James Bowen: “O gato Bob adotou-me a mim. Completamente”

A história de amizade entre James Bowen e Bob começou em 2007, mas o mundo só a conheceu alguns anos mais tarde quando se converteu num bestseller literário, através do livro ‘A Minha História Com Bob’ (publicado pela Porto Editora em 2012). James encontrou Bob numa fase conturbada da sua vida. Ganhando a vida como músico de rua em Londres – e, ocasionalmente, como vendedor da The Big Issue (comparável à revista CAIS) -, começava a recuperar de um percurso marcado pela toxicodependência e pela experiência de ter sido sem-abrigo, quando um dia, ao voltar a casa, encontrou um gato laranja, abandonado e ferido. Cuidou dele e a partir daí tornaram-se inseparáveis.

Mais do que um companheiro, Bob foi uma espécie de salvação para James. Seguiram-se outros livros e um filme que dão conta disso mesmo e que revelam como se desenvolveu esta comovente relação de amizade e companheirismo, que tem inspirado milhões de pessoas em todo o mundo. E promete continuar a fazê-lo com o novo livro O Que Aprendi com Bob – Lições de Vida de Um Gato de Rua’, lançado em novembro, nas livrarias nacionais, numa edição da Porto Editora. A obra – em que parte das receitas revertem para a Associação Animais de Rua – é o pretexto para a primeira visita do pequeno felino a Portugal.

O Delas.pt aproveitou o momento para marcar encontro com a dupla, porque mesmo não falando nenhuma língua humana, Bob acompanha frequentemente James nas entrevistas e é invariavelmente o centro da conversa – que, neste caso, começou com entrevistado e jornalista, ainda em off, a trocarem impressões sobre os seus respetivos gatos de estimação. Não se estranhe, por isso, que às tantas esta entrevista se pareça mais com uma troca de ideias entre amantes de gato, porque no essencial é isso que são todos os fãs de Bob.

Sem revelar muita coisa sobre o novo livro, ‘O Que Aprendi com Bob – Lições de Vida de Um Gato de Rua’, gostava de lhe perguntar qual a grande lição que o Bob lhe ensinou?
A maior lição que o Bob me ensinou… Bom, há muitas. Acho que uma delas é nunca julgar um livro pela capa. Os gatos não julgam as pessoas pela sua aparência, pelo seu comportamento e coisas do género. Eles simplesmente conseguem sentir aquilo que as pessoas são e aceitam-nas como são. E também me ensinou sobre trabalhar em equipa e criar laços e a valorizar as pequenas coisas do dia-a-dia e tirar proveito disso.

Como é a vossa rotina atualmente?
Atualmente, fazemos muitas ações de solidariedade, temos feito a tournée de promoção do novo livro no Reino Unido, agora estamos aqui [em Portugal], veremos o que acontece a seguir.

Então, basicamente não têm uma rotina, pelo menos, muito rígida. Mas os gatos são animais de rotinas.
Sim, são animais de hábitos e o Bob, sem dúvida, tem uma rotina: é alimentado todos os dias às seis da tarde. Ele certifica-se disso [risos]. Acho que a minha rotina atualmente é estar sentado ao pé do Bob.

E ele não se sente muito afetado na sua rotina, pelas viagens que têm feito um pouco por todo o mundo?
Ele sabe que quando estamos a viajar é porque estamos a trabalhar, portanto está tudo bem.

Já gostava de gatos antes de ter ficado com o Bob
Sim, tive gatos ao longo de toda a minha vida. E quando conheci o Bob não me apercebi logo do quão interessante ele era, mas acolhi-o imediatamente.

“[O Bob] tem mais cachecóis do que a Imelda Marcos tem sapatos”

Neste livro, diz que o Bob é muito sábio, até mesmo para um gato. Se ele fosse uma pessoa, que tipo de pessoa acha que ele seria?
Ele tem uma alma antiga, isso é certo. Seria um homem sábio, talvez um professor ou um monge.

