A série espanhola La casa de Papel anda nas bocas do mundo. A história de um grupo de assaltantes que se barrica na Casa da Moeda espanhola está a deixar milhares de pessoas coladas à televisão. No meio de tiros, estratégia de negociação e jogos psicológicos há um diálogo sobre violência doméstica que todas as mulheres, e homens, deviam ver.
Raquel é inspetora da polícia espanhola, responsável pelas negociações para resgatar os reféns da Casa da Moeda. É uma mulher no mundo de homens e, em quase todos os episódios, é recordada disso por um agente dos serviços secretos, que faz constantemente piadas misóginas. Apesar de ser uma mulher forte e bem-sucedida profissionalmente, Raquel foi vítima de violência doméstica e denunciou o marido apesar de não ter provas concretas. É no quarto episódio da série que a inspetora fala sobre esse assunto e o que diz retrata a realidade de mulheres em todo o mundo.
Quando o interlocutor, Salva, se mostra surpreendido por uma mulher forte como Raquel ter sido agredida pelo marido, a resposta é clara e pertinente. “ A realidade é que não começa com uma bofetada. Se assim fosse ninguém estaria com um homem violento. É o contrário. Apaixonamo-nos por um homem encantador e inteligente, que nos faz sentir o centro do universo. E quando ele nos pede que troque a nossa foto de perfil por uma da nossa filha, achamos fofo. E quando te diz que é melhor não ires trabalhar de minissaia, pensamos: ‘sou uma mulher a trabalhar num mundo de homens. Na realidade, ele está a proteger-me’. Até que, um dia, ele grita connosco. É como descer escadas lentamente. É como nos filmes de terror, quando alguém desce à cave e todos pensam: ‘não vás lá’, mas vais na mesma. Foi nessa altura que me deu a minha primeira bofetada. E depois a segunda e a terceira, e no final divorciei-me”.
Quando questiona porque é que não apresentou a denúncia antes, a personagem interpretada por Itzia r Ituño, respondeu: “Eu só queria nunca mais o ver. Acho que… fiquei com vergonha de me sentar a frente do meu chefe e contar-lhe um ano e meio de humilhações e agressões. Tenho uma [arma] HK de 9mm no porta-luvas do carro, mas na verdade não sei cuidar de mim própria. Mas o verdadeiro problema chegou uns meses depois porque a minha irmã se apaixonou por ele. Começaram a sair e viajar e aí denunciei-o, tarde e sem provas, porque não queria que a minha irmã se metesse naquele inferno. Mas claro, que a única coisa que consegui foi parecer uma maluca ciumenta a fazer acusações falsas”.
Este diálogo retrata uma realidade que é transversal ao mundo inteiro. Em 2017, Portugal morreram 18 mulheres às mãos do marido e o estudo mais recente sobre a violência no namoro revelou que mais de metade dos jovens portugueses considera normal um comportamento violento dentro de uma relação.
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