A cineasta portuguesa Laura Carreira foi premiada com a Concha de Prata de melhor realização, no Festival de Cinema de San Sebastian, Espanha. No papel principal está Joana Santos, que já elogiou a diretora premiada pela longa-metragem de estreia, On Falling, ex-aequo com Pedro Martín-Calero, por El llanto.
“Obrigada, obrigada, obrigada por me teres escolhido para entrar nesta aventura contigo, tenho uma imensa admiração por ti, pelo teu percurso, pela tua luta e pela tua garra, sabes o que queres e sabes contá-lo minuciosamente”, elogiou a atriz. Joana Santos diz-se “feliz e a explodir de orgulho”.
On Falling recebeu igualmente uma menção honrosa no prémio Otra Mirada‘, atribuído pela RTVE, televisão pública espanhola, conforme o palmarés anunciado, no encerramento da 72.ª edição do Festival de San Sebastián.
A Concha de Ouro de melhor filme foi para o espanhol Albert Serra, pelo documentário Tardes de soledad, que também tem coprodução portuguesa através da Rosa Filmes.
On Falling é a primeira longa-metragem de Laura Carreira, depois de ter dirigido as ‘curtas’ “Red Hill” (2918) e “The Shift” (2020). Em todos os filmes, Laura Carreira explora questões ligadas ao trabalho e à precariedade.
Em On Falling (“Sobre o cair”, em tradução livre), a figura central é Aurora, uma jovem mulher portuguesa emigrada na Escócia, que trabalha num armazém e se depara com dificuldades em subsistir mensalmente e em socializar, numa casa partilhada com outros imigrantes.
Laura Carreira “trespassa a alma do espectador” com o drama de Aurora, escreve a crítica espanhola.
Protagonizado pela atriz Joana Santos, “On Falling” teve estreia mundial este mês no Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, e fez parte da competição oficial em San Sebastian.
“On Falling” tem produção da portuguesa BRO Cinema, em coprodução com o Reino Unido, através da Sixteen Films, cofundada pelo realizador Ken Loach.
Laura Carreira, que nasceu no Porto em 1994, rumou em 2012 à Escócia para estudar Cinema, coincidindo com a crise económica que assolou Portugal, e é no Reino Unido que ainda vive e trabalha.
Em entrevista à agência Lusa, em 2020, quando mostrou “The Shift” no festival de Veneza, Laura Carreira contou que queria continuar a explorar temas que, no seu entender, são pouco abordados no cinema, relacionados com pobreza, trabalho, perda de direitos, precariedade, mas sempre pela ficção.
O realizador espanhol Pedro Martín-Calero, distinguido ex-aequo com Laura Carreira, também tem em “El Llanto” a sua primeira longa-metragem. O diário El País apresenta este filme como um drama que “submerge no terror do patriarcado”, “uma dor que ultrapassa fronteiras e se perpetua no tempo e no espaço”, de Buenos Aires a Madrid, dos anos 1990 aos dias de hoje.
“Tardes de soledad”, de Albert Serra, é um documentário centrado no toureiro peruano Andrés Roca Rey, num dia de corrida. O cineasta acompanhou-o durante três anos, em 14 touradas e na morte de 42 touros.
“O resultado não permite perceber se o filme é a favor ou contra as touradas”, escreve a agência Efe. “Mas o som da respiração do touro é ensurdecedor […] e a forma de mostrar a agonia do animal face à euforia do homem ou à exclusão absoluta da mulher […] apenas nos permite vislumbrar ‘o que há'”.
A Concha de Prata para melhor interpretação foi para Patricia López Arnaiz, pelo desempenho em “Los destellos”, da espanhola Pilar Palomero, e o de melhor interpretação secundária para Pierre Lottin, por “Quand vient l’automne”, do francês François Ozon, que também foi distinguido pelo argumento.
A norte-americana Gia Coppola teve o prémio especial do júri por “The Last Showgirl”.
O prémio do público para melhor filme europeu foi para “The Seed of the Sacred Fig”, coprodução franco-alemã do iraniano Mohammad Rasoulof, que em Cannes já vencera o prémio especial do júri e o prémio da federação internacional de críticos de cinema (Fipresci).
O prémio ‘Otra mirada’ da RTVE foi para “All we imagine as light”, da indiana Payal Kapadia.
O júri desta edição do Festival foi composto pelo cineasta Jaione Camborda, que presidiu, a escritora Leila Guerriero, os realizadores Fran Kranz e Ulrich Seidl, e pelos produtores Carole Scotta e Christos Nikou.
com Lusa