Kim Petras é primeira transexual a vencer Grammy de Melhor Performance Pop Duo

65th GRAMMY Awards - Show
[Fotografia: Frazer Harrison / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP]

“Sou a primeira mulher transexual a vencer este prémio”, disse Kim Petras no palco da Crypto.com Arena, em Los Angeles. “Quero agradecer a todas as incríveis lendas transexuais, que abriram as portas antes de mim, para que eu pudesse estar aqui”, afirmou a artista alemã, visivelmente emocionada.

A canção “Unholy”, incluída no quarto álbum de estúdio de Sam Smith “Gloria”, chegou ao topo da Billboard Hot 100 em outubro de 2022 e foi considerada quase de imediato um hino da comunidade LGBTQ+. Foi a consagração de Kim Petras depois de uma década a tentar a sua sorte na indústria.

“Estou a pensar nas pessoas que me disseram que eu ia ser uma artista de nicho porque sou transexual e a minha música só ia tocar em discotecas gay”, disse Petras aos jornalistas, nos bastidores, depois de receber a estatueta. “As pessoas têm de julgar menos e espero que haja um futuro em que a identidade de género e todas estas etiquetas não importem tanto e as pessoas possam ser quem são”

Há muito que os dois artistas procuravam a fórmula certa para fazerem música juntos, sendo que Sam Smith, que se identifica como não-binário, foi um dos maiores apoiantes de Kim Petras desde o início da sua carreira.

“Esta canção tem sido uma incrível jornada para mim”, disse Petras, que atribuiu a Madonna parte do seu sucesso, devido à luta histórica da “Material Girl” pelos direitos LGBTQ+.

“Não me parece que estaria aqui se não fosse pela Madonna”, disse Petras em palco, agradecendo também à sua mãe por ter acreditado que ela era uma rapariga.

Minutos mais tarde, seria a própria Madonna a apresentar a performance ao vivo de Kim Petras e Sam Smith, que interpretaram “Unholy” na cerimónia num palco rodeado de fogo.

“Eis o que eu aprendi depois de quatro décadas na música: se te chamarem chocante, escandalosa, perturbadora, problemática, provocadora ou perigosa, estás definitivamente no caminho certo”, disse Madonna.

“Estou aqui para agradecer a todos os rebeldes que estão por aí a abrir um novo caminho e a aguentarem o impacto disso”, continuou. “Têm de saber, todos vocês, agitadores por aí, que o vosso destemor não é invisível. Vocês são vistos, são ouvidos, e mais que tudo, são apreciados”.

Madonna elogiou o que considerou ser a coragem de Kim Petras e Sam Smith, que se “elevaram acima do barulho e da parvoíce” em direção a algo “profano” (‘unholy’, em inglês).

Mais tarde, na sala de imprensa, Petras voltou a falar da influência de Madonna.

“A Madonna é uma artista tão provocadora e inovadora que ambos nos sentimos muito inspirados por ela nesta performance”, disse. A atuação procurou fazer uma crítica da forma como a religião rejeita pessoas como Petras e Smith.

“Cresci com curiosidade sobre a religião e a querer fazer parte dela, mas lentamente apercebi-me que ela não me quer”, explicou Petras. “A performance foi uma opinião sobre não poder escolher a religião, não viver como as pessoas podem querer que vivamos”, adiantou. “Como transexual, não sou desejada na religião”.

Esta distinção da Academia de Artes e Ciências de Gravação marcou uma noite que também foi histórica por consagrar Beyoncé como a artista que venceu mais prémios Grammy na história da música, ultrapassando o maestro Georg Solti.

A 65ª edição dos prémios Grammy teve apresentação do comediante Trevor Noah.