Kellyanne Conway: de um concurso de beleza a conselheira de Trump

Notícias Magazine

Braço direito de Donald Trump na Casa Branca, a conselheira do presidente dos Estados Unidos da América está de saída ao fim de quatro anos de trabalho.

A mulher que começou a dar nas vistas como diretora de campanha eleitoral de Trump em 2016 e que protagonizou algumas ‘gaffes’ está de saída por querer cuidar dos filhos adolescentes.

Recorde o perfil de Kellyanne Conway.

Conselheira do presidente. Esta é a forma como Kellyane Conway se apresenta na sua conta de Twitter. A imagem que escolheu para o perfil é o da tomada de posse de Donald Trump como 45º presidente dos Estados Unidos da América. Uma fotografia que procura mostrar a multidão que assistiu à cerimónia. E foi neste preciso momento que Kellyanne Conway começou a trilhar o seu caminho rumo ao estrelato mundial, embora fosse já muito conhecida no meio televisivo norte-americano.

No dia seguinte àquele momento oficial, que teve lugar a 20 de janeiro, lançava-se a polémica sobre o baixo número de americanos que esteve presente em frente ao Capitólio. Os media compararam as imagens desta tomada de posse com as de Barak Obama e davam início a uma troca acesa de argumentos. Este tipo de comparações levaram o secretário de Imprensa da Casa Branca a vir dizer, em conferência, que “foi a maior audiência verificada numa tomada de posse. Ponto final. Quer em número de presenças, quer em audiências pelo mundo fora”.

Mas como a conversa não foi dada por terminada pelos jornalistas, Kellyanne Conway foi ao programa da NBC, Meet The Press (Encontro com a imprensa) explicar que o que Sean Spicer tinha apresentado era verdadeiro e que a Casa Branca tinha “factos alternativos” que suportavam esses números.

Uma semana mais tarde, a conselheira era acusada de “inventar” um ataque terrorista para justificar a ordem executiva de Donald Trump que impedia a entrada de refugiados e de cidadãos de sete países muçulmanos. Afirmou, então, Conway que Obama tinha tomado uma medida semelhante em 2011, aquando do “massacre de Bowling Green”, alegadamente, executado por dois iraquianos.

Ainda no mesmo programa – Hardball da MSNBC – lembrou que seria normal que pouca gente tivesse ouvido falar do “massacre”, já que os órgãos de comunicação social não tinham feito a cobertura do ataque. Porém, o caso não foi noticiado porque não teve lugar. Na verdade, foram detidos dois iraquianos após uma tentativa falhada destes em enviar dinheiro e armas para a Al-Qaeda, no Iraque. Os dois homens estão a cumprir penas, mas não pela acusação de terem planeado qualquer atentado.

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Agora, a polémica volta a estalar, mas a ‘gaffe’ arrisca ser bem mais grave e chegar a um plano jurídico. Em causa está o facto de Kellyanne Conway ter promovido no canal Fox – e a partir de uma sala com o selo da Casa Branca – a marca de vestuário de Ivanka Trump, filha mais velha do presidente, e que está a ser alvo de boicote por parte do distribuidor Nordstrom.

“Vão comprar os produtos da Ivanka. Detesto fazer compras, [mas] hoje vou fazê-las. É uma linha [de produtos] magnífica. Eu própria tenho alguns. Vou fazer publicidade gratuita: vão todos comprá-los. Vocês podem encontrá-los online”, disse Conway.

Os democratas já se insurgiram e o congressista Elijah Cummings vincou que “este parece ser o exemplo de violação das leis e regulações sobre a ética governamental”, apelando à intervenção da agência que verifica estas situações. Recorde-se que os empregados do setor público estão impedidos de utilizar as suas funções “para ganho próprio” ou “para apoiar qualquer produto, serviço ou empresa”.
Desta vez a conselheira teve repreensão por parte do assessor da Casa Branca, Sean Spicer. Mas Trump – que também saiu em defesa da filha na sua página de Twitter – veio defender a sua conselheira. E tem mantido o que disse em dia de tomada de posse:

“Ela tem sido uma estratega leal e desempenhou um papel fundamental na minha vitória. Ela é incansável, uma tenaz gestora da minha agenda e tem perspetivas fantásticas sobre como comunicar a nossa mensagem com eficácia. Estou muito agradado por ela fazer parte da minha equipa sénior na Casa Branca.”

