Ivanka Trump ganha poderes na Casa Branca e gera polémica

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Primeiro mudou-se para a Casa Branca com a garantia de que não teria funções políticas. Agora, a filha mais velha do presidente dos Estados Unidos da América, Ivanka Trump, ganhou um gabinete próprio no segundo andar da residência oficial do chefe de Estado, mesmo ao lado da atual conselheira para a Segurança Nacional, Dina Powell.

Para lá do seu novo gabinete, a empresária aguarda, esta semana, por uma autorização formal de segurança e de dispositivos de comunicação do governo. Chegam, assim, indicações claras de que a filha do magnata – também ela empresária – começa a ganhar terreno na posição de funcionária permanente na administração norte-americana.

É a indefinição quanto ao seu papel que está a alarmar analistas e especialistas, considerando que se está próximo de um limite da ética. O advogado de Ivanka, Jamie Gorelick – afirma o site Politico – vem dizer que não haverá um salário associado, funções formais atribuídas e um juramento formal, como é requerido.

Ora, a verdade é que quase parece o papel de primeira-dama. Mas esse está, segundo o site oficial da Casa Branca, entregue a Melania Trump, mulher do atual presidente. Mas já lá vamos!

Ivanka Trump: “os olhos e os ouvidos” do pai na Casa Branca

De volta à filha mais velha, diz o jurista que ela será “os olhos e os ouvidos” do pai, lidando com mais matérias do que apenas o empoderamento das mulheres, como anteriormente avançado.

A imagem que, na semana passada, correu mundo, com a filha do presidente a olhar para a chanceler alemã Angela Merkel – na sua primeira visita oficial à Casa Branca -, fez subir o sobrolho de especialistas que criticam esta indefinição, sobretudo em matéria de eventuais conflitos de interesse.

Estes analistas lembram que se trata de uma posição com todos os requisitos para um cargo, mas que não o é. Não recebe, tal como uma primeira-dama também não tem salário – por não ser funcionária, por não ter sido eleita e por ter um papel representativo -, tem gabinete, tem segurança e comunicações, tal como o pelouro da mulher que está ao lado do presidente dos Estados Unidos da América.

Tem tudo, mas não o cargo. Mais: senta-se ao lado de conselheiros nacionais, mas não faz o juramento. Trata-se de uma indefinição para a qual não existem quaisquer regras e que está a alarmar os especialistas da ética.

Primeira-dama ou primeira filha?

Durante a campanha para as presidenciais, Ivanka começou a tomar um lugar de destaque na jornada do pai. Discutiu-se inclusivamente se a empresária tomaria o lugar de Melania. Ainda nesse período eleitoralista, Chelsea Clinton, filha da candidata democrata Hillary, começou a ganhar terreno. A pergunta sobre o que seria e quem tomaria o lugar ao lado do candidato eleito começou logo a ter lugar na imprensa.


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Porém, no caso de Trump, Melania ficou com o lugar de anfitriã ao lado do marido – o site da Casa Branca faz uma breve referência ao papel – e tem, desde 1 de fevereiro, uma chefe de equipa que a acompanha quer na gestão da agenda, quer no quotidiano do gabinete, com experiência desde a presidência do republicano George W. Bush. Portanto, este também não é o lugar de Ivanka.

A imprensa política da especialidade reitera, agora, que se trata de uma primeira vez que um filho adulto de um presidente norte-americano trabalha na administração. Porém, segundo as biografias oficiais dos presidentes dos EUA apresentadas no site da Casa Branca, tal tinha tido lugar, por exemplo, entre 1837 e 41, sob o mandato de Van Buren.

A questão é que o caso de Ivanka vem juntar-se à polémica anterior em torno da nomeação do genro do presidente e marido da empresária, Jared Kushed, para a estrutura de conselheiros da Casa Branca, tendo sido submetido a juramento.

No entanto, também aqui há questões que estão a ser levantadas e que passam pela eventual violação das leis anti-nepotistas. Nesta matéria, o departamento de Justiça definiu que este enquadramento jurídico só se aplica nas nomeações em agências.

Sobrinhas, noras, irmãs e as mulheres dos outros

Nos Estados Unidos da América, as funções de primeira-dama não estão contempladas na Constituição. Não estando o papel definido legalmente, tal emana sempre do que é a personalidade da mulher ou o perfil da administração que é levada a cabo pelo presidente.

Certo é que se trata de uma função não remunerada, que não pode acumular com qualquer cargo político, muito menos de nomeação presidencial – incorrendo na acusação de nepotismo – e tem direito, desde 1978, a ter uma equipa paga e que geralmente ronda os 15 funcionários (assessores de comunicação, secretários, autores de discursos). Antes daquela data, as funções de primeira-dama eram suportadas pela fortuna pessoal do presidente.

A verdade é que o cargo só pode ser alcançado por via do casamento, mas nada impede que um presidente – seja solteiro, viúvo ou perante incapacidade da mulher – fazer um convite especial para o papel de anfitriã na Casa Branca. E não faltaram casos, sobretudo no século XIX.

Thomas Jefferson chegou viúvo ao mais alto cargo dos Estados Unidos da América, em 1801. Em algumas das ocasiões, recorreu a Dolley Madison – que viria a ser primeira-dama por via da eleição do marido James Madison (1809-1817). Esta assistiu Jefferson nos assuntos sociais.

Também viúvo, Martin Van Buren (1837-1841), o oitavo presidente dos EUA, delegou o cargo na nora, Angelica Singleton – apresentada ao filho mais velho do então chefe de Estado, Abrãao, por Dolley Madison. Enquanto o filho foi secretário do pai, a mulher deste assumiu o papel de primeira-dama.

Em 1857, a história voltava a trazer novas ‘estórias’ aos corredores da Casa Branca. Com James Buchanan, solteiro, a assumir a presidência, foi a sobrinha, Harriet Lane, quem ficou encarregue de assumir o papel de primeira-dama, até 1861.

Um ano antes de chegar ao mais alto cargo da nação, em 1880, Chester A. Arthur perdia a mulher, Ellen Arthur. O 21º presidente dos EUA nunca quis delegar esse lugar a ninguém. Episodicamente, pediu à irmã, Mary McElroy, para tomar conta da filha e assumir publicamente alguns papéis sociais.

Mais recentemente, nos mandatos de Barack Obama (2009-2015), Michelle entrou na Casa Branca como primeira-dama, mas foi o agregado – com Malia e Sasha – que saiu de lá com a fama de ter sido a “primeira família” a ocupar os corredores de Washington. Mais do que um gabinete, foi uma mensagem que os Obama passaram ao longo de oito anos de administração.

Imagem de destaque: Jonathan Ernst/Reuters