As melhores pérolas escritas pelos alunos nos testes de História

Há uma evolução de disparate. Os primeiros são do fim dos anos 80 e os últimos são dos anos 2012 e 2013”, começa por gracejar Luís Gaivão numa conversa ao telefone com o Delas.pt.

Tendo sido professor de História do segundo ciclo – 5º e 6º anos –, o docente, de 70 anos, reuniu as gaffes mais curiosas de alunos escritas em testes que corrigiu ao longo de quase três dezenas de anos a dar aulas. Pérolas que estão agora reunidas num livro Best Of intitulado História de Portugal em Disparates, da Guerra & Paz Editores (232 páginas, € 15,50).

Na galeria acima poderá ver 30 frases que nos farão rir, mas também – espera Gaivão – pensar na forma como é aprendida e lecionada a disciplina em Portugal.

De volta ao início e sobre a evolução do disparate… essa nota-se na mistura dos tempos e dos factos históricos. “O que acontece é que os alunos, quanto mais perto do momento presente, mais informações têm através da internet, televisões e comunicação em geral. Isso leva-os, por um lado, a ter mais informação, mas, por outro, a não saber integrá-la”, vinca. Na verdade, prossegue: “há uma proliferação de dados, mas não há o fio condutor.

“Há um disparate de género”

Em matéria de volume de asneiras, “deslizes e desatinos” dos alunos, tanto rapazes como raparigas revelam tendências equiparáveis para o equívoco. Estes não são, porém, da mesma natureza. “Se calhar há um disparate de género”, reage o professor reformado. E explica: “A nossa cultura está ainda muito marcada pelas questões de género e nota-se porque as raparigas dão respostas mais românticas, falam mais de namoros e príncipes. Já os rapazes têm raciocínios mais guerreiros e vitoriosos”, repara.

Gaivão crê até que as meninas podem ficar melhor na fotografia da disciplina e a razão é simples: “As raparigas acedem mais cedo à puberdade, antecipam-se um bocado ao raciocínio da História e, daí, até acho que elas podem levar vantagem”, refere o ex-professor, vincando que sempre teve bons e maus alunos de ambos géneros e de todos os estratos sócio-demográficos.

Rir como ferramenta para aprender

Luís Gaivão não esconde que gostava que este seu livro – que resume os disparates de três obras anteriormente publicadas da mesma índole – pudesse chegar, de alguma forma, às salas de aula. “Gostava, mas não era preciso ser na íntegra”, salvaguarda. “Bastariam determinadas passagens ou capítulos da História”.

Aliás, era pela graça e a rir dos erros que eram cometidos nos testes que o professor fazia a correção dos mesmos. “Nas minhas aulas, lia os disparates escritos sem nunca dizer de quem eram. Dessa forma, obrigava a turma a repensar o erro, e era uma maneira de os alunos aprenderem a lição correta, induzi-los à compreensão.” O professor garante que nunca, nenhum dos visados, ficou melindrado. “Os próprios fartavam-se de rir e creio que é um processo de aprendizagem que pode ser bom”.

Para lá das piadas, o livro também é crítico

Numa obra em que os erros – ortográficos, de facto ou de contexto – dos alunos são reis e senhores, o professor não esconde uma ou outra crítica ao sistema de ensino da disciplina, fazendo-o, por exemplo, quando o assunto diz respeito às exaustivas tabelas das dinastias.

Ao Delas.pt, Luís Gaivão aponta outras fragilidades da História que deveriam ser, no seu entender, repensadas: “Tenho um olhar crítico sobre o ensino da disciplina, os programas de História mantêm-se ainda com graves lacunas, porque são elaborados por pessoas e entidades que normalmente estão afastadas da prática letiva“, analisa.

De forma mais contundente, o professor reformado lembra que se tratam de profissionais que “há muitos anos que não dão aulas, não percebem a realidade e fazem programas compridos, desadequados e inadaptados à idade mental e de desenvolvimento das crianças”.

E deixa uma pergunta no ar: “Como é que um aluno da quarta classe pode, em menos de um ano, dar matéria que vai desde a Pré-História ao 25 de Abril? É que o professor também acaba por ficar frustrado por não conseguir ensinar nada, nem aliciar para a aprendizagem”, sublinha.

Imagem de destaque: Shutterstock

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