Inés Arrimadas: a voz contra a independência da Catalunha

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Foram palavras duras, as que Inés Arrimadas dirigiu ao presidente do Governo da Catalunha, que hoje assinou a declaração de independência mas que suspendeu os seus efeitos de imediato. Na sessão plenária da assembleia de deputados da região autonómica espanhola, a presidente dos Ciudadanos da Catalunha – um grupo parlamentar que nasceu da sociedade civil durante os anos da crise, e que se alinha no centro-direita – falou em castelhano à Câmara (o que nestes dias denuncia uma posição política pela integridade do território espanhol) para afirmar que “o que estamos a viver agora não é bom para ninguém e que é preciso ir à procura do diálogo, do consenso e do sentido comum. Mas primeiro temos que devolver a democracia e a normalidade institucional à Catalunha. Acreditamos que isso só vai acontecer com mais democracia, com urnas de verdade, e também digo que a nós as urnas não nos metem medo. Repito-lhe sr. Puigdemon, não nos vai partir o coração em três pedaços. A maioria dos catalães acredita que a Catalunha é a sua terra, a Espanha o seu país e a Europa o seu futuro.”

Inés Arrimadas usou também termos como “golpe anunciado” e continuou o discurso com acusações contundentes, dizendo que Puigdemon comprou os meios de comunicação que estão a dar voz ao sim, que o referendo foi ilegal, que a democracia não é uma preocupação deste governo, que as fronteiras da Catalunha são para acrescentar “o meu partido anda há onze anos a dizer que os senhores são nacionalismo, do pior nacionalismo que existiu na Europa. (…) Porque o nacionalismo identifica inimigos internos e externos, como a dizia a senhora de Forcadell [presidente do parlamento catalão]: “Não são povo da Catalunha” ou o senhor de Turull: “São súbditos, os que não vão ao 1 de outubro.” Ou inimigos externos, o “Espanha rouba-nos”.

Arrimadas diz também quem rouba a Catalunha são os político corruptos, “como alguns da cúpula CIU”. No discurso de 14 minutos afirma ainda que a Catalunha não está unida pela independência, diz que a maioria não está silenciosa mas silenciada. E pede “eleições de verdade”: “Nesse momento vamos recuperar uma Catalunha nova que supere esta etapa de 30 anos de nacionalismo” e divisionismo.

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O nacionalismo catalão também toca aos portugueses

Para reforçar a ideia de supremacia racial que estará por detrás das intenções de independência da Catalunha, Arrimadas recuperou um artigo do vice-presidente do governo catalão e presidente da Esquerra Republicana, Oriol Junqueras, publicado em 2008 no jornal catalão Avui. A deputada do Ciudadanos leu um excerto do que Junqueras escreveu nesse ano: “Os catalães têm mais proximidade genética com os franceses do que com os espanhóis, mais com os italianos do que com os portugueses e um pouco com os suíços. Por sua vez, os espanhóis apresentam mais proximidade com os portugueses do que com os catalães e muito pouco com os italianos.” O artigo pode ser lido em catalão, na íntegra, no repositório de imprensa Libertad Digital.

O discurso de Arrimadas está a valer-lhe elogios nas redes sociais. A hashtag #inesarrimadas está a ser usada sobretudo no Twitter, no Youtube e no Instagram para elogios e propostas para que suba à presidência da Generalitat. A hashtag com o nome da presidente do Ciudadanos já tinha sido das mais utilizadas em Espanha em setembro de 2017, tudo porque uma mulher com ligações ao movimento pela independência lhe desejou uma violação em grupo, depois de a ouvir num debate na Tele5. A deputada denunciou o caso não só nas redes sociais mas junto das autoridades judiciais e recebeu o apoio de figuras de Estado como Ada Colau, a presidente da Câmara de Barcelona.

Inés andaluza de coração catalão

Nasceu em 1981, na Andaluzia, estudou direito e administração pública, trabalhou no departamento de qualidade de uma petroquímica. Os pais são oriundos de Salamanca mas nos anos 60 e 70 terão vivido em Barcelona. Esse período de vida dos pais parece ter influenciado Arrimadas de tal forma que em criança, terá tido aulas de catalão com uma amiga da escola. Nessa época era já adepta do clube de futebol Barcelona. Em 2008, por razões profissionais, foi viver para a capital da Catalunha. Em 2010, assistiu a um comício do movimento Ciudadanos e filiou-se. Hoje é Secretária-Geral do Partido Ciudadanos da Catalunha, a segunda força política mais votada no parlamento regional, com 25 deputados. Votou contra a independência da Catalunha.