O gato Bob também é conhecido pelo seus cachecóis. Mas hoje não traz nenhum.
Não, hoje está um tempo ótimo, por isso ele não precisa.

Os gatos, por norma, não gostam muito de andar com coleiras ou acessórios do género à volta do pescoço, mas ele parece sentir-se confortável.
Ele sente-se muito confortável com os cachecóis e gosta de andar a passeá-los em casa. Sim, ele gosta!

Quantos cachecóis é que ele tem?
Acho que se pode dizer que ele tem mais cachecóis do que a Imelda Marcos tem sapatos.

Às vezes, as pessoas tendem a ser mais simpáticas umas com as outras, quando há um animal de estimação no meio. É uma espécie de desbloqueador de conversas. Isso acontecia consigo quando tocava nas ruas com o Bob, ou teve algum episódio em que se passou o contrário e o trataram mal?
Bom, houve ocasiões em que alguns cães tentaram causar problemas. As pessoas nem por isso, algumas acabaram por fazê-lo através desses tais cães. O Bob estava comigo [nas ruas] simplesmente porque queria estar, mas sem dúvida que ele acabou por contribuir para quebrar o gelo com algumas pessoas.

“Os gatos não julgam as pessoas pela sua aparência, pelo seu comportamento. Eles simplesmente conseguem sentir aquilo que as pessoas são e aceitam-nas como tal”

O Bob entrou num filme, sobre a vossa história, acompanha-o nas entrevistas sobre os livros. Fica ansioso por ele, alvo de toda esta atenção e agitação, ou ele lida bem com isso?
Ele aceita tudo muito bem e se não gosta de alguma coisa faz questão de o deixar claro. Se estiver cansado ou farto ele avisa-me.

Tem muitas solicitações para comparecer em eventos ou em instituições?
Sim, sobretudo de muitas organizações que ajudam os animais, mas não só. Colaboramos muito com instituições de vários tipos, desde organizações relacionadas com a promoção da literacia a programas de apoio aos sem-abrigo. São muitas solicitações, mas é gratificante.

O Bob é uma inspiração para outras pessoas também.
Sim, sem dúvida. Ele tem ajudado a mudar a perspetiva das pessoas em todo o mundo.

Quais são as reações delas quando veem o Bob, nos países por onde têm passado?
Bem, no Japão adoram gatos e são grandes fãs do Bob. Na Alemanha ele também é muito popular. Geralmente, a reação é muito positiva em todo o mundo. Toda a gente adora o Bob.

Os gatos e outros animais de estimação, além da companhia que fazem, são muitas vezes terapêuticos. O que é que eles têm que as pessoas não têm?
Bom, para começar acho que eles têm paciência e um sexto sentido. Simplesmente sabem que a pessoa precisa de amor. É como digo no livro novo, eles não julgam as pessoas pela sua aparência, ou coisa do género, eles simplesmente aceitam-nas como são.

Hoje o que é que sente, que adotou o Bob ou que o Bob o adotou a si?
O Bob adotou-me a mim. Completamente.

Que conselho daria a alguém que quisesse adotar um gato ou qualquer outro animal de estimação?
Quem quiser adotar um animal de estimação tem muitos abrigos que acolhem gatos, que precisam de ser salvos. Por isso, devem contactar os abrigos locais e ver os animais que eles guardam. Vão encontrar de certeza um para levar para casa e amar.

Que planos tem, para si e para o Bob, depois deste livro?
Neste momento estamos a trabalhar num segundo filme, e num par de outros projetos também. E continuo a fazer a minha música.

O filme já tem uma data de estreia? Pode dar-nos alguns detalhes sobre ele?
Não, porque ainda nem sequer está na fase de pré-produção. Mas talvez estreie no Natal do próximo ano.

Entrevista realizada na esplanada do bar Gin 66, no Rossio, em Lisboa

Gatos: eles são mesmo os melhores aliados da sua saúde

As melhores raças de cães e gatos para ter em casas com crianças