Isabel Mota: a primeira mulher a presidir à Gulbenkian

65 anos, quatro filhos, onze netos. Estes são os números da vida familiar intensa de Isabel Mota. A gestora assume, a partir desta quarta-feira, 3 de maio, os destinos da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e torna-se na primeira mulher a fazê-lo, sucedendo a Artur Santos Silva.

Na carta de intenções e projetos para um mandato de cinco anos, a antiga secretária de Estado de executivos sociais-democratas quer responder a três compromissos: manter a fundação alinhada com os novos tempos, olhar para os mais vulneráveis como principais beneficiários e continuar a dar o relevo à arte e à cultura.

Estes eram os desígnios apresentados por Isabel Mota em dezembro do ano passado, quando aceitou – e foi eleita por unanimidade – presidir a uma entidade para a qual já trabalha desde 1996 e na qual é administradora desde 1999.

Na FCG, a convite do então presidente Emílio Rui Vilar, Isabel Mota ocupou os três primeiros anos a chefiar o departamento de Orçamento, Planeamento e Controlo. Mais tarde, em vésperas da viragem do milénio torna-se membro executivo do Conselho de Administração da entidade, onde atualmente tutelava as pastas dos Serviços de Bolsas e os programas em torno do Desenvolvimento Humano, Inovar Saúde, Qualificação das Novas Gerações.

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A par da Gulbenkian, Mota é membro do Comité de Supervisão da Partex Oil and Gas (Holdings) Corporation e, desde julho de 2015, membro não executivo do Conselho de Administração do Banco Santander-Totta.

Política e obras publicas

Esta quarta-feira, quando Isabel Mota receber formalmente a pasta, é possível contar com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Afinal, assessorou-o quando este foi líder do PDS e para as questões europeias.

Leonor Beleza foi, a par com Isabel Mota, membro de governos do PSD. Estiveram juntas no primeiro executivo de Cavaco Silva (entre 1985-90). Hoje, a presidente da Fundação Champalimaud, congratula-se por ver Mota a assumir os destinos da Gulbenkian.

“Vejo com muito agrado uma mulher à frente de uma organização tão importante como a Gulbenkian, mas fico particularmente contente pelo facto de essa mulher ser a Isabel Mota”, afirmou Leonor Beleza ao jornal Público, vincando que “ela conhece muitíssimo bem” a instituição, “provavelmente muito melhor do que outras pessoas com quem trabalha.”

Nesse executivo, Isabel Mota desempenhou funções de secretária de Estado do Planeamento e do Desenvolvimento Regional, no ministério tutelado por Luís valente de Oliveira, tendo sob a sua alçada as negociações com a União Europeia para os Fundos Estruturais e de Coesão para Portugal. Na altura, as responsabilidades que tinha e os montantes com os quais trabalhava valeram-lhe a alcunha de “Senhora Milhões”, conta a revista Visão.

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Ferreira do Amaral lembra-se desses tempos, afinal ele era ministro das obras públicas no mesmo executivo: de Cavaco Silva.

“Ela estava à frente dos Fundos Europeus e eu era um utilizador dos Fundos Europeus. Ela arranjava o dinheiro e eu gastava. (…) Sempre admirei a competência. Sabia muito bem o que estava a fazer”, conta o ex-ministro ao Diário de Notícias.

Também ao DN, Valente de Oliveira – ministro que tinha Isabel Mota como secretária de Estado – não poupa nos adjetivos. “Arguta, inteligente, sabedora e uma negociadora com imenso empenhamento”, referiu, lembrando que a convidou para o seu ministério anos depois de uma primeira boa impressão.


Percorra a galeria acima para ficar a conhecer alguns momentos da carreira da atual presidente da Fundação Calouste Gulbenkian


Na verdade, estava ela no Gabinete para a Cooperação Económica Externa do Ministério das Finanças, cargo que desempenhou entre 1978 e 1986. Ainda em 86, foi também conselheira na Representação Permanente de Portugal, em Bruxelas. É nessa altura que o diplomata Francisco Seixas da Costa, conta o próprio esta quarta-feira de manhã no seu blogue duas ou três coisas, se cruza com Isabel.

Atualmente e já na pele de presidente do Conselho Consultivo para a Delegação de Paris da Fundação, Seixas da Costa tratava-a por “chefe”. Agora, revela que vai ter “de descobrir um qualificativo que possa representar um upgrade a esse título”.

Sobre a sua “chefe”, o diplomata descreve-a como “uma pessoa extremamente agradável e divertida”.

Isabel Mota foi, lê-se no currículo, conselheira do Conselho Económico e Social – Portugal, entre 2010 e 2016 e membro do Comité de Especialistas do Ministério do Desenvolvimento Regional (em 2013).

Foi também membro do Conselho Geral da Telecel Vodafone, entre 2001-2003. Ainda nesse ano e até 2004, foi membro da Comissão Estratégica dos Oceanos e coordenou a elaboração da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável (2004).

Família como prioridade

Nascida em Lisboa, a 15 de agosto de 1951, Isabel Mota licenciou-se, em 1973, em Finanças pela Universidade de Lisboa. Assim que concluiu a formação superior tornou-se, durante dois anos, assistente Instituto Superior de Economia.

Pouco dada à vida académica paralela que não os estudos, os colegas recordam-na como boa aluna. Ainda estava a meio do curso de Finanças quando conta a revista Visão, casou com o namorado, que era engenheiro.

Desta união nasceram Rodrigo, Inês, Francisco e António. Não esconde que a família é prioritária e que consegue cumprir o ritual de domingo: reunir filhos e netos à mesa.

Em 1977, foi administradora do Instituto para a formação de Executivos da Universidade Nova de Lisboa.

Oriunda de uma família tradicional, o pai de Isabel Maria de Lucena Vasconcelos Cruz de Almeida Mota era militar, o que, por via de missão, levou a família a viver em Moçambique durante dois anos.

A atual presidente recebeu distinções como a Medalha de Serviços Distintos Grau “Ouro” do Ministério da Saúde e os graus de Grande Oficial e Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. É Vogal do Conselho das Ordens Honoríficas Portuguesas (desde 2011) e foi membro do Júri do Prémio Carreira da Universidade Católica de Lisboa (até 2014).

Foi Administradora do Instituto para a formação de Executivos da Universidade Nova de Lisboa (1977) e membro do Conselho Geral da Telecel Vodafone (2001-2003). Foi membro da Comissão Estratégica dos Oceanos (2003-2004) e coordenou a elaboração da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável (2004).

O universo da Gulbenkian

Instituição sem fins lucrativos criada com bens do mecenas arménio Calouste Gulbenkian (1869-1955), legados a Portugal sob a forma de fundação, a partir de disposição testamentária, a Gulbenkian tem como principais atividades, exercidas em quatro áreas estatutárias, a arte, a beneficência, a educação e a ciência.

A FCG possui ainda uma orquestra própria, um coro, bibliotecas, salas de espetáculos e duas coleções de arte, uma de arte antiga e outra de arte contemporânea, expostas ao público.

O anúncio da renovação da presidência da Gulbenkian deu-se em dezembro ao ano passado, antes do fim do mandato do atual presidente, Artur Santos Silva, que completou 75 anos.

Imagem de destaque: João Paulo Dias