Júlia culpa-se por anorexia das filhas: “Achei que o amor chegava”

Júlia Pinheiro tem 53 anos
Júlia Pinheiro tem 53 anos

Na terceira edição da sua revista digital mensal – ‘Júlia, de Bem com a Vida’ – Júlia Pinheiro concede uma entrevista única a Manuel Luís Goucha, colega e amigo de longa data, com quem falou abertamente sobre a dor de ver as suas duas filhas, Matilde e Carolina, sofrer com anorexia nervosa.

“Foi um cataclismo. Uma espécie de vertigem. Os pais nunca estão preparados para a doença dos filhos. E a anorexia é uma doença que, lá em casa, pôs toda a gente doente. Passámos a viver sob a ditadura de um prato”, revela a apresentadora de 53 anos. “Alguma vez te culpaste?”, perguntou Goucha. “Sim, muito. Posso dizer com a maior tranquilidade que nunca falhei em nada por causa da minha profissão, nunca faltei a uma festa da escola, a um sarau de pífaros, de piano, de ginástica, a aniversários, nada. O meu maior erro, para além de não ter estado tão atenta como deveria no momento em que as coisas estavam a começar, foi achar que o amor chegava”, reconheceu Júlia.

Matilde foi a primeira das gémeas a manifestar a doença. “O caso da Matilde eclode quando ela tinha 12 anos. Estávamos numa gala da TVI, em que as crianças iam cantar, e foi por esses dias que me apercebi de que estava qualquer coisa mal. A nossa Dora [responsável pelo guarda-roupa] é ela que me vem dizer ‘Oh Júlia, eu acho que a Matilde está muito magrinha’. A gala foi em dezembro, aquela informação ficou-me no ouvido, e comecei a estar mais atenta. No primeiro dia de janeiro, eu chamo o meu marido à parte e digo ‘Temo que haja um problema de saúde muito grave com a Matilde’. Pensava eu que ela tinha um linfoma ou um problema qualquer oncológico, porque de repente a magreza dela era muito visível”, recorda a diretora de conteúdos da SIC. Tanto ela como o marido, Rui Pêgo, ficaram “atordoadíssimos”, e depois de consultarem vários médicos, foram confrontados com o diagnóstico. “Ela tinha um caso já avançado de anorexia nervosa”.

Nunca lhe passou pela cabeça que o mesmo viesse a acontecer à sua outra filha, Carolina. “Ela devotou grande parte da sua adolescência a ajudar a irmã e deve ter vivenciado o desespero da irmã de uma forma que até eu, como mãe, não vivenciei. Isso deve ter deixado lá qualquer coisa. Entrou em terapia algum tempo depois, por precaução, mas não foi suficiente. E aos 18 anos, já a Matilde estava em fase de recuperação, tudo aquilo fez uma espécie de nó, que levou ao mesmo sítio”, conta Júlia. “Só que desta vez foi mais grave do ponto de vista físico”, adverte. “Houve uma noite em que quase a perdemos. Estamos a tentar recuperar. Ela agora está numa fase estável, de peso, a viver a sua vida e as suas rotinas normais. Mas esta doença é uma doença que nunca podes manter longe do teu radar”.

Júlia Pinheiro, que também é mãe de Rui Maria Pêgo, garante que foram estas experiências que a testaram verdadeiramente como mãe. “A maternidade é testada aqui. Aqui é que eu tive de ser mãe. Eu acho que aguento tudo, mas é muito difícil ver um filho perdido numa dor que tu não entendes. É algo contra-natura”.