E se medíssemos o Índice de Felicidade Escolar?

Era normal vermos uns traços nas paredes das casas e das escolas indicando o crescimento dos filhos e dos educandos à medida que estes iam avançando no Tempo. Hoje, poucas são as paredes onde isso se vê, sobretudo nas escolas. Restam algumas, forradas a papel de elevada gramagem, onde essa informação passou a estar escrita, evitando assim uma pintura anual à escola.

Esse tracejado transmitia a todos o crescimento físico de cada um. Entre um traço e outro ficava sempre um espaço onde cabiam todas as memórias criadas na vida da escola, e tanto cabia nele: as brincadeiras de recreio entre o Miguel e a Sara; as reguadas do Bruno e as lágrimas do Manuel; os jogos de berlinde entre a equipa da Sala 2 e a Sala 5. Espaços promovidos por todos e por tudo, onde se aprendeu alguma coisa ou nem por isso.

Estamos no início de mais um ano letivo, a tempo de caiar as paredes das nossas escolas. Uma sala branca, numa escola limpa pronta a ser conquistada dentro e fora dos muros escolares. Muitos professores continuarão a desempenhar a sua tarefa de eterno “aprendiz de burocrata” e a não aprender nada com a escola. Valem-nos todos os restantes, que são muitos, muitos mais. Acredito. Aqueles que voltarão a desenhar traços nas paredes, de tempo a tempo, fazendo daí o seu mais valioso ranking de sucesso na escola, o Índice de Felicidade Escolar. Uma oportunidade única de sucesso na escola! Um ranking com algumas variáveis como: cooperação, comunicação, partilha, escuta, diferenciação, prazer, interação, felicidade.

Ser professor é duro e exigente. O desafio é diário. Os muros crescem à frente dos professores a uma velocidade superior do que em qualquer jogada de Minecraft. Apesar de tudo isto há os que continuam a ter paixão pelo que ensinam e pelos seus alunos, que continuam a ser mediadores de saberes. São eles que guiam o olhar dos seus educandos para o conhecimento de forma reflexiva, permitindo-lhes ler o mundo em que vivem, tornando-os humanos autónomos e responsáveis. São eles e os seus alunos que farão com que o ranking do Índice de Felicidade Escolar esteja no topo da tabela.

Não adianta acumular conhecimento e este ser apenas um peso nas nossas mochilas. Adianta saber olhar, ler todas as variáveis e dar sentido ao que se comunica. Contudo, há um risco inerente a esta atitude… não estranhem que vos chegue à escola um recado na caderneta dos vossos alunos dizendo “Caro Professor, solicitamos a marcação de uma reunião a fim de saber porque razão está o meu educando tão feliz na escola.”. Professores e famílias, no início deste ano letivo não se esqueçam de desenhar o traço do Índice de Felicidade Escolar de cada um dos vossos alunos e educandos. Aproveitem para as famílias riscarem os seus índices na parede de casa e os professores na parede da sala de reuniões. Não se esqueçam que um dos maiores propósitos da educação, nos dias de hoje, é o de ajudar a pensar e não a obedecer.

(Obrigada David Machado pelo teu livro “Índice Médio de Felicidade”)


Rita Alves, Professora e Diretora da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada