Igreja: Comissão para o Estudo de Abusos Sexuais apresenta plano a 10 de janeiro

Pedro Strecht - pedopsiquiatra
Lisboa, 10/10/2018 - Pedro Strecht - pedopsiquiatra . (Leonardo Negrão / Global Imagens)

A Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal vai apresentar, na segunda-feira, 10 de janeiro, o plano de trabalho que orientará a sua ação até final do ano, quando deverá apresentar um relatório sobre a situação.

Em conferência de imprensa marcada para o final da tarde na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, que lidera a comissão, aproveitará o momento para também apresentar publicamente os restantes membros do grupo de trabalho, que integra o psiquiatra Daniel Sampaio, o antigo ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e a cineasta Catarina Vasconcelos.

Na sua apresentação como coordenador da comissão, em 2 de dezembro de 2021, Pedro Strecht apelou às vítimas para que falem sobre os abusos que sofreram, vincando a “utilidade” da partilha desses casos para evitar repetições futuras, sem deixar de assegurar o “absoluto respeito e sigilo”, bem como o anonimato das vítimas.

“Não podemos mudar o passado, mas podemos sempre construir um futuro melhor e livre da repetição deste tipo de situação junto dos vossos filhos, netos ou simplesmente de todas as crianças e adolescentes em que certamente podemos rever partes de nós mesmos”, afirmou.

O pedopsiquiatra alertou, no entanto, que a equipa não vai fazer investigação de natureza criminal, ao mesmo tempo que realçou a vontade da Igreja de saber a verdade.

De acordo com Pedro Strecht, o trabalho desta comissão independente vai decorrer ao longo de 2022, num espaço físico “descaracterizado” e “autónomo” da Igreja, estando prevista a apresentação de um relatório no final do ano. O financiamento dos trabalhos será assegurado pela Comissão Episcopal Portuguesa (CEP), mas estará aberto a eventuais contribuições de outras instituições.

Por sua vez, o presidente da CEP, o bispo José Ornelas, reivindicou a importância de se trilhar “um caminho de verdade, sem preconceitos nem encobrimentos” para a Igreja Católica portuguesa.

O também bispo de Setúbal reforçou o interesse da Igreja em apurar a verdade, mas evitou traçar expectativas sobre as descobertas e conclusões da comissão, a quem garantiu que terá meios de trabalho.

“Não sei o que espero, se soubesse não precisava de tanto trabalho. Assusta-me mais não saber do que a realidade que vai surgir. E que surja o mais realisticamente possível e o mais certa possível: este é o nosso interesse. Não vamos negar os meios necessários para facilitar a própria investigação. Será feito de acordo com as sugestões e as necessidades da comissão para a realização do seu trabalho”, concluiu.

Entretanto, a CEP espera ter constituído antes da Assembleia Plenária de abril o grupo coordenador nacional das comissões diocesanas de proteção de menores e adultos vulneráveis.

A constituição deste grupo, que foi anunciado no mês de outubro de 2021, não tem nada a ver com a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.

Este grupo coordenador, cuja constituição tem sido atrasada devido à situação pandémica, terá como objetivo definir critérios e procedimentos comuns às 21 comissões diocesanas, bem como prestar-lhes apoio, nomeadamente na gestão da informação, informou o secretário da CEP, padre Manuel Barbosa, no final da reunião do Conselho Permanente da Conferência de dezembro.

Quanto à constituição do grupo que fará a coordenação das 21 comissões diocesanas, Manuel Barbosa disse que já existem “alguns nomes” equacionados, mas “não está ainda nada definido”.

LUSA