Jovens portugueses: Mais net, canabis e álcool

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[Fotografia: Shutterstock]

Cerca de um terço dos jovens inquiridos (mais de 66 mil inquiridos) num estudo sobre comportamentos aditivos começou a usar internet antes dos 10 anos e um em cada quatro disse ter problemas associados à sua utilização.

O estudo Comportamentos Aditivos aos 18 anos, divulgado esta quarta-feira, 26 de junho, resultou de um inquérito promovido pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) junto dos jovens participantes no “Dia da Defesa Nacional -2018”, que é realizado anualmente desde 2015.

A partir de uma lista de possíveis problemas, cerca de um quarto dos jovens mencionou que já tinha tido algum tipo de problema nos 12 meses anteriores, que associa à utilização da internet, não se verificando diferenças relevantes entre rapazes e raparigas.

O tipo de problema mais mencionado refere-se ao rendimento na escola/trabalho (9,6%), seguindo-se as situações de mal-estar emocional (11,5%) e problemas com comportamentos em casa (9,6%).

Houve ainda 1,7% que disseram ter problemas de saúde, motivando assistência médica, 1,8% referiu problemas financeiros, 1,8 atos de violência, 1,4% conduta desordeira e 2,7% contaram ter relações sexuais sem preservativo.

1/3 iniciou contacto com a net antes dos dez anos

A generalidade dos jovens inquiridos já teve contacto com a internet, tendo a maioria (57,5%) iniciado a sua utilização entre os 10 e os 14 anos, 34% antes dos 10 anos e 7,2% aos 15 anos ou mais anos.

Segundo o estudo, os rapazes declaram um início de utilização mais precoce do que as raparigas. O computador portátil é o equipamento mais utilizado para aceder à internet, referido por 63% dos jovens, seguido do smartphone/telemóvel. Os jovens foram inquiridos sobre três tipos de utilização da internet: redes sociais, jogo (em particular o jogo de apostas) e pesquisas.

A maior proporção de jovens joga até três horas por dia, seja durante a semana ou ao fim de semana. No contexto do jogo a dinheiro o tempo tende a ser um pouco inferior.

No entanto, o estudo salienta que perto de 10% dos jovens mencionam jogar durante seis horas ou mais por dia, um valor que desce para 2% no caso dos que jogam a dinheiro durante este mesmo tempo.

Em geral, os rapazes continuam a destacar-se das raparigas por passarem mais horas a jogar. Contudo, no contexto específicos do jogo de apostas não se observam diferenças relevantes entre jogadores e jogadoras quanto ao número de horas passadas a jogar. “Entre 2017 e 2018 regista-se um ligeiro incremento da prevalência de jogo mais intensivo, a valorizar em função de evoluções futuras”, sublinha o SICAD.

4% dos jovens compraram canabis na web

Outra conclusão do estudo aponta que 4% dos jovens compraram canábis através da internet nos 12 meses anteriores ao inquérito, o que corresponde a 14% dos consumidores de canábis neste período.

A percentagem de jovens que mencionou adquirir outro tipo de substâncias é igual ou inferior a 1% quanto a cada substância, o que está de acordo com a menor prevalência de consumo destas substâncias por comparação com a canábis.

Um estudo sobre comportamentos aditivos aos 18 anos revelou um aumento do uso de substâncias ilícitas, principalmente canábis, e dos “consumos intensivos” de bebidas alcoólicas pelos jovens, entre 2015 e 2018.

Metade dos jovens inquiridos (51,9%) disse já ter bebido de “forma intensiva” pelo menos numa ocasião no último ano, contra 47,5% em 2015, e 33,9% relatou ter ficado com uma “embriaguez severa” (29,8% em 2015).

“Parece delinear-se uma tendência de incremento do consumo binge [operacionalizado como cinco ou mais bebidas numa ocasião para as raparigas e seis ou mais bebidas para os rapazes] e da embriaguez severa entre os jovens de 18 anos”, refere o inquérito.

Aumento do consumo de álcool maior em raparigas

Este crescimento “sucede tanto entre rapazes como entre raparigas, mas de forma mais acentuada nas raparigas“, salienta o SICAD, adiantando que estes consumos “mais intensivos tendem a ser pontuais no ano, predominando frequências de consumo inferiores a seis ocasiões”.

Contudo, entre os consumidores recentes de bebidas alcoólicas, cerca de 21% mencionam o consumo binge em 10 ou mais ocasiões no ano e 8% referem ter-se embriagado severamente com esta frequência.

Quanto à perceção de terem ficado alterados na sequência do consumo de álcool, 64% dos jovens consideraram que ficaram pelo menos uma vez “alegres” (embriaguez ligeira) e cerca de um terço ficou severamente intoxicado (embriaguez severa).

Outras conclusões do estudo refere que 89% já consumiram bebidas alcoólicas pelo menos uma vez na vida, 60% já experimentaram tabaco, 36% substâncias ilícitas e 7% tranquilizantes/sedativos sem receita médica.

As prevalências de consumo de tabaco, bebidas alcoólicas e tranquilizantes sem receita médica têm-se mantido estáveis entre 2015 e 2018, mas “parece haver uma tendência de claro incremento da prevalência de consumo de substâncias ilícitas“, devido praticamente à canábis, principal substância ilícita consumida em Portugal. Segundo o estudo, apenas 1% dos jovens referiram consumos recentes exclusivos de outras substâncias ilícitas.

A seguir à canábis, as substâncias ilícitas mais mencionadas foram as anfetaminas/metanfetaminas (5,2%), incluindo o ecstasy, a cocaína (3,3%), alucinogénios (3%), as Novas Substâncias Psicoativas (2,5%) e a heroína e outros opiáceos (1,7%).

Das Novas Substâncias Psicoativas (NSP) faz parte o consumo de canabinóides sintéticos (1,9%), catinonas sintéticas (1,5%) e plantas ou outras NSP (1,8%), refere o estudo, observando que cerca de metade dos consumidores recentes de NSP reportou ter consumido estes três tipos de substâncias.

Independentemente da substância, os rapazes inquiridos consomem sempre com mais frequência do que as raparigas, sendo esta diferença “menos expressiva” no consumo de tabaco. Cerca de 20% dos jovens associaram o consumo de diferentes substâncias psicoativas, sobretudo álcool e canábis.

O estudo revela um “ligeiro incremento” da experiência de problemas com o consumo de bebidas alcoólicas (18,5% em 2015, 21,1% em 2018) e de substâncias ilícitas (9,2%/9,4%), tendo sido as situações de mal-estar emocional e as relações sexuais desprotegidas as mais mencionadas.

CB com Lusa

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