Jovens falam cada vez menos com os pais. Dez caminhos para quebrar o muro

pexels-anna-shvets-11368546
[Fotografia: Pexels/Ama Shvets]

Em quatro anos, a comunicação entre pais e filhos ainda é fácil, mas está a deteriorar-se. A mãe, que ainda é, de longe, a maior confidente, perdeu ligeira relevância diante do que os filhos têm para contar, descendo de 85,5% em 2018 para 83% no ano passado.

Mais de um quarto dos adolescentes portugueses refere ter dificuldades em falar com o pai (26%), refere o estudo A Saúde dos Adolescentes Portugueses em Contexto de Pandemia 2022( HBSC/OMS), feito em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 51 países, e que reúne dados relativos a 2022, comparando-os com 2018.

Uma análise que olha para o que mudou na juventude nacional nos últimos quatro anos, correlacionando-os com o período de pandemia provocado pela Covid-19. Um tempo, de resto, marcado por uma bem maior permanência em casa e mais convívio em família.

De acordo com o relatório, feito a partir de inquéritos online a 5809 jovens portugueses, do 6º (29,6%), do 8º (33,5%) e do 10º (37%) ano de escolaridade, dos quais 50,9% do género feminino, com uma média de idade de 14,09 anos, as discussões em família versam mais o ”uso de tecnologias de informação e comunicação ou à inatividade/sono (…) do que as discussões associadas a fumarem (11,7%) ou a beberem (18,1%)”, refere a síntese do estudo que será apresentado esta quarta-feira, 14 de dezembro, e elabora em parceria com a Direção-Geral da Saúde.

Ao detalhe, refere o mesmo documento,” 69% dos jovens refere que as discussões acontecem por estarem nas redes sociais, por não fazerem nada/”preguiçar” (68,3%), por estarem a “surfar” na Internet (59,1%), por jogarem videojogos (57,7%), ou por dormirem (54,8%)”.

As refeições diárias em família, espaço privilegiado para a conversa, estão a diminuir. Caíram, segundo reportam os jovens, “68,8% em 2018 para 56,2% em 2022, aumentando por outro lado a percentagem de jovens que nunca faz refeições em família, de 8,5% em 2018 para 12,1% em 2022”.

Mas, afinal, como chegar até aos jovens e como conversar e fazê-los conversar com os pais? Quer seja através de atividades divertidas ou perguntas sérias, há várias formas de fazer com que o seu filho fale e “abra o jogo” consigo.

O Delas.pt reuniu dez maneiras de a ajudar a lidar melhor com esta questão e fazer com o que o seu filho não sinta qualquer tipo de constrangimento para falar consigo. Veja abaixo.

Fale sobre a sua própria infância

É normal que um filho diga que os pais não compreendem os seus problemas devido a serem de uma geração diferente. Para isto, fale do seu passado para o ajudar a descobrir as razões pelas quais reage de certas formas a determinados assuntos. Depois de fazer esta partilha, está nas mãos do adolescente partilhar algo intimo sobre a sua vida, mas agora ele vai estar mais confortável para o fazer.

Faça perguntas abertas

Tente manter as perguntas abertas à interpretação do seu filho e aceite qualquer resposta que surgir. Perguntas como “como está o teu melhor amigo?” ou “o que achaste daquele filme que vimos ontem?” são alguns exemplos.

Deixe que lhe ensine algo novo

Só porque quer ser um modelo a seguir para o seu filho, não significa que não possa falhar. É normal que o adolescente esteja mais familiarizado com as redes sociais ou as novas tecnologias, mas, se surgir alguma dúvida, peça ao seu filho para lhe explicar o que deve fazer.

Não os force a ver o lado positivo em tudo

Embora a tentação seja muita de dizer a um filho que tudo vai ficar bem e que há coisas piores, a verdade é que ao estar constantemente a dizer-lhe isso, pode fazer com que o adolescente pense que está a desprezar os sentimentos dele. Apesar de ser uma atitude bem-intencionada, dá ao adolescente a sensação de que não está a ser ouvido.

Mostre interesse nos hobbies do adolescente

Mesmo que não goste das atividades que o seu filho faz durante os tempos livres, participar nelas é uma boa maneira de criar um laço mais forte. Assim, é mais provável que ele queira passar mais tempo consigo ao fazer os seus hobbies.

Faça perguntas inesperadas

Em vez de perguntar algo básico tal como “como correu o dia?”, experimente perguntar algo como “o que te fez rir hoje?”. Isto vai ajudá-la a perceber o que motiva o seu filho e como ele reage a determinadas situações.

Não reaja negativamente ao que ele partilha consigo

Se quer que seu filho se abra consigo, é do seu interesse manter uma postura neutra, independentemente do que eles digam, especialmente num momento em que as emoções provavelmente aumentam. Se reagir com calma, está a modelar o comportamento ideal para que ele consiga falar.

Admita que não sabe o que ele está a passar

Só porque já passou pela fase da adolescência não significa que tivesse passado pelo que o seu filho está a passar. Para além disso, cada pessoa reage de forma diferente aos vários problemas da vida. Por essa razão, deixe que ele explique o que está a sentir e tente perceber como o pode ajudar.

Não os repreenda da mesma forma que faria com uma criança mais nova

Embora fazer com que o seu filho fale sobre determinados assuntos possa fazer com que se sinta desconfortável, não o castigue quando ele escolher abrir um tópico relevante. Se um adolescente disser ou fizer algo inapropriado, não o critique, mas defenda os valores da família.

Não insista

Embora queira saber desesperadamente o que se passa com o seu filho para o poder ajudar, se ele não quiser falar naquele momento, não insista. Espere até ao dia seguinte para voltar a perguntar se está tudo bem com ele.