Kobi Levi, o sapateiro de Lady Gaga e Whoopi Goldeberg

Já calçou Lady Gaga, Fergie, tem criações suas na vasta coleção de sapatos da atriz Whoopi Goldberg e agora Kobi Levi, 41 anos, sonha trabalhar com Madonna. Este sapateiro israelita até já tem uma coleção pensada e desenhada para ela. Talvez se encontrem em Portugal.

Mas enquanto tal não acontece, Levi fala em exclusivo ao Delas.pt sobre as suas criações – chaleiras, lápis, fisgas, bananas ou gatos em forma de sapatos que pode ver na galeria acima – e em vésperas de arrancar a sua primeira exposição em território nacional, marcada para sábado, 14 de outubro, no Museu do Calçado, em São João da Madeira.

Este sábado, 14 de outubro, foi inaugurada a exposição em que mostra o seu trabalho em Portugal. Mas ela já passou por outros territórios. Que reações recebeu?

Sim, Já esteve em vários locais, incluindo Northampton, no Reino Unido, na Holanda, e na Flórida, nos Estados Unidos da América. Em cada uma, foram adicionadas novas peças, algumas vão ser reveladas em primeira mão aqui, em São João de Madeira. As reações foram absolutamente fantásticas, quer da parte de pessoas que viram os já tinham visto antes os sapatos em imagens, quer por parte das que os estavam a ver pela primeira vez. O público parece ficar fascinado com o trabalho manual, o toque, a sensação e por tentar experimentar os sapatos. Por alguma razão, algumas pessoas pensam que não são reais, nem usáveis e ficam divertidas por o fazerem.

Como é seu processo de criação? E quanto tempo, em média, necessita para fazer um modelo?

Bem, é uma empreitada louca, emocionante, stressante, feliz e exaustiva, mas, no final, ver o resultado é uma sensação tão boa que estou viciado. Começo com o desenho 2D de vários ângulos e depois, se gosto do que vejo, tento um modelo 3D feito à mão, para testar todas as proporções e as técnicas de como o par real será feito. Quando trabalho em um novo projeto, tal pode demorar até um mês.

Que valores e que tipo de mulher procura através dos seus sapatos? O que pretende que elas sintam cada vez que usam uma criação sua?

Há tantos tipos de mulheres, para quê escolher, certo? Não penso num tipo determinado. A mulher que escolher usar um (ou mais) dos meus projetos, fá-lo-á para representar algo na sua própria vida, algo com o qual se quer relacionar e através do qual se deseja expressar. Assim que o meu design está no pé de alguém, tal deverá refletir a interpretação de quem o usa. Quero que, acima de tudo, a pessoa que o usa se divirta e se sinta bem. Tenho certeza de que os sapatos serão um bom desbloqueador de conversa, e ela saberá isso.

Traz episódios do quotidiano aos seus sapatos. O que quer mostrar com isso?

Sempre quis que a vida diária fosse sempre excitante e divertida, e não só em ocasiões especiais. Quero mostrar a vida de uma maneira nova, mesmo os aspetos mais comuns podem ser incomuns, elementos comuns podem ser lindos e glamorosos, depende do nosso ponto de vista.

Que tipo de situação ou objeto gostaria de adaptar a sapatos, mas que não está a ser fácil. Isto porque li que raramente desiste de uma ideia até a conseguir materializar.

As minhas limitações são tecnológicas, de conhecimento de produção. Os projetos são feitos no meu estúdio, e, desta forma, posso usar várias técnicas para obter o visual que quero, evitando lidar com as limitações que decorrem da fábrica, que geralmente se prendem com quantidades e processo de desenvolvimento. Por outro lado, tenho as limitações das técnicas artesanais. Trato as limitações como desafios e ao resolvê-las acabo por ter mais criatividade para o resultado final.


Conheça a obra de Radevich e que também esteve em exposição em São João da Madeira


Qual foi o momento mais estranho – na vida diária – que se revelou inspirador para si?

Todos os momentos em que concluo algo como: ‘porque é que não vi isto antes?”. Por exemplo, eu estava a escrever algumas notas com um lápis antigo de madeira e revestido a amarela. Entretanto, caiu-me da mão. Quando peguei nele e olhei para a borracha, ocorreu-me que era exatamente como uma ponta de um salto de um stilleto em cores diferentes. E foi assim que nasceu o “The Write Shoe”. Eu já tinha olhado para aquele tipo de lápis milhões de vezes, mas só notei a semelhança muito tempo depois. Ora, isto prova que precisamos realmente de ver o que olhamos. Outra adaptação “estranha” foi a do sapato “Café”. Aqui, a silhueta estava “escondida” numa imagem de café a sair de uma cafeteira de porcelana. Não era algo que se esperaria, e o resultado é seguro e surpreendente.

Todas as vezes que as mulheres pensam sobre a arte nos sapatos, também pensam sobre o conforto. Quais são as suas preocupações neste aspeto? É possível ter arte e conforto nos pés de uma mulher. Ou devemos escolher entre um ou outro?

