Rupi Kaur: “Parte-me o coração que pais e legisladores estejam a tentar proibir este livro”

Rupi kaur
{Fotografia: Amrita SINGH / Rupi Kaur, Inc. / AFP) ]

Rupi Kaur, nascida em Punjab (Índia), é a mais conhecida de uma nova geração de Instapoetas, ou seja, apresentou-se primeiro nas redes sociais, tendo já também editado livros como Leite e Mel, Corpo Casa e O Sol e as Suas Flores, traduzidos em Portugal.

A violência sexual, a saúde mental, a imigração… Nenhum tema é tabu para a jovem de 29 anos e sua franqueza tem-lhe rendido uma base de fãs online, com cerca de 4,5 milhões de seguidores no Instagram.

Mas a abordagem sem rodeios está longe de ser consensual: grupos de pressão de vários estados norte-americanos, como Texas e Oregon, proibiram ou estão a tentar proibir em bibliotecas a existência do seu primeiro livro, Leite e Mel, em escolas e bibliotecas.

“Parte-me o coração que pais e legisladores estejam a tentar proibir este livro”, disse em entrevista à Agência France-Presse (AFP) após uma apresentação da sua mais recente obra, em Otava. Corpo Casa [lançado em Portugal em maio de 2021, pela editora Lua de Papel] destina-se a um público maioritariamente feminino. Nele, a escritora encara a proibição com uma recusa em aceitar “a agressão sexual e a violência sofrida por uma mulher jovem”. “Mas este é um problema maior. Estamos a entrar neste território onde proibimos a cultura e a expressão”, acrescentou.

 

Kaur catapultou-se para o estrelato com a primeira obra autopublicada, em 2014. Da sua coleção Leite e Mel ao seu segundo livro, O Sol e as Suas Flores, a poetisa vendeu mais de 10 milhões de cópias, e as suas obras foram traduzidas em mais de 40 idiomas.

Uma fotografia da poetisa, publicada no Instagram, na qual aparecia deitada de costas, com as calças manchadas de sangue menstrual, fê-la ganhar mais admiradores, uma vez que foi a resposta mordaz a que recorreu para fazer frente à eliminação a que foi sujeita na rede social.

Os poemas de Kaur “não são muito complexos, as figuras retóricas não são muito sofisticadas, mas talvez isso seja exatamente o que o público gosta”, disse Stephanie Bolster, professora de escrita criativa da Universidade Concórdia de Montreal.

Foi o caso de Christine Blair, uma enfermeira de 27 anos a quem o universo de Kaur “abriu as portas” para a poesia. Ao abordar temas como o estupro e as relações interpessoais, Kaur é “muito vulnerável e gosto disso nela”, explica.

AFP