Inteligência Artificial: “Imagens irrealistas do corpo podem levar a maior insatisfação corporal”

Bruna Gomes e Mafalda Sampaio
[Fotografia: Instagram/Bruna Gomes e Mafalda Sampaio]

Nos últimos dias, a internet foi inundada com fotografias criadas por inteligência artificial (IA). Uma simples aplicação de telemóvel surgiu para mostrar às pessoas como poderia ser o futuro: como vão ficar quando estiverem noivas, grávidas ou como serão os filhos que poderão vir a ter.

Numa fase inicial, aquelas imagens, obtidas através de IA, podem ser engraçadas e, aparentemente, inofensivas, mas quais serão as repercussões a longo prazo?

Sofia Marques Ramalho, psicóloga especialista em Clínica e Saúde e professora auxiliar na Universidade Lusíada do Porto, não duvida que a exposição continuada a este tipo de fotografias irreais pode levar a problemas do foro psicológico.

“As redes sociais e o facto de estarmos expostas, durante todo o dia, a imagens irrealistas do corpo humano, pode levar a maior insatisfação corporal. Quanto maior a insatisfação corporal, maior a probabilidade de termos uma perturbação do comportamento alimentar, nomeadamente uma anorexia ou bulimia, e, também, maior a probabilidade de afetar a saúde mental”, referiu a especialista à Delas.pt.

Atualmente, múltiplas marcas defendem um conceito de body positivity, ou imagem corporal positiva, que se foca na aceitação de todos os tipos de corpos e questiona a ideia de corpo ideal imposta pela sociedade. Este movimento pretende unir as mulheres que lutam, incansavelmente, para gostarem de si próprias tal como são, independentemente do formato de corpo, do peso, do tom ou de tantos outros fatores.

As fotografias desenvolvidas pela IA vão contra estes ideais que estão a ser defendidos, uma vez que as mulheres surgem nas imagens bonitas, sempre maquilhadas, com a pele imaculada, sem acne, estrias ou celulite. Detalhes que são normais e que fazem parte do dia-a-dia de todas. “O que não será uma imagem normativa é aquilo que temos acesso nessas imagens criadas pela IA”, reforçou Sofia Marques Ramalho.

“Uma menor satisfação com a imagem corporal, está associada a uma menor autoestima, a menor autoconceito, a menos bem-estar, por isso, a insatisfação com a imagem corporal, apesar de parecer algo superficial, não é. É central, naquilo que é o nosso funcionamento”, explicou a psicóloga, referindo-se ao perigo das expectativas criadas em torno de uma imagem.

“Existem alguns estudos que mostram que esta perturbação dismórfica corporal, pode levar a um maior aumento da procura por cirurgias plásticas ou procedimentos estéticos para tentar, de alguma forma, alcançar uma determinada imagem que idealizamos”, revela a psicóloga.

A busca incessante pela perfeição conduz a decisões pouco ponderadas, que podem ter repercussões negativas no futuro. As cirurgias plásticas existem para permitir às pessoas alterar coisas de que não gostam no seu corpo, mas é importante perceber que as imperfeições existem para tornar cada mulher única.

Fazer uma distinção entre que não é bonito, para aquilo que não é bonito porque não aparece nas fotografias criadas por IA ou filtros do Instagram é um passo importante na jornada de aceitação.

Quando as cirurgias plásticas começam a ser em excesso, o melhor é procurar ajuda terapêutica: “A cirurgia plástica não é uma coisa má. É boa, é importante, se for algo para valorizar a imagem corporal. Mas se sentirmos, a determinada altura, que queremos operar tudo, já pode ser indicativo de que algo não está tão certo connosco”, concluiu Sofia.

Bruna Gomes em fotografia criada por IA
[Fotografia: Instagram/Bruna Gomes]
Virgínia Fonseca em fotografia criada por IA
[Fotografia: Instagram/Virgínia Fonseca]
Recorde-se que a IA tem atingido marcos históricos. Além de diversas famosas terem aderido às fotografias criadas pela aplicação, que permitem ter visão antecipada de momentos futuros, já houve prémios atribuídos a trabalhos criados com recurso a este sistema, como foi o caso do alemão Boris Eldagsen, galardoado em abril passado nos Sony World Photography Awards.