Joana Rocha: “Em 1995 havia umas 20 mulheres a fazer surf em Portugal”. Hoje são 500

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Joana Rocha, 39 anos, foi a primeira surfista profissional em Portugal. Depois de descobrir o surf em 1995, com 15 anos, fez do mar uma segunda casa e da prancha de surf sua aliada. Consciente de que poucas eram as mulheres a praticar a modalidade, em 1998 criou o primeiro encontro só para surfistas do sexo feminino – evento que passou a ser anual e permitiu a Joana acompanhar de perto o aumento da presença feminina no surf.

Se em 1998 existiam 125 mulheres adeptas da modalidade, em 2017 a Federação Portuguesa de Surf contabilizou 486 praticantes femininas, registando-se um aumento de 25,7% em quase vinte anos. Mulheres praticantes até juniores é a categoria que concentra mais adeptas neste momento (262), o que revela que o sexo feminino começa a praticar cada vez mais cedo este desporto. Segue-se a categoria de mulheres praticantes seniores (138), a de praticantes juniores (69) e, por último a de veteranas (17).

Apesar de ter deixado a competição em 2012, Joana Rocha continua a fazer parte destas quase 500 mulheres surfistas. Praticante de surf há 24 anos, muitas foram as ondas que já enfrentou. Joana sagrou-se Campeã Nacional por duas vezes na categoria júnior (sub-20) e como sénior reuniu 17 vitórias em provas nacionais. Conquistou o título de Campeã Nacional em 2009 e, por seis vezes, representou Portugal em provas internacionais, de onde trouxe uma medalha de bronze nos europeus e um 16º lugar nos mundiais em termos individuais.

Este fim de semana, 15 e 16 de setembro, Joana vai rumar até à FIARTIL, no Estoril, onde estará a decorrer a primeira edição da Surf Out Portugal, das 10h às 19h. O evento conta com a presença de cerca de 50 marcas referentes à modalidade, dá a possibilidade aos visitantes de ver o fabrico e a pintura de pranchas ao vivo, bem como de participar em workshops e assistir a uma série de conversas entre figuras de relevo no surf. Personalidades que irão debater: o surf em Portugal e a sua sustentabilidade e potencial crescimento, bem como a presença cada vez mais significativa das mulheres neste desporto.

Por isso mesmo, falámos com a surfista e promotora do surf feminino, uma das oradoras do evento Surf Out Portugal, cuja entrada tem um custo de €2 por pessoa, sendo que crianças até aos 12 anos têm não pagam.

Joana Rocha, surfista portuguesa [Imagem: DR]
Como descobriu o surf e o gosto em praticá-lo?

Foi a minha irmã Rita que me puxou para o surf aos 15 anos. Ela fazia Bodyboard e eu passava a maior parte do tempo com ela na praia (apenas na areia!) e houve um dia que me apeteceu experimentar o surf. Um amigo nosso emprestou-me um fato e uma prancha e lá fui eu experimentar. Pus-me em pé à primeira e nunca mais parei!

E a Joana tem amigas que praticam? Ou os seus companheiros de surf são maioritariamente do sexo masculino?

Tenho imensas amigas que praticam surf, aliás as minhas melhores amigas vieram quase todas do surf de competição. Temos histórias hilariantes durante as nossas viagens de surf e competições. No dia-a-dia surfo com o meu marido, mas estou sempre em contacto com a Patrícia Lopes e a Joana Andrade, para saber onde está o melhor surf.

Para a Joana o que é que não pode faltar na altura de ir praticar surf?

Nunca dispenso o meu creme solar… só de pensar nas rugas quando for mais velha… ai! Depois do surf gosto de escovar o cabelo, por isso um pente ou uma escova de cabelo também é essencial na mala do surf.

Qual seria o primeiro conselho que daria a uma mulher ou menina que pudesses estar a pensar começar a fazer surf?

