Igualdade de género económica só daqui a 170 anos

Desigualdade de género

A propósito da entrega na UNESCO da proposta de Declaração Universal da Igualdade de Género, criada por uma equipa portuguesa, recuperamos este artigo de outubro de 2016, com os dados mais recentes sobre a desigualdade económica por género.

 

A igualdade de género em termos económicos só deverá ser atingida dentro de 170 anos. A previsão é de um relatório do Fórum Económico Mundial, divulgado esta quarta-feira, 26 de outubro, e representa um retrocesso em relação aos 118 previstos em 2015.

As projeções baseadas em dados sobre as diferenças globais entre géneros indicavam, em 2015, que o fosso poderia fechar-se em 2133. Mas o processo inverteu-se desde então e o período aumentou para 2186.

“Ao ritmo atual, e tendo em conta o alargamento da desigualdade desde o ano passado, o fosso só deverá ser fechado dentro de 170 anos”, especifica o relatório de 2016.

Analisando fatores como a educação, saúde e sobrevivência, oportunidades económicas e participação política e seguindo um método de quanto mais elevada a percentagem, menor a desigualdade, o Fórum Económico Mundial revela que, globalmente, a igualdade se situa nos 68%, mas em termos económicos desce para os 59% – apesar de esta proporção ser a melhor desde 2008.

As mulheres ganham, em média, pouco mais de metade do que os homens, apesar de em geral trabalharem mais horas, e a representação do sexo feminino em postos de responsabilidade também se mantém baixa. São apenas quatro os países em todo o mundo que têm o mesmo número de homens e mulheres a exercerem as funções de deputados, funcionários de altos cargos e diretores, ainda que em 95 países existam atualmente tantas mulheres como homens com formação universitária.

Educação e política reduzem o fosso
A educação é a área em que mais se avançou, com o Fórum Económico Mundial a atribuir-lhe 95% em termos de igualdade. A saúde e sobrevivência contabilizam 96%, apesar de refletirem uma ligeira deterioração.

Aqui, destaca o relatório, “dois terços dos 144 países incluídos no relatório deste ano podem gabar-se de ter acabado completamente com a desigualdade de género no que toca à proporção de géneros no nascimento, enquanto mais de um terço fez fechar o fosso totalmente em termos de esperança de vida saudável”.

O setor político é aquele em que a diferença de género é mais pronunciada, mas é também onde se verificaram mais desenvolvimentos desde que o Fórum Económico Mundial começou a medir o fosso entre géneros, em 2006.

A igualdade de género situa-se agora em 23%, mais 1% que em 2015, mas quase 10% mais elevado que em 2006.

No entanto, as melhorias acontecem tendo pontos de partida muito reduzidos: apenas dois países alcançaram paridade parlamentar e apenas quatro em cargos ministeriais.

O Fórum salienta, contudo, que há “países que começam a disputar a tradicional hegemonia das nações nórdicas no ‘ranking’ da igualdade de género”.

Apesar de os quatro primeiros lugares, em termos de igualdade de género, pertencerem à Islândia, Finlândia, Noruega e Suécia, o quinto país mais bem colocado no índice global é o Ruanda, que ultrapassa a Irlanda, em sexto lugar.

Os países da Europa Ocidental e a América do Norte são as regiões com maior igualdade de género. No entanto, quatro países da África Subsariana ocupam os primeiros 20 lugares da lista – Ruanda (5.º), Burundi (12.º), Namíbia (14.º) e África do Sul (15.º) – colocando a região na segunda posição. Seguem-se a América Latina e o Caribe, a Europa de Leste e a Ásia Central.

A Ásia Oriental e o Pacífico conseguiram 68% de igualdade de género, enquanto o Médio Oriente e o Norte de África são as regiões pior classificadas, conseguindo apenas 61% de igualdade de género.

Portugal aumenta desigualdade
No ranking das 144 nações que figuram no relatório, Portugal ocupa o 31.º lugar, mas desce de posição nos índices de participação e oportunidade económica (46.º).

A nível da formação académica, está no 63.º e na saúde e sobrevivência no 76.º posto. O empoderamento político é onde o país aparece melhor colocado, no 36.º posição.