Cada produto tem que considerar ambos os aspetos. Mas tudo surge de acordo com uma certa ordem, e o que é o mais importante? Qual é a razão dessa criação para existir? Por exemplo, porque é que adoramos chocolate? Porque é saudável ou saboroso? Todos vamos comê-lo, mesmo sabendo que o ingerimos pela sensação e não pelo valor nutricional. O mesmo se passa com os sapatos de salto alto: Eles têm de, primeiro, ficar lindos e proporcionar uma incrível silhueta e elegância a quem os calça. Depois, devem ser confortáveis, ​​tratando-se de uns sapatos daquela natureza, afastando a dor ou o dano. Diria que tudo é importante no equilíbrio correto para cada tipo de produto.

Trabalhou com Lady Gaga ou Fergie? Em que é que elas diferem?

Fiquei tão feliz e orgulhoso de ver meu trabalho como parte do “mundo de Gaga” no vídeo Born this Way e no fantástico videoclip da Fergie, M.I.L.F. $. Elas são muito diferentes, cada uma tem seu próprio estilo de música, aparência e performance. A singularidade é uma grande parte do sucesso.

Com que mulheres e celebridades gostaria de trabalhar? E porque?

Adoro colaborar com pessoas criativas e celebridades. Os artistas criativos são ótimos para mostrar os projetos nas suas próprias criações. Adoraria ver a Madonna usar as minhas criações. Até tenho um design inspirado por ela no look “Ambição Louca, dos anos 90. Vejo-a como uma das maiores artistas e seria uma honra ver a minha inspiração usar o meu design.

A atriz Whoopi Goldberg tem alguns os e seus modelos. Ela procura algo em particular?

Whoopi é muito especial, ela é uma grande personalidade e uma atriz incrível, e também uma pessoa que adora sapatos! Ela é louca por calçado original e tem uma enorme coleção no seu guarda-roupa. Whoopi é muito brincalhona com suas escolhas e gosta de usar o que nunca viu antes – e isso é o melhor que pode acontecer a um designer, certo? Ela descobriu-me pouco tempo antes de abrir o meu estúdio e procurou conhecer o meu trabalho. Foi gratificante a surpresa, bem como ter sido recebido no seu programa The View.

As celebridades americanas estão mais abertas ao tipo de trabalho que o Kobi desenvolve? E a Europa, a Ásia? ou outro? Porquê?

As celebridades de vários países estão abertas para isso, mas suponho que as americanas talvez sejam mais internacionais, e talvez seja por isso que acabamos por ter essa ideia. Recebi pedidos de celebridades na Europa e na Ásia também…

Alguma portuguesa? E é irresistível perguntar: quem?

As encomendas chegam de todos os lugares… Obviamente, não posso dizer quem pediu sapatos a menos que elas decidissem partilhar essa informação.

A indústria portuguesa do calçado apresenta-se como reconhecida além-fronteiras. Que opinião tem sobre ela?

Sim! Estive um pouco envolvido no setor de calçado em Portugal, desenvolvi alguns protótipos. Conheci várias pessoas e fábricas e fiquei muito impressionado! Primeiro, vi que são muito profissionais; depois, há uma grande variedade de tipos de sapato produzidos aqui, o que é muito impressionante! Espero ter a oportunidade de trabalhar em Portugal novamente. Aliás, convidei todas as pessoas que conheço no Porto para vir à exposição. As pessoas que sabem fazer os sapatos, que gostam do trabalho que desenvolveu em estúdio e que conhecem os desafios que enfrento ao fazer essas criações de calçados.

Confiaria um qualquer modelo seu – feito à mão – em Portugal?

Sim, claro, consigo ver o meu trabalho ser feito aqui. Vi artesãos apaixonados em muitos lugares e também em Portugal. Conheci um excelente técnico de saltos que se vê à distância que ama o que faz. Além disso, também vi diferentes fábricas com produtos de grande qualidade.

Quando decidiu que transportar a arte para o calçado seria uma forma de vida?

Simplesmente aconteceu. Após terminar a faculdade [em Israel], trabalhei para empresas de calçado comerciais, tanto local quanto internacionalmente, mas continuei sempre a criar e a desenvolver a minha arte, no meu estúdio e apenas para mim. Durante anos, foi assim. Mas quando coloquei as imagens num blog simples, e com o intuito de partilhar os trabalhos com os meus amigos, tudo isto ganhou vida própria. Esta exposição global e a procura levaram-me a abrir um estúdio, uma loja online e estou a fazer exposições que estão a ter lugar um pouco por todo o mundo. Estou maravilhado e agradecido. Sempre.

Que objetivos tem para este mercado: continuar a fazer “esculturas”? Alcançar o patamar máximo como artista? Procurar algum tipo de comercialização de massa de seus sapatos exclusivos? Pensar em aumentos da coleção? Ou outro?

O meu trabalho é fruto de uma combinação de arte, design e moda. Crio novos estilos, não respondo a sazonalidade, as criações são peças intemporais. Pode seguir diferentes direções porque não segue os caminhos tradicionais. Os sapatos são criados para usar e/ou mostrar, para serem parte integrante de sessões fotográficas. São exibidos em museus, galerias, bem como em shopping centers, boutiques e espaços expositivos universitários. Gostaria que a criatividade e diversão fizessem parte dos vários aspetos da vida, e não ficassem apenas uma bolha

Imagem de destaque: DR