Inês Sousa Real: porta-voz do PAN que luta pelos animais e tem paixão por frutos vermelhos

Inês Sousa real GI_Reinaldo Rodrigues
Inês Sousa Real é a nova porta-voz do PAN [Fotografia: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens]

É a primeira mulher a ser eleita para o mais alto cargo do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) e celebrou a vitória dos 87,2% dos votos em lista única e no mesmo dia em que fez 41 anos, domingo, 6 de junho.

Paula Inês Alves de Sousa Real tem sido líder da bancada parlamentar do partido e agora assume lugar cimeiro, sucedendo a André Silva, que ocupava o cargo desde 2014.

Mas quem é a nova mulher forte da Comissão Política Nacional da estrutura, quem é a primeira mulher a liderar o PAN e “apenas a quinta mulher em Portugal a assumir a liderança de um partido político” em “47 anos de democracia”, como a própria referiu em dia de fim da reunião magna?

Apesar de considerar que “a eleição de hoje, num contexto político ainda maioritariamente masculino, é também uma conquista de todas as mulheres, sejam elas filiadas no PAN ou as demais mulheres e meninas do país”, defendeu que ainda há caminho a percorrer.

A luta pelos direitos dos animais dentro e fora do parlamento

Formada em Direito, todo o seu percurso tem sido trilhado no âmbito da defesa dos animais, integrando o partido PAN, mas também fazendo parte de órgãos sociais de entidades que os defendem.

Com mestrado em Direito Animal e Sociedade e pós-graduação em Ciências Jurídicas e em Contencioso Administrativo, o seu trabalho parlamentar tem sido amplo e em múltiplas comissões que vão desde os Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias ao da Revisão Constitucional e ao da Transparência e Estatuto dos Deputados [grupos onde é coordenadora]. A estas comissões, de acordo com a descrição feita no site do Parlamento, juntam-se as da Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, Agricultura e Mar. É ainda suplente no grupo de trabalho parlamentar dedicado ao Orçamento e Finanças, à Administração Pública, Modernização Administrativa, Descentralização e Poder Local, ao do acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença COVID-19 e do processo de recuperação económica e social e ao do Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução. Integra também a subcomissão para a Igualdade e Não Discriminação.

Fora do hemiciclo, desenvolve trabalho como deputada municipal na Assembleia Municipal de Lisboa, desde 2017, foi chefe de divisão da Câmara municipal de Sintra até 2019. Durante esses dois anos teve ainda o cargo não remunerado de Provedora Municipal dos Animais de Lisboa.

No âmbito do associativismo, Inês Sousa Real é presidente da mesa da Anietic – Associação Portuguesa para a Ética Animal e membro da comissão diretiva da Jus Animalium, Associação dos Direitos dos Animal.

Negócios nos frutos vermelhos

Desde 2014 que Inês Sousa Real e o marido, Pedro Paulo Brás Soares, detêm, com mais sócios, a empresa Red Fields, situada no Montijo Uma companhia na qual os sócios reforçaram o capital, de 5 mil para 7.500 euros em 2020, e que se dedica, segundo a descrição apresentada nas Finanças, à “promoção, distribuição, comercialização, importação e exportação, de frutas e produtos frutícolas a grosso ou a retalho, em estabelecimentos especializados, a distribuidores ou intermediários, incluindo a venda de forma presencial, à distância ou por via eletrónica”. A Red Fields apresenta-se ainda como uma sociedade que “poderá igualmente efetuar, a título complementar, a prestação de outros serviços e atividades conexas e necessárias à prossecução das atividades dos seus sócios, mediante prévia deliberação pela Assembleia Geral”. No site, a empresa dedica-se à comercialização de framboesa, mirtilo, groselha e amora.

Sendo casada em comunhão de bem adquiridos, o registo de interesses publicado no site da Assembleia da República faz ainda referência a uma atual participação do marido da deputada numa segunda empresa que comercializa frutos vermelhos: a Berry Dream, sediada em Oeiras. Constituída em 2012 e apenas com o marido, esta empresa, segundo informação originalmente disponibilizada nas Finanças, agia na “cultura de produtos agrícolas e frutícolas, nomeadamente outros frutos em árvores e arbustos, designadamente frutos vermelhos, frutos de casca rija, pomoídeas, prunóideas”. Incluía ainda a “cultura de produtos hortícolas, raízes e tubérculos, especiarias, flores, plantas e plantas aromáticas, medicinais e farmacêuticas, materiais de propagação vegetativa, designadamente cogumelos. Produção de azeite”, estando alargada também à preparação, distribuição, comercialização, importação e exportação”. No site da companhia e no que diz respeito à história da empresa fica claro que “a Berry Dream surge da ideia de um casal simpático que resolveu começar um projeto em contacto com a terra, o campo e a natureza … e assim nasceu a Berry Dream”.

Em 2016, a empresa alargaria o seu raio de influência e passaria a abarcar as “atividades de consultoria agronómica e empresarial. Propagação de matéria vegetativa, viveiros de plantas e flores. Importação e comercialização de materiais utilizados na agricultura e/ou atividades conexas. Aluguer de equipamentos e máquinas agrícolas com e sem condutor. Apoio técnico agrícola. Ações de formação e workshops. Exploração de quinta pedagógica”, lê-se no referido site. Em janeiro de 2019, de acordo com a informação disponibilizada online, os dois sócios faziam reforço de capital na empresa.

A liderança do partido: Apelo à união interna

A nova porta-voz do PAN apelou à união interna e comprometeu-se a trabalhar “arduamente” nos próximos dois anos de mandato para fortalecer o partido e fazer avançar as causas que defendem. Palavras ditas no dia de encerramento do congresso do partido, que teve lugar em Tomar.

“Hoje estamos aqui com um desafio e uma responsabilidade enorme entre mãos, um PAN que faz hoje parte e que se consolidou na vida política, que está em crescimento e que tem a enorme responsabilidade de dar resposta aos diferentes desafios da nossa sociedade, o desafio até de crescer ainda mais, o desafio de sermos um partido único, forte, dedicado e que apresenta trabalho”, afirmou Inês Sousa Real.

Falando aos congressistas no encerramento da reunião magna do partido, a dirigente deixou um apelo ao partido: “É isso que vos peço aqui hoje, que trabalhemos arduamente no próximo mandato para que daqui a dois anos possamos estar numa posição ainda mais forte, numa posição que nos permita proteger as causas que defendemos de uma forma absolutamente inquestionável, numa posição que nos permita implementar ideias para o país com uma visão integrada e sustentável“.

Sobre o congresso, a líder destacou o “debate de ideias, o debate interno plural”, considerando que “não significa e jamais deverá significar unanimismo”. “Só isso poderá reforçar o crescimento do PAN, consolidar as nossas ideias, as causas que pretendemos fazer avançar e defender”, apontou, E garantiu que o PAN não vai “deixar para trás” a sua base ideológica ou os seus valores”, recorrendo ao mote da sua candidatura: “As causas primeiro”.

Objetivo: constituir uma juventude partidária

Salientando a aprovação dos estatutos com vista à constituição de uma juventude PAN, Inês Sousa Real apontou que o partido conta com os jovens para “trilhar o caminho”. “Com as vossas aspirações, anseios e visões que devemos trabalhar no cumprimento desta missão, a missão de juntos construirmos o futuro que é de todos e todas nós“, acrescentou.

O VIII Congresso do PAN esteve reunido este fim de semana no Hotel dos Templários, em Tomar, tendo os trabalhos sido pela primeira vez abertos inteiramente à comunicação social. A lista única à Comissão Política Nacional (órgão máximo de direção política entre congressos), que é encabeçada por Inês Sousa Real, foi eleita hoje com 109 votos a favor, 14 brancos e dois nulos. Dos 27 membros eleitos, há 11 nomes novos e 16 dirigentes são reconduzidos, entre eles a deputada à Assembleia da República Bebiana Cunha, que surge em segundo lugar.

Em terceiro candidata-se Pedro Neves, deputado eleito à Assembleia Regional dos Açores, e em quarto Nelson Silva, deputado do PAN na Assembleia Municipal de Odivelas, que vai substituir André Silva, porta-voz demissionário, na Assembleia da República a partir da próxima semana.

Além da Comissão Política Nacional, foi também eleito o Conselho de Jurisdição Nacional, órgão com também apenas uma lista de candidatos. Esta lista, composta por Sandra Teixeira do Carmo (coordenadora), José Castro (secretário) e Cristina Nunes Figueiredo (secretária), teve 102 votos a favor, 19 brancos e três nulos.

De acordo com os estatutos do partido, o porta-voz do PAN (partido oficializado no Tribunal Constitucional em janeiro de 2011) é o filiado que “consta em primeiro lugar na lista mais votada em congresso para a Comissão Política Nacional”.