“Vejo hoje nas vítimas de violência o mesmo medo e a mesma vontade de esquecer”

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José Carlos Malato [Fotografia: Pedro Granadeiro/ Facebook]

José Carlos Malato conheceu de perto “casos brutais e próximos” de violência doméstica. A propósito da participação no debate em torno da temática e intitulado O que falta fazer, como e com quem? – que decorreu da carta aberta e da petição promovida pela apresentadora e presidente da ONG Corações Com Coroa Catarina Furtado, Elisabate Brasil, da União Mulheres Alternativa e Resposta, Alice frade, da P&D Factor e de Sandra Correia da Women’s Club Portugal – o rosto da RTP1 recordou aqueles episódios e revelou o que sentiu quando voltou a confrontar as vítimas com os seus passados duros.

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“Voltar a pensar nestas questões, fez-me voltar a falar com as antigas agredidas e foi algo muito difícil”, revelou perante uma plateia cheia para discutir a temática, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa, na tarde de terça-feira, 9 de abril. “Elas continuam a ter um medo reiterado de falar no assunto e de reviver esses momentos”, explicou o apresentador.

“Os três casos que conheço de perto são de sucesso porque se livraram dos seus agressores por morte ou porque Deus de lembrou delas”, desabafou o rosto da estação pública, contando que, no reencontro com estas mulheres, “vê hoje nestas vítimas de violência doméstica o mesmo medo e a mesma vontade de esquecer”.

“Os três casos que conheço de perto são casos de sucesso porque se livraram dos seus agressores por morte ou porque Deus de lembrou delas”, diz rosto da RTP1

Malato contou que recebeu, na sua casa, uma uma mulher e dois filhos e relatou: “Ela dizia-me, eu sou uma mulher destruída, mas os meus filhos não conseguem ter uma vida decente com as suas mulheres, que são exatamente o contrario e que os protegem”, relatou. Sobre os agressores, o apresentador da estação pública explicou que “nunca” os conseguiu “compreender, quais eram as suas motivações”. “Quase todos eles tinham um quadro de algum alcoolismo, uma autoestima péssima”.

“Uma delas contava-me que o mais lhe custava era ter ficado entre quatro paredes e privada totalmente de amigos e até da luz do dia. Ela era deixada em casa de persianas fechadas”, recordou o apresentador da RTP1.

Falar ou não do tema na TV?

Ainda no mesmo debate, a atriz Teresa Tavares falou na recusa que as vítimas sentem em serem colocadas nesse mesmo papel. “O ponto comum que encontrei a todas as mulheres com quem contactei, o que mais me tocou foi o facto de todas dizerem que são vistas como vítimas e de quererem voltar a ter sua individualidade. Elas não querem ter de se expor, têm é de ser protegidas”, pediu Tavares.

“As vítimas de violência doméstica não querem ter de se expor, têm é de ser protegidas”, pediu teresa Tavares

Uma entrada neste mundo da violência doméstica que a atriz tem vindo a dar corpo ao abrigo da sua participação na novela da TVI, Valor da Vida, na qual dá vida a Becas Brito, uma mulher que vive uma relação homossexual marcada pela agressão brutal. E perguntou: “Estas mulheres não podem continuar a ser afastadas das suas casa. Para além de terem sobre si o trauma, têm de ser elas a fugir?”

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Duas das mulheres com quem falei disseram-me que desligam a televisão quando veem notícias sobre o tema”, referiu Malato, que crê que “a forma como a violência doméstica é tratada e reiterada na TV promove, ao mesmo tempo, uma banalização”. Para o apresentador, “as novelas têm estereótipos onde eles batem, matam e raptam mulheres. A minha mãe, por exemplo, diz que não vê porque aquilo é impossível”.

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Imagem de destaque: Pedro Granadeiro/Global Imagens

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