“La Meloni” numa Itália de homens

Luigi, Matteo, Silvio, outro Matteo, Pietro, Sergio. Os nomes dos principais políticos italianos não enganam: homens. Mas há exceções. A veterana Emma Bonino continua a lutar pelos ideais que fizeram dela um ícone feminista quando conseguiu o direito ao aborto em Itália há 40 anos, agora com o seu +Europa. E depois há Giorgia. Giorgia Meloni tem 41 anos, há dez tornou-se na mais jovem ministra de Itália num governo de Berlusconi e agora juntou-se ao líder do Força Itália e à Liga Norte na coligação de direita que ganhou as eleições de 4 de março em Itália.

Na política desde os 15 anos, “La Meloni” como lhe chamam os media italianos, não tem medo de assumir as suas posições de extrema-direita. E segue a tradição de mulheres nesta área em Itália, basta pensar que a neta de Mussolini, Alessandra, também começou a carreira política no Movimento Social Italiano (MSI, neofascista), fundou a Ação Social e é eurodeputada desde 2014 pelo Força Itália.

Cofundadora do partido Irmãos de Itália, aos que lhe chamam fascista Meloni responde que isso já passou há muito tempo. É verdade que não esconde as posições contra os imigrantes: defende, por exemplo, que os filhos de estrangeiros nascidos em Itália não devem ter nacionalidade, culpou o excesso de estrangeiros na Liga italiana pelo afastamento de Itália do Mundial de Futebol e quando um militante de extrema-direita disparou contra um grupo de nigerianos durante a campanha apelou a uma imigração mais regulada.

Ideias que chocam vistas de Portugal, mas que numa Itália que chega a receber mil migrantes por dia, e com uma esquerda em crise incapaz de dar respostas aos problemas, encontraram eco. Sobretudo nas zonas do centro e do sul mais pobre.

Empenhada em dar uma imagem mais suave aos Irmãos de Itália, Meloni tem apostado na defesa da família como tema principal. Apoiada no slogan “Itália primeiro” e opositora ao casamento gay, esta mulher nascida em Roma mas com pais da Sardenha e da Sicília defende políticas de apoio à maternidade e incentivos para as famílias terem mais filhos.

Muitos em Itália ainda se lembram de uma Meloni muito grávida da única filha quando fez campanha em 2016 para a presidência da Câmara de Roma e a ter de lidar com as críticas de Berlusconi que não considerava o cargo compatível com a maternidade. E quando na campanha para estas últimas legislativas o líder do Força Itália e Matteo Salvini da Liga mantiveram um discurso machista, Meloni pediu aos parceiros de coligação para “não agirem como crianças”.

Jovem, com uma imagem que leva alguns a compará-la a Meg Ryan nos seus tempos áureos, Meloni ficou-se nestas eleições por um resultado abaixo dos 5% mas se isso significa que a sua ambição de vir a ser a primeira mulher primeira ministra de Itália fica adiada, garante-lhe um papel na Itália do futuro. E uma voz feminina, mesmo que não concordemos com muito do que diz, é sempre positiva num país onde as festas bunga bunga de Berlusconi eram a normalidade ainda não há assim tanto tempo.