Diria que é o melhor pensamento que teve nos últimos tempos! É uma iniciativa ótima para se sentir preenchida interiormente, com vigor, com energia para encarar todos os outros momentos da vida. Gosto de comparar o surf com o yoga / meditação, para mim é a minha meditação. Além de nos preencher a alma, é um desporto divertido, um desporto que nos mantém em forma, temos que ter alguma força e controlo motor para nos mantermos em equilíbrio em cima de uma prancha. Para quem se vai iniciar no surf sugiro que tenha aulas de surf para se adaptar ao mar e aprender as regras básicas do surf. Tudo o resto é pratica, muita força de vontade, repetição e muita mas mesmo muita diversão!

Existe uma idade ideal para começar a aprender surf ou qualquer momento é bom?

Qualquer idade é fantástica para se começar a praticar surf. Para se ser muito bom e chegar ao topo do mundo penso que cinco ou seis anos é a idade ideal para se começar.

Nota-se que o número de mulheres a praticar surf foi crescendo ao longo do tempo.

Sem dúvida. Em 1995 deviam existir umas 20 mulheres a praticar surf em Portugal. Em 1999, quando organizei o primeiro encontro feminino de surf, tivemos 84 inscritas. De 2004 a 2006 apenas aceitámos 200 inscrições neste evento e mais de 200 ficaram em lista de espera. Formámos mais de 1500 mulheres… Em 2007 alterámos o evento e de ensinamentos passámos apenas a competição, pois a base da pirâmide já estava formada. Destes eventos saíram a maioria das nossas campeãs nacionais, como a Teresa Bonvalot, Camila Kemp, Carina Duarte, Maria Abecassis e Francisca Santos. Este é um dos temas que devo abordar agora no próximo dia 16 de setembro, durante o Surf Out Portugal no Estoril na FIARTIL.

Em Portugal, o número de mulheres a praticar surf quase quadruplicou nos últimos vinte anos, de acordo com dados da Federação Portuguesa de Surf

Tendo em conta que acompanhou de perto este aumento da presença feminina no surf, o que pensa que poderá estar a incentivar as mulheres a aderir a este desporto? Ou o que é que estaria a impedi-las de o praticar até agora?

O surf é um desporto que motiva qualquer pessoa que goste de adrenalina, quer seja do sexo feminino ou do sexo masculino. Hoje em dia as mulheres já não ficam em casa à espera dos homens… elas gostam de fazer desporto, de se divertir, de estar ocupadas com o que realmente as faz feliz e o surf é isso tudo. Faz senti-las vivas, é um desafio constante: a procura da melhor onda, do equilíbrio em cima da prancha, as praias onde se surfa, normalmente, são lindas. A mulher está também em constante contacto com a natureza, com a sua essência, e vem para casa muito mais bem disposta. Quando ao que pode estar a impedi-las, talvez a falta de força de vontade e a força física. Há muita repetição e às vezes podemos estar na água e nem se conseguir passar a arrebentação, porque as ondas não estão fáceis.

Atualmente, trabalha na área do turismo, sendo uma das responsáveis pelo Chill in Ericeira Surfhouse? Que projeto é este?

O Chill In Ericeira Surfhouse foi o primeiro projeto em que me dediquei a 100% depois de ter deixado de competir. Estudei engenharia mecânica no Instituto Superior Técnico e tinha que fazer uma escolha, trabalhar com horário fixo num escritório das 9h as 18h, ou iniciar um projeto meu relacionado com o surf, que era a minha paixão. Optei pelo Surf. Em 2003, abri uma Surfhouse com mais dois sócios, a Daniela Machado e o Edoardo Cavarretta. Um espaço que, neste momento, tem capacidade para alojar 60 pessoas. A parte mais divertida do negócio é conhecer diariamente pessoas de todos os lados do mundo, vê-los super contentes a praticar surf durante as aulas de surf. Todos os dias são organizados jantares de grupo nos melhores restaurantes da Ericeira e saídas a noite, excursões por Mafra, Sintra e Lisboa, passeios a cavalo… No fundo organizamos as 24h dos nossos clientes, com momentos que nunca mais se esquecerão. É uma experiência única para a maioria deles e é por isso que muitos voltam todos os anos.

A entrada na Surf Out Portugal tem um custo de €2 por pessoa, sendo que crianças até aos 12 anos não pagam.

[Imagem de destaque: DR]

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