Jejuar: Será este o segredo para um corpo esguio e uma vida longa?

O jejum está na moda, mas é uma prática ancestral. O Nobel da Medicina 2016, Yoshinori Ohsumi, defende os seus benefícios para a saúde e novas correntes alimentares, como a Dieta Paleolítica, concordam e afirmam ainda que ajuda a emagrecer.

Volta e meia aparece uma dieta que apregoa o jejum como o segredo para uma saúde de ferro e sobretudo para perder peso rapidamente, mas, recentemente, alguns estudos sugerem que a prática pode contribuir também para o aumento da esperança de vida. Ao princípio parece estranho. Afinal, todos sabem que uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes é fundamental para uma boa saúde. No entanto, segundo Yoshinori Ohsumi, Nobel de Medicina em 2016, o jejum faz com que as células se alimentem a si mesmas – processo chamado de autofagia – o que renova o organismo.

A autofagia é um importante mecanismo de autolimpeza que existe em todas as células de nosso corpo e que é ativada quando está em situações de stresse ou se fica algum tempo sem se alimentar. Nestes casos, a célula passa a “comer” partes internas para sobreviver, degradando tudo o que tem em si de danificado. Quantas mais vezes o mecanismo funcionar, maior é a limpeza. A redução da autofagia leva à acumulação de componentes danificados, o que está associado à morte das células e ao desenvolvimento de doenças. Por esse motivo, manter o mecanismo ativo seria uma forma de prevenir problemas.

Falta agora saber cientificamente qual deverá ser a sua duração e frequência. Para já, se fizermos uma pesquisa na biblioteca científica virtual Pubmed, por exemplo, encontraremos mais de 1.000 artigos que concluem haver benefícios para a saúde na introdução de pequenos períodos de jejum durante o dia ou 24 horas de jejum por semana, os chamados jejuns intermitentes.

O que é o jejum intermitente?

O jejum intermitente é o último grito da moda, nas dietas, e parece ser cientificamente apoiado pelo Nobel da Medicina. A sua prática mantém-se ao longo da história, fazendo parte das principais religiões (cristianismo, islamismo e o budismo) e das dietas dos nossos antepassados, que não tinham alimentos disponíveis todo o ano, nem nos supermercados ou frigoríficos para os armazenar em grandes quantidades.

Atualmente, o jejum intermitente é também uma prática comum entre os adeptos da dieta paleo.

Um dos seguidores mais mediáticos, em Portugal, é o médico de clínica geral, Manuel Pinto Coelho, autor do best seller “Como Chegar Novo a Velho” (Prime Books), que afirma nunca tomar o pequeno almoço e jejuar 24 horas uma vez por semana, de sábado para domingo.

“Isto, porque os seres humanos evoluíram geneticamente muito pouco nos últimos milhares de anos enquanto a sua alimentação se transformou radicalmente. Que caçador recoletor se alimentava de três em três horas?”, refere.

Manuel Pinto Coelho Coelho pratica dois dos protocolos do chamado jejum intermitente. Aquele em que se alimenta apenas durante oito horas por dias e o de 24 horas, aconselhado apenas uma a duas vezes por semana. Mas existem muitos mais: o de 36 horas, que deve ser acompanhado por um profissional e não é adequado a toda a gente, a Dieta 5:2, que consiste em comer dois dias por semana 500-600 calorias e nos restantes manter uma alimentação saudável e bem estruturada, além da Dieta do Guerreiro, em que durante o dia apenas se ingerem vegetais (em alguns casos adiciona-se fruta) e à noite faz-se uma refeição normal. Nesta dieta, a alimentação diária deve ser o mais natural possível.

Outro praticante do jejum intermitente é Francisco Silva, fundador da Associação Paleo XXI e do blog Paleo Descomplicado. O Delas.pt entrevistou-o para ajudar a desvendar um pouco os mistérios desta forma de alimentação, que, na verdade, nada tem a ver com dietas mas com um estilo de vida. Leia a entrevista, em baixo.

Na sua perspetiva, em que consiste o jejum intermitente?
O tema está na ordem do dia e existem muitas interpretações sobre o mesmo, muitas teorias, programas e estratégias, mas a abordagem PALEO XXI é muito simples e básica: jejum é o período que passamos sem ingerir alimentos e que, estando nós num período em que a comida abunda, é necessário um especial cuidado para o fazer. Mas facilmente passa a ser rotineiro.

Quais sãos os benefícios?
Existem muitos profissionais a estudar o que ocorre nos períodos do jejum e há já muitas evidências dos seus benefícios [veja na nossa galeria]. Para nós, mais uma vez, a lógica basta-nos. Repare, não há nenhum estudo científico que prove que devemos comer de três em três horas. Há teorias e são absurdas, se pensarmos um pouco na lógica evolucionista: geneticamente estamos programados para armazenar gordura para períodos de escassez. Só que vivemos num tempo em que não há escassez (para a maioria de nós). De qualquer forma, realço, para além de permitir quebrar o processo de dependência da comida e de ajudar à perda de peso, as descobertas do Nobel da Medicina de 2016, Yoshinori Ohsumi. Provaram que é durante esse processo que ocorre a degradação e reciclagem de componentes celulares.

Todos os podem fazer? Deve haver acompanhamento médico? Alguns cuidados antes de começar?
Claro que todos podem fazer. Até porque, como referi, não estou a falar de uma dieta ou de um programa. Mas apenas de comer quando o corpo necessita e não quando o corpo está habituado. Claro que durante a gravidez, a amamentação ou se falarmos de alguém que tenha uma condição clínica ou física muito debilitada, é sempre aconselhável ter o apoio de um nutricionista que siga este modelo de vida. De resto, é (e devia ser) para todos. Na realidade todos o fazemos: durante a noite não se come… já estamos em jejum. Só que alguns de nós apenas prolongamos mais umas horas esse período! Quem nunca saltou uma refeição? E que malefício lhe trouxe? Nenhum!

Qual é a melhor forma de quebrar o jejum?

O jejum não é uma jarra de vidro para quebrar! O melhor modo para sair de um jejum é… comendo paleo. Preferir comida de verdade e não empacotados carregados de açúcar ou adoçantes e aditivos. Comida que o corpo reconhece e que lhe serve de combustível e otimiza.

O mesmo se aplica a quem faz desporto?

É preciso distinguir quem pratica desporto para melhorar a sua saúde de quem é atleta profissional. O homem do paleolítico tinha uma vida bem mais dura que nós, era forçado a praticar jejum (pelas condições naturais do meio) e o corpo aprendeu a sobreviver! Assim, qualquer um de nós, não atleta de competição, fazendo uma alimentação densa nutricionalmente, poderá inclusivamente fazer exercício em jejum. Não estou a dizer que deve, mas digo que pode. E, reforço, com uma alimentação paleo, não com a alimentação recomendada pela tradicional roda dos alimentos.

Mesmo quem não siga a dieta paleo tira benefícios do jejum intermitente?

Aí é que está o problema: andar com um pé em cada faixa da estrada. Para quem segue uma alimentação muito rica em hidratos de carbono pouco densos (como cereais, farinhas, sumos, bolos, bolachas, massas…) vai ter dificuldades em implementar o seu jejum. Tal como referi atrás, o corpo é uma máquina complexa que necessita do melhor combustível para que tudo se equilibre. Não há equilíbrio possível quando comemos sobretudo com alimentos que não foram originalmente destinados à nossa espécie, com produtos industriais carregados de conservantes, corantes e aromatizantes artificiais.

Os estudos sobre o jejum intermitente ainda estão no início, mas estas sete vantagens já foram provadas por várias pesquisas. Visite a nossa galeria de imagens e fique a saber quais são.

Sara Raquel Silva