Janja da Silva. As seis ‘causas’ já antecipadas pela nova primeira-dama do Brasil

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[Fotografia: EVARISTO SA / AFP]

Rosângela da Silva, 56 anos, socióloga e militante de esquerda tem sido uma peça fundamental na campanha que o levou o marido Lula da Silva à eleição como Presidente do Brasil pela terceira vez. ‘Janja’ da Silva, como é conhecida pelos próximos e como se apresentou aos eleitores, prometeu dar um novo significado ao papel de primeira-dama no Brasil.

A intenção de reescrever o papel da primeira-dama do Brasil tem sido um projeto da militante petista, tendo deixado pistas sobre as prioridades ao longo da campanha. “Vamos tentar dar novo significado a esse conceito de primeira-dama”, afirmou a socióloga durante um evento antes da primeira volta das eleições, a 2 de outubro.

No percurso que trilhou ao lado de Lula da Silva rumo ao Palácio do Planalto, em Brasília, a socióloga citou a prioridade em temas importantes para as mulheres como a violência doméstica e a insegurança alimentar. Neste último caso chegou mesmo a referir, em abril, que a “cara da fome no Brasil é a cara das mulheres”.

Rosangela "Janja" da Silva [Fotografia: MAURO PIMENTEL / AFP]
Rosangela “Janja” da Silva [Fotografia: MAURO PIMENTEL / AFP]

De entre os temas que já abordou, a mulher de Lula da Silva tem vindo a advogar pelos direitos das mulheres negras, pela população LBGTQIA+, acesso à saúde, sustentabilidade e causa animal.

É uma pessoa “muito politizada, tem uma cabeça política boa e é muito feminista”, afirmou Lula da Silva no ano passado em uma entrevista ao rapper Mano Brown. Ela é dona do seu “próprio pensamento” e terá “a liberdade de pensar o que quiser fazer” como primeira-dama, avançou recentemente o político recém-eleito e que tomará posse em janeiro.

Até o momento, a futura primeira-dama praticamente não deu entrevistas e revelou pouco da sua intimidade. A imprensa, porém, já a apelidou de “amuleto” do presidente eleito. “Graças a Deus estou aqui firme e forte, amando outra vez, apaixonado pela minha mulher. É ela que me vai dar força para enfrentar todos os obstáculos”, afirmou o político, em noite de vitória, domingo, 30 de outubro, em São Paulo, Brasil.

causas primeira-dama Janja da Silva e Lula da Silva em noite de vitória eleitoral na corrida à presidência do Brasil. Lula ganhou mandato pela terceira vez [Fotografia: CARL DE SOUZA / AFP]
Janja da Silva e Lula da Silva em noite de vitória eleitoral na corrida à presidência do Brasil. Lula ganhou mandato pela terceira vez [Fotografia: CARL DE SOUZA / AFP]

Lula, de 77 anos, já disse estar apaixonado pela sua terceira esposa “como se tivesse 20 anos de idade”. Os dois iniciaram o relacionamento ao fim de 2017, durante um evento que reuniu ativistas e artistas de esquerda, entre eles Chico Buarque.

Mas o romance entre a socióloga e o ícone de esquerda permaneceu em segredo até maio de 2019, quando Lula já estava preso há mais de um ano, após ser condenado por corrupção na Operação Lava Jato. “Lula está apaixonado e o seu primeiro projeto ao sair da prisão é se casar”, revelou um aliado após visitá-lo na prisão.

Em novembro de 2019, Janja esperou Lula da Silva à saída da prisão em Curitiba e os dois beijaram-se diante da multidão. Estava selado o romance.

Janja da Silva e Lula da Silva em noite de vitória eleitoral na corrida à presidência do Brasil. Lula ganhou mandato pela terceira vez [Fotografia: CARL DE SOUZA / AFP]

O casamento foi celebrado dois anos e meio mais tarde, a 18 de maio deste ano, em São Paulo.

O ex-presidente subiu ao altar pela primeira vez em 1969, com Maria de Lourdes da Silva, que morreu dois anos depois de hepatite, e em 1974 com Marisa Letícia, com quem teve quatro filhos e que faleceu em 2017 na sequência de um acidente vascular cerebral.

“Aprendi que quando se perde a mulher e se pensa que a vida não tem mais sentido, quando se pensa que tudo acabou, aparece uma pessoa que começa a dar sentido à vida outra vez”, afirmou Lula este ano à revista americana Time.

Rosângela da Silva nasceu em União da Vitória, no Paraná, em 1966, e mudou-se para Curitiba ainda na infância. Estudou Ciências Sociais, especializou-se em História, mas também se licenciou em Sociologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e trabalhou durante quase 20 anos para a hidrelétrica Itaipu Binacional, em Curitiba. Filiou-se no Partido dos Trabalhadores em 1983, aos 17 anos.

Sobre o papel de primeira-dama, atualmente este tem estado nas mãos de Michelle Bolsonaro, mulher de Jair Bolsonaro, que tem desenvolvido trabalho pelo lado do voluntariado, sendo rosto do movimento Pátria Voluntária, que quer reunir e canalizar doações e trabalho pro bono. Tem ainda trabalhado com a acessibilidade para a comunidade surda.

O papel interventivo de primeira-dama no Brasil ganhou relevo nos anos 40 do século passado, com Darcy Vargas, mulher do presidente Getúlio Vargas, a tomar a dianteira na criação de programas sociais e assistenciais.