A mulher por trás do eleitorado feminino republicano

Quando, a 17 de agosto de 2016, passou a gerir a campanha presidencial de um candidato republicano, Kellyanne tornou-se na primeira mulher a fazê-lo. Mas há cerca de três décadas que ela tem sido o cérebro contratado pelo partido para aconselhar e encontrar caminhos no sentido de conquistar eleitorado feminino para os conservadores.

Antes de Trump, Kellyanne Conway trabalhou para as primárias do republicano Ted Cruz, tendo até declinado um primeiro convite endereçado pelo milionário americano – agora presidente dos EUA – para trabalhar com ele. Conway explicou que a recusa, dada em 2015, se prendeu com a possibilidade de o público não ver com bons olhos esta parceria.

Segundo a Cosmopolitan, Conway e Trump já partilharam o mesmo edifício residencial antes de chegarem à Casa Branca. Em 2006, Kellyanne conheceu o magnata quando vivia num dos edifícios detidos por Donald. Anos mais tarde, pertenceu à gestão de condomínio da Trump Tower, em Manhattan.

[Fotografia: Twitter]
[Fotografia: Twitter]

Rainha dos mirtilos e aluna de excelência

Nascida a 20 e janeiro de 1967, Kellyanne completou 50 anos no dia da tomada de posse do presidente que agora aconselha. Os pais divorciaram-se quando ela tinha três anos e cresceu numa família católica, composta por mulheres.“Cresci numa casa com a minha mãe, a minha avó e duas irmãs da minha mãe que não casaram. Portanto, fui educada por quatro mulheres católicas romanas”, contou em tempos.

Aos 15 anos, Kelly Fitzpatrick, nome de solteira, sagrou-se vencedora do concurso de beleza Princesa Blueberry (Mirtilo) de New Jersey e, durante oito verões, trabalhou a apanhar e embalar mirtilos. E foi a melhor, o que lhe valeu um prémio do setor.

Conway sempre aliou a beleza à inteligência e foi sempre aluna de distinção máxima. Concluiu Ciência Política no Trinity College, de Washginton, com magna cum laude. Tem também licenciatura em Direito, da George Washginton University Law School, e o curso foi terminado com louvor. Estudou também na universidade de Oxford e foi eleita para a exclusiva sociedade de prestígio Phi Beta Kappa, para a qual só são convidados a entrar 10% dos melhores alunos de instituições de relevo nas artes e nas ciências.

Casada com George T. Conway III, advogado Nova Iorque, a conselheira tem quatro filhos, dois deles são gémeos.

Uma mulher num mundo de homens

“Tenho estado num meio muito masculino há décadas”, disse a conselheira à revista New Yorker. E chegou mesmo a escrever um livro, em co-autoria, sobre o papel feminino na América e nas várias áreas sociais, em 2005: What Women Really Want: How American Women Are Quietly Erasing Political, Racial, Class, and Religious Lines to Change the Way We Live (O que é que as mulheres querem realmente – como as americanas estão discretamente a erradicar as fronteiras políticas, raciais, classistas e religiosas para mudar a maneira como vivemos, em tradução literal).

Kellyanne soube sempre como se destacar e começou a carreira concentrando esforços contra os Clinton e contra a sua administração, fazendo-o em comentários televisivos. Contas feitas, a assessora conta com mais de 1200 participações na televisão norte-americana como comentadora.

O que defende: do aborto à imigração

Publicamente anti-aborto, Conway disse sempre respeitar as opções feitas pelas mulheres. E se hoje é conselheira de um presidente que é contra a imigração, com Trump a decidir construir um muro para fazer a fronteira com o México e a aprovar diplomas para barrar a entrada de pessoas vindas de sete países islâmico, certo é que nem sempre terá pugnado neste sentido.

Em 2014, e de acordo com o canal norte-americano CNN, Conway procurou persuadir os republicanos a serem mais compreensivos para com as políticas restritivas de imigração e para com o estatuto legal dos trabalhadores que estavam ilegais no país. Chegou a escrever um memorando para grupo pro-imigração FWD.us, apelando aos benefícios que decorriam da criação de caminhos para a legalização de 11 milhões de imigrantes ilegais em território norte-americano.

Imagem de destaque: Joshua Roberts/Reuters