Isto não é roupa de P…!

A roupa mais ousada que uma mulher usa é muitas vezes desculpa para agressões – tanto no casamento como no namoro. Temos uma notícia para dar: não existe isso de roupa de «prostituta». Todas são legítimas. E as mais ousadas podem mesmo ser um ato de liberdade.

A roupa que vestimos passa uma imagem sobre nós aos noutros, mas não deve ser o único argumento para que nos julguem: o que nos define é o nosso comportamento e não aquilo que temos vestido. Também é verdade que o contexto social e cultural em que vivemos nos impõe alguns código de vestuário, e, nas sociedades em que vivemos, roupa mais ousada e sugestiva é automaticamente associada à sexualidade e à falta de pudor. Uma mulher que se sente mais à vontade com o seu corpo e que não se inibe de dar nas vistas com um modelo mais justo, não é necessariamente alguém que faz dos seus atributos comércio.

Entre mulheres é muito comum um olhar crítico e condenador. Seria hipócrita dizer que nunca condenámos uns calções mais curtos ou que nunca deixámos de usar um decote maior com medo dos olhares indiscretos e de sermos automaticamente rotuladas de promíscuas. Mais grave ainda que os olhares e juízos de valores dos outros, é este preconceito ligado às mulheres e à forma como se vestem estar de tal forma enraizado que se torna por vezes uma ameaça. Muitas vezes sentimos que uma mini saia ou decote nos torna mais vulneráveis a abusos, por poder sugerir uma predisposição para ter algum tipo de contacto sexual.

Esta ameaça é real e prova disso é o facto de muitas vezes a forma como uma vítima de abuso sexual se veste se tornar justificação para o agressor que vê no vestuário a legitimidade em forçar a relação. Segundo o estudo do barómetro da comissão europeia sobre violência de género, publicado em novembro de 2016, é para 14% dos homens e 11% das mulheres em Portugal aceitável forçar uma relação sexual com base na roupa que a vítima tem vestida.

Uma realidade que não difere muito da Europa: 10% dos europeus inquiridos atribuíram à roupa considerada provocadora uma justificação aceitável para uma relação sexual sem consentimento de ambas as partes.

Foi com os olhos postos nesta realidade que a Elle Brasil de Dezembro de 2015 fez quatro capas com as frases “Vestida ou pelada, quero ser respeitada”, “Meu decote não dá direitos”, “Meu corpo as minhas regras” e “Minha roupa não é um convite”. Por baixo de cada frase estava uma fotografia diferente a preto e branco com uma modelo vestida de forma ousada.

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A a roupa mais ousada é também desculpa para abusos físicos e psicológicos que começam muitas vezes no namoro. Por vezes jovens deixam de usar roupa que sempre vestem porque quem está ao lado prefere a versão mais recatada. Um companheiro que controla aquilo que vestimos é um dos sinais de alerta apontados pela APAV como indício de violência no namoro. É, também, sintoma de agressão um comentário feito na rua, um vulgar piropo.

Por tudo isto, escolher roupa mais ousada pode ser também entendido como uma forma de libertação. E de igualdade. Na galeria irá encontrar uma lista de roupa que é associada de forma negativa à sexualidade e para a qual deveríamos todos olhar de outra forma. A solução não passa por deixar de vestir estas peças de roupa, mas sim por não condenar nem fazer juízos sobre quem as veste. Afinal, as prostitutas não usam farda!


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