Inês Herédia sentiu ter “obrigação de falar” do seu caso para parar assédio

“Não fui violada, fui assediada”. É com esta frase que a atriz da novela da SIC Paixão revela que foi alvo de assédio quando tinha apenas dez anos e por parte de um treinador de ténis. Numa carta aberta a questionar a posição polémica assumida, entre outros rostos, pela atriz francesa de Catherine Deneuve, Inês Herédia “convida” a sua congénere “a aprender as diferenças e as semelhanças entre sedução e assédio”. E escreve: “Minha querida, valeria a pena passar com distinção a esta cadeira.”

Sem se querer alongar em explicações ou entrar em detalhes sobre o que sucedeu, Inês Herédia explica ao Delas.pt que relatou o seu caso pessoal por considerar que era sua “obrigação falar para garantir que tal comportamento passaria a acontecer cada vez menos”. Porque, sustenta a atriz, “quanto mais mulheres falarem disto, menos vão ser gozadas, quando mais espaço elas tomarem, possivelmente mais os homens podem parar de assediar”.

E contrariando Deneuve, Herédia diz mesmo que “esta não é uma discussão de redes sociais, são avanços e acho que falar fez e está a fazer a diferença”. Indiferente à discussão que se seguirá a esta vaga de denúncias, a atriz vinca que está “pouco interessada em saber quem concorda ou quem discorda deste movimento #TIMESUP, não é essa a questão”. Este movimento “é para as mulheres e não para os treinadores de bancada”.

Vítima de assédio ainda menor e teve de ser ela a ir embora

Na carta que escreveu na plataforma Capazes, Inês Herédia relata que viveu sob a pressão dos contactos sexuais indesejados por parte do treinador durante “três meses”. “Começou por ser uma brincadeira (achava eu), e foi-se esticando, ele a ver até onde conseguia ir. A situação durou uns três meses, e eu, uma criança de 10 anos que só pensava em jogar ténis e em fazer ginástica rítmica, fui confrontada pela primeira vez com o sexo. Demorei TRÊS MESES até ganhar coragem para contar aos meus pais”, relata.

Ao Delas.pt recorda que o caso, à data, não teve qualquer consequência jurídica e acabou por ser a própria – como em tantas outras histórias – “a ter de se afastar e de seguir outro caminho”.

Herédia recorda a “pressão psicológica” que viveu com 10 anos e que, prossegue, “em nada se distingue da pressão psicológica que se sente em adulta”. “A vergonha, a culpa, o medo, o silêncio e a solidão são os mesmos. Mas agora vivo na era da informação, e por isso sei, e por isso denuncio”, justifica.