Justin Theroux: “Quando morremos desaparecemos, deixamos de existir”

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Justin Theroux poses for photographers at the screening of Zoolander 2 at a cinema in central London, February 4, 2016. REUTERS/Dylan Martinez - RTX25H50

O papel de Kevin Garvey em “The Leftovers” deu um novo fôlego à carreira de Justin Theroux, o marido da super estrela Jennifer Aniston. Aos 45 anos, o ator entregou uma performance fenomenal aos criadores Damon Lindelof, Tom Perrotta e Mimi Leder, num papel que considera “catártico.” Conversámos com ele em Beverly Hills sobre o final da série, que estreia no próximo domingo, e a mensagem que deixará como legado.

Ficou surpreendido com o rumo que a série tomou e a forma como irá acabar?

No início das filmagens não sabia como ia acabar, recebo os guiões conforme eles os escrevem, no domingo antes de filmar. Só soube o que acontecia no episódio final depois de filmarmos o sétimo, e é incrível. No final do sétimo episódio pensei, ‘como é que vamos terminar isto, não faz sentido nenhum!’. Mas depois li o guião e achei que era uma escrita fenomenal.

Kevin Garvey ressuscita constantemente. Vamos descobrir se ele é divino?

A série afasta-se desse tipo de questões. E nunca vamos obter a resposta sobre a Grande Partida. Digo apenas que o final será satisfatório.

O drama deste papel afetou-o pessoalmente?

Nem por isso, não acho que somos parecidos em muitos aspetos. É um personagem muito catártico. Ele passa por todos estes problemas e obstáculos. Mas não foi o tipo de papel que eu levasse para casa comigo. Também não sou um ator de método.

O Damon [Lindelof] sempre disse que esta série não teria mais de três ou quatro temporadas, o que foi bom, porque eu tinha receio de assinar um contrato longo de oito anos.

Como evitou levar esse peso para casa?

Tínhamos estas cenas muito emocionais, e no final havia sempre um sentimento de catarse. Sentia que tinha exorcizado algo. Na verdade, saia do estúdio a sentir-me mais leve, da mesma forma que acontece quando passamos o dia a chorar.

O que Kevin vê é resultado de uma psicose?

Essas visões, a Patty e a Evie, são a transposição de medo abstrato para a história. O Damon nunca tentou diagnosticá-lo. O Kevin acredita piamente naquilo que vê. Eu pensei, enquanto representava, que aquilo iria apenas deixar-me cheio de medo.

Nesta temporada, há uma cena bizarra que envolve o seu pénis. O que achou dela?

Isso foi literalmente o Damon a gozar comigo. Achei essa cena muito estranho. Quando li o guião disse-lhe, “então, que é isto??”.

Quais são os temas principais da série, que deixarão marca?

Fazer perguntas muito difíceis. Inicialmente, é sobre o que significa o luto, ter uma perda na vida, são temas universais sobre o significado da vida. Como é que recuperamos depois de certas coisas? Fiquei fascinado com isso. É impossível responder a essas perguntas, mas achei que era corajoso por parte do Damon e do Tom [Perrotta] irem ao encontro delas. Muitas séries tentam contornar a morte e o desespero neste tipo de cenário. Foi uma metáfora para a morte, em geral, e o medo da morte.

É algo em que pensa?

Não passo o dia a pensar nisso. Qualquer pessoa que passou pela morte de alguém próximo não consegue evitar projetar nele a sua própria finalidade. A ideia de saber quando se vai morrer é horrível, porque a maioria das pessoas vai a espernear.

O que pensa que acontece quando morremos?

Quando morremos desaparecemos, deixamos de existir.

Não há redenção na última temporada de ‘The Leftovers’

Quais são os planos futuros?

Espero poder continuar a trabalhar. Como pessoa, quero evoluir emocionalmente, tornar-me mais tolerante. Não sou particularmente religioso. Uma das coisas recorrentes na série é a importância da família, do amor e da amizade. Todas estas grandes questões que a série coloca andam em círculos: isto é sobre uma família. Quero ter uma família e amigos que adoro e com quem tenho relações satisfatórias.

Algum projeto a seguir?

Estou a fazer o novo filme Lego, é como uma sobremesa depois desta série. Estou sempre à procura do melhor material, seja cómico ou deprimente.

Muita gente conhece-o mais como autor que ator. Se tivesse de escolher uma destas vias, qual seria?

Representar é mais fácil que escrever, e escrever é mais gratificante que representar. Gosto mais de escrever, porque controlo todo o ambiente. Representar é participar na ideia de outra pessoas. Mas quando olho para as três temporadas da série, vejo que é uma impressionante obra de escrita, um mundo tão elaborado. É surpreendente o quão estruturado é. Olhando para trás, havia sementes plantadas na primeira temporada, coisas que não faziam sentido afinal eram parte de um grande plano.

Que tipo de séries gosta de ver?

Não sou um grande consumidor de televisão, e não vejo as “n” séries que devia ver. Gostei muito de “Big Little Lies”, mas gosto de programas mais leves.

É casado com a super atriz Jennifer Aniston, costuma haver trocas de ideias e conselhos sobre representação lá em casa?

Não, por Deus, nem pensar. Isso seria terrível. Apoiamo-nos muito um ao outro.