Dadores perdem anonimato e o ‘palavrão’ que afeta ‘barrigas de aluguer’ autorizadas

Os processos de autorização de celebração dos contratos de gestação de substituição (vulgarmente conhecidos como ‘barriga de aluguer’) pendentes vão ser extintos “por ter deixado de existir suporte legal”, deliberou esta sexta-feira, 27 de abril, o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA). Na galeria acima recorde os detalhes do contrato que era celebrado entre gestante e casal proponente.

A mesma entidade pediu que todas as clínicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) inquiram os seus dadores anónimos sobre o fim do anonimato e pede, afirma o DN, a suspensão de tratamentos que recorram a gâmetas com esta origem.

Definição de ‘início do processo terapêutico’ pode comprometer processos de gestação de substituição já autorizados

Na qualidade de autoridade competente no âmbito da Procriação Medicamente Assistida (PMA), o CNPMA decidiu hoje que “no que respeita aos processos de autorização de celebração dos contratos de gestação de substituição pendentes, por ter deixado de existir suporte legal, declarar extintos os referidos processos“. A decisão foi tomada após análise do acórdão do Tribunal Constitucional (TC) que declarou, com força obrigatória geral, a inconstitucionalidade de vários normativos da Lei da PMA.

A mesma entidade pediu, em, comunicado, que o TC esclarecesse “o conceito ‘início dos processos terapêuticos’ aludido na limitação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade”. O CNPMA solicitava que fosse determinado o que compreende o conceito – tendo em conta os dois processos autorizados – e que ainda que fossem determinadas “as consequências da mesma sobre os processos pendentes”. Na Lei da PMA não há qualquer designação sobre o início do processo terapêutico. O Delas.pt sabe, porém, que em circunstâncias normais neste tipo de procedimentos, aquela designação é usada quando se dá início ao processo medicamentoso.

Ou seja, desconhece-se se os dois casos aprovados já iniciaram terapêutica ou mesmo se resultaram em gravidez, mas sabe-se também que as listas de espera para PMA nos serviços públicos é bastante extensa.

Em abril do ano passado, e após alargamento da técnica a todas as mulheres, independentemente do estado civil ou orientação sexual, eram mais de cinco mil os casos em lista de espera nos centros de PMA públicos. No setor privado, os constrangimentos não são – como é sabido – tão dramáticos, havendo centros sem qualquer lista de espera.

Banco público de gâmetas só tem 31 dadores

Na sequência da decisão do TC no sentido da “eliminação do regime da confidencialidade dos dadores terceiros”, o CNPMA manifestou “múltiplas dúvidas e reservas”. O CNPMA manifesta as suas dúvidas e reservas em relação a “medidas a tomar relativamente aos tratamentos em curso” e sobre “o destino a dar aos embriões criopreservados produzidos com recurso a gâmetas de dadores anónimos”.

O “destino a dar aos embriões criopreservados para os quais foi prestado consentimento para doação anónima a outros beneficiários“, bem como “o destino a dar aos gâmetas criopreservados doados em regime de anonimato”, são outras das questões que levanta dúvidas e reservas ao CNPMA, que esteve reunido na sexta-feira, 27 de abril.

Há ainda a questão da quantidade de dadores. Segundo dados revelados pelo jornal Público, só existem 31: 12 homens e 19 mulheres como dadores efetivos. Isto numa realidade em que o anonimato tem sido um pressuposto.

Em espera e após exames estão 57 homens e 59 mulheres já em fase de consulta para integrar o processo. Ainda na lista de espera inicial estão 53 homens e 98 mulheres.

Demissão e processo disciplinar

A polémica levou já Eurico Reis a apresentar a demissão do CNPMA e o Conselho Superior da Magistratura (CSM) abriu um inquérito disciplinar ao juiz na sequência de uma entrevista em fevereiro, na qual fazia referências ao Tribunal Constitucional, disse à Lusa fonte do conselho. Segundo a mesma fonte, a decisão foi tomada em plenário do CSM a 24 de abril e diz respeito a afirmações sobre a eventualidade de o Tribunal Constitucional chumbar algumas normas da gestação de substituição, o que acabou por acontecer.

Esta sexta-feira, 27 de abril, o vice-presidente do Conselho Superior da Magistratura (CSM), Belo Morgado reagiu à demissão do juiz referindo que as intervenções públicas dos magistrados judiciais devem ser equilibradas e contidas.

https://www.delas.pt/wp-admin/post-new.phpCB com Lusa

Imagem de destaque: Shuttertsock

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https://www.dn.pt/portugal/interior/suspensos-tratamentos-com-dadores-anonimos-9291470.html