arquipélago, enquanto verificava rótulos de produtos de cosmética – quando trabalhava numa empresa de regulamentação.

Miguel tem 33 anos, é de São Miguel, e licenciou-se em Relações Internacionais em Lisboa, mas vivia em Bruxelas. Apercebeu-se de que os valiosos ingredientes estavam à distância de uma viagem a casa e regressou às ilhas. Com a ajuda de amigos e investigadores lançou os primeiros produtos para atenuar o envelhecimento da pele no início de 2017, sob a marca Ignae que é uma alusão às rochas de origem vulcânica das ilhas.

Em menos de um ano, a marca atravessou o oceano e chamou a atenção de Joanna Czech, esteticista, de Anna Wintour, diretora da Vogue US, e de várias atrizes de Hollywood, como Charlize Theron e Kate Winslet, que tem sido embaixadora da Ignae nos Estados Unidos.

Que recursos naturais das ilhas estão presentes nos cremes da Ignae?

A água termal do Vale das Furnas é um deles. Está associada, desde há vários séculos, a tratamentos de pele e à melhoria do aspeto da epiderme. No caso da Ignae, utilizamos a água do Parque Terra Nostra que tem uma combinação única de oligoelementos. Também usamos óleo de camélias, popular entre as geishas no Japão para manter a pele jovem, e ainda o colostro bovino, que é o primeiro leite extraído das vacas após o parto. Retiramos apenas a quantidade que a cria não utiliza, o que torna este processo complexo. Esta substância é possivelmente a mais importante dos nossos produtos.

Porquê?

É considerado um superalimento e o colostro de vacas dos Açores tem uma quantidade superior de substâncias importantes para a pele porque os animais estão na pastagem durante todo o ano e expostos aos ventos do Atlântico Norte, o que se manifesta no seu sistema imunitário. Para além do colostro, usamos ainda um extrato de mel dos Açores que é dos poucos locais no mundo onde não se utilizam antibióticos nas abelhas.

Como são extraídos esses produtos?

Utilizamos sobretudo a liofilização no processamento dos ingredientes, uma técnica usada para garantir que os produtos conservam as suas melhores propriedades. No caso do óleo das camélias fazemos uma extração a frio, pela mesma razão.

E o nome Ignae, como surgiu?

​Uma das primeiras referências ao Vale das Furnas e a São Miguel pertence a um viajante estrangeiro, cuja passagem pelos Açores coincidiu com uma erupção vulcânica. E na sua descrição refere o termo Igne, que significa “em fogo”, literalmente. A água termal que usamos para os nossos produtos vem hoje de um aquífero que assenta numa rocha ígnea, devido à sua proximidade do magma que se encontra por baixo do Vulcão das Furnas.

Neste momento que produtos fazem parte da gama Ignae?

Os complexos de dia, de noite e de olhos, o sérum e vamos agora lançar a máscara de veneno de abelha em 2018. O veneno de abelha vai funcionar como um tensor, melhorando a aparência geral da pele e estimulando-a a produzir mais colagénio. Estamos a desenvolver outros dois produtos que utilizam um péptido (molécula composta por aminoácidos) extraído das bactérias que vivem nas fumarolas do Vulcão das Furnas e que possuem propriedades regeneradoras. Temos uma grande expectativa em relação a estes novos produtos e os primeiros resultados dos testes são extremamente promissores.

 

Os produtos da Ignae chegaram entretanto até uma conhecida esteticista de celebridades em Hollywood, a Joanna Czech.

​Quando lançámos a Ignae, já conhecíamos a Joanna Czech de nome. É presença constante na Vogue EUA e era conhecida por ser a esteticista da Anna Wintour, a diretora da revista, assim como de várias celebridades em todo o mundo, como a Charlize Theron, Kate Winslet, Kim Cattrall e Sting.

Decidimos enviar a nossa linha para a assistente da Joanna Czech na esperança de ter feedback mas sabíamos que seria difícil porque ela recebe abordagens diárias de praticamente todas as marcas do mundo.

E resultou?

Alguns meses depois, já não nos lembrávamos do assunto, recebemos uma notificação a indicar que a Joanna Czech estava a elogiar a nossa marca no seu instagram. Poucas horas depois recebíamos um email da assistente da Joanna a dizer que ela tinha adorado a nossa linha e queria tê-la no estúdio para usar nas suas clientes. Desde então tem sido a nossa maior embaixadora. Vamos recebê-la em janeiro no Parque Terra Nostra para uma visita.

Além do estúdio da Joanna, nos Estados Unidos, em que outro espaço é possível fazer tratamentos com os vossos produtos?

O spa do Terra Nostra Garden Hotel (dentro do parque) irá começar a utilizar os nossos produtos nos tratamentos a partir de janeiro. Vamos ter alguns tratamentos únicos com os recursos base que já usamos, mas também com outros ingredientes interessantes do ponto de vista dermocosmético.

Os estudos da Ignae foram muito orientados para resultados femininos. É uma linha de cosmética para mulheres?

A maior parte dos nossos clientes são senhoras, mas temos verificado que existem cada vez mais homens a comprar os nossos produtos (aproximadamente 30%). Não distinguimos a pele feminina da masculina uma vez que os nossos produtos destinam-se a atenuar o envelhecimento da pele e as necessidades destes dois tipos de pele são as mesmas. A diferença dos produtos para homem e mulher atualmente no mercado tem sobretudo a ver com a textura e o cheiro, mas o cheiro dos produtos da Ignae é neutro, utilizamos apenas fragrâncias hipoalergénicas para evitar reações ou inflamação. Em relação à textura, os cremes foram formulados de forma a evitar uma sensação de oleosidade e a proporcionar uma sensação de sedosidade, e são bem absorvidos por peles masculinas ou femininas.

Sempre esteve ligado à área da cosmética?

A minha formação inicial foi em Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa, mas desde que comecei a trabalhar estive sempre ligado a áreas regulamentares. Isso deu-me oportunidade de trabalhar posteriormente numa consultora em Bruxelas que prestava assessoria a multinacionais da área da cosmética.

Foi então que se apercebeu dos recursos naturais disponíveis nos Açores?

Sim, as minhas funções obrigaram-me a conhecer em pormenor todos os ingredientes mais utilizados na indústria e a forma como eram incorporados em alguns dos cremes mais populares. Foi assim que comecei a aperceber-me que alguns dos ingredientes mais eficazes ou mais procurados pelos consumidores podiam ser encontrados em São Miguel, onde nasci. Descobri que as ilhas possuíam algumas vantagens devido ao isolamento ou a outras características endógenas, como o vulcanismo, ou o clima.

Como foi passar da teoria à prática?

Comecei a falar da ideia a amigos, o Pedro Oliveira e o António Teixeira, ambos com experiência na área da saúde. E decidimos então criar a nossa empresa de biotecnologia, que é hoje a mãe da Ignae. Desde que regressei a São Miguel, há 7 anos, já fiz formações e cursos de dermocosmética, para além de pesquisar diariamente sobre as propriedades dos ingredientes dos Açores e de outros produtos. Temos um contacto diário com farmacêuticos ou engenheiros químicos e com vários departamentos de universidades e institutos de investigação, que trabalham connosco. Uma das parcerias mais importantes é com o INOVA (Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores), que nos tem permitido adquirir um profundo conhecimento sobre as águas termais dos Açores.

Marlene Rendeiro

Imagem de destaque: Global